Nelson D'Arrigo, candidato do Patriota, foi o sexto candidato a ser ouvido pela Rádio Gaúcha Serra dentro da série de entrevistas com os postulantes ao cargo de prefeito de Caxias do Sul. Em 20 minutos, o empresário respondeu perguntas sobre pandemia, fusão e extinção de secretarias e seleção de cargos em comissão para um eventual governo. Também falou sobre planos para a saúde e para a Maesa.
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A entrevista foi ao ar durante o programa Gaúcha Atualidade na manhã desta segunda-feira (2) e foi conduzida pelos jornalistas Tales Armiliato e Babiana Mugnol. Confira:
Pandemia de coronavírus: como o senhor vai gerir essa situação na cidade?
Por ter sido contaminado pela covid, entendo que quem for contaminado precisa ser tratado e não ficar em casa. Se você tiver qualquer sintoma, vá ao hospital, e é isso que vamos fazer se formos eleitos. Comprar os kits que são necessários para o tratamento e tratar todos. Não temos outra maneira de fazer. O Brasil precisa voltar a trabalhar, não tem mais essa de ficar em casa esperar piorar para, no momento inoportuno, necessitar de entubação, oxigênio, UTI, tratamentos muito mais caros e que está levando muita gente a óbito. Essa é a nossa maneira de pensar.
O senhor é empresário e está disputando pela primeira vez uma eleição. Por que a decisão de ingressar na vida pública? A experiência política não vai fazer falta? O que o senhor valoriza nos partidos?
Política é uma coisa que nós sempre fizemos, no lado empresarial também, porém era uma política associativa, não partidária. O que está acontecendo é que todos nós cansamos e eu também. Cansei de ver a minha cidade suja, a minha cidade triste, cansei de ver a política tratar os assuntos da nossa cidade com desleixo, com conchavo. Tudo o que acontece, acontece em virtude de uma visão política de futuro. "Eu vou fazer tudo aquilo que seja politicamente correto, independente da necessidade da cidade em virtude do meu futuro político. Eu quero ser deputado, eu quero ser senador, eu quero ser, eu quero ser. Então, se planta hoje para colher amanhã." Como não tenho vida política, não tenho ambição política, o meu objetivo é ser prefeito. Não serei candidato a nada no futuro e mesmo se não for eleito, não pretendo concorrer a mais nada. Tenho, sim, visão de administração, sou administrador, sempre trabalhei na iniciativa privada, por isso que a gente pensa, sim, em fazer alguma coisa melhor para a nossa cidade.
O que o senhor pensa em relação a servidores e CCs? Como fará a seleção?
Normal, como se faz na privada. A mesma coisa, com exceção que o funcionário público tem estabilidade. O que a gente precisa é avaliá-los e recuperá-los. Tem muita gente boa na administração pública. Eu, particularmente, conheço muitos funcionários públicos que também se revoltam com essa condição de serem os bandidos da vez. E isso faz com que eles ajam e pensem diferente. Muitos também querem ser resgatados e muitos querem ser retreinados. Vamos fazer aquilo que fazemos todos os dias na administração privada. A gente lida com pessoas, e o que significa ir para a administração pública? Lidar com pessoas, administrar pessoas, colocá-las nos devidos locais, buscar a satisfação de todo mundo, principalmente daqueles que são obrigados a usar os serviços da prefeitura. Ninguém vai na sua empresa de graça, vai porque gosta, mas na prefeitura todo mundo vai porque é obrigado e, além de obrigado, é maltratado, é desprezado, entra numa fila monstra, não é atendido com o respeito de quem é o mantenedor disso tudo. A gente precisa conciliar tudo isso, fazer com que as coisas aconteçam, que os funcionários públicos também tenham orgulho de estar onde estão.
Sobre os CCs, seu plano de governo diz que eles serão avaliados com critérios técnicos. Essa seleção se dará com currículo ou coisa parecida, como fez o ex-prefeito Daniel Guerra, por exemplo?
Com uma grande diferença: antes de qualquer coisa, a pessoa precisa conhecer Caxias. Não adianta trazer um cara da Bahia, de Cachoeirinha, que não conhece Caxias do Sul para ser secretário ou fazer algum serviço aqui. Em primeiro lugar, ele tem que conhecer a cidade, tem que saber com quem está lidando. Ele tem que saber quem são as pessoas, quem são as entidades, para que não haja aquilo que aconteceu. Antes de entrar na prefeitura e reivindicar alguma coisa, eu cansei de ouvir que não se fazia conchavos. Não se recebia empresários querendo investir em Caxias do Sul porque ele estava fazendo leilão. Qual empresário decide por uma cidade ou por um investimento sem antes pesquisar e fazer uma análise profunda de mercado, desde disponibilidade de mão de obra até incentivos fiscais? Em Caxias não aconteceu isso. Acho que as pessoas pecam pela boca.
O senhor vai usar currículos também para a seleção?
Currículo não é prioritário. Ele tem que mostrar o conhecimento que a pessoa tem. De que vale um currículo dizendo que sou MBA em gestão pública, se o que eu estou precisando é de uma pessoa de saúde?
Em seu plano de governo, o senhor destaca que irá viabilizar a instalação de mais três UPAs. A ideia é construir, equipar e colocar em funcionamento em quatro anos, e como pretende obter recursos?
Antes de qualquer coisa, a gente precisa olhar muito bem as contas da prefeitura. E eu não admito que uma prefeitura como a de Caxias do Sul, que tem um orçamento de R$ 2,4 bilhões, tenha que mendigar para poder tratar da sua saúde. Não acredito nisso. Entendo, sim, que temos orçamento para isso. Quando peguei o balanço da prefeitura no dia 31 de dezembro de 2019, no caixa da prefeitura, tinha uma conta lá escrita "ativo circulante: R$ 1,1 bilhão". O que significa isso? Que no ano de 2019 sobrou no caixa e na conta-bancos, ou seja, caixa e banco, dinheiro disponível no caixa da prefeitura R$ 1,1 bilhão. Será que dá para construir UPAs com isso? Eu entendo que sim. Onde foi parar esse dinheiro? Acho que tem gente que tem que dar explicação, inclusive, aqueles que estavam com esse R$ 1,1 bilhão no caixa, e que as pessoas não olham.
Quanto às UPAs, muitas vezes não é a construção em si, mas o valor gasto para a manutenção. Em algumas cidades do Estado, temos UPAs paradas.
Mas é isso que acontece, os prefeito estão preocupados com a sua reeleição ou com o seu futuro político. Constrói a UPA sem condições, é a mesma coisa do nosso Hospital Geral. Atende 49 municípios da Serra, mas ninguém paga o término da obra do Hospital Geral. É Caxias do Sul que tem que se mobilizar e sair correndo atrás de recursos, ir a Brasília, Brasília já destinou R$ 17 milhões em equipamentos, mas os municípios daqui não fazem nada. Está na hora de acabar isso.
O senhor, por exemplo, é totalmente contrário a uma gestão compartilhada com a iniciativa privada nas UPAs?
Não, eu sou de estudar isso e fazer o melhor. Aquilo que for o melhor para a cidade, será feito. Eu entendo, neste momento, pelo conhecimento que tenho, que a saúde pode ser administrada pelo município, porém, eu sou um administrador, eu sempre trabalhei com isso na iniciativa privada. Eu tenho sempre que estudar qual a melhor condição para o município. O que é mais barato, o que é mais em conta, o que se operacionaliza mais rápido e, principalmente, esse trabalho de mais UPAs, não é mais UPAs. É descentralização das UPAs. É levar as UPAs para o interior. Isso precisa ser levado em consideração. Não é com uma UPA central que nós vamos resolver. Hoje, uma pessoa em Vila Seca que fica doente, o Samu demora quatro horas para atender. Dependendo do que teve, se teve um enfarte, em quatro horas está morto. O que a gente precisa é interiorizar o Samu, interiorizar as UPAs. Levar mais saúde para o interior. O centro da cidade está muito bem suprido.
No seu plano de governo, o senhor diz que tem o objetivo de tornar Caxias a cidade mais segura do Brasil em comparação com cidades do mesmo porte. Para isso, tem uma lista de medidas, como implementar controle de cercamento eletrônico em 100% do município. É possível fazer tudo isso, e como?
É possível, e eu nem preciso me preocupar com recurso. Esse recurso hoje já está disponível na esfera federal. Nós temos uma assessoria muito boa, que está nos ajudando a montar o plano de segurança de Caxias, que é com o deputado (estadual) tenente-coronel Zucco e o comandante (Alexandre Augusto) Aragon, dois parceiros que estão nos apoiando nessa campanha, buscando e visando melhorar e aprofundar todo o conhecimento tecnológico, principalmente no que diz respeito à identificação facial de crianças desaparecidas, monitoramento de veículos suspeitos. Isso tudo tem tecnologia disponível no mundo, é só trazer. Tem tecnologia no Brasil, eu não preciso inventar nada, já tem pronto. O que a gente precisa é disponibilizar recursos e, se Caxias não tiver recursos, a gente vai buscar na esfera federal.
Qual seu plano de governo para cultura, educação, esporte e lazer? Existe a possibilidade de integração de secretarias?
Existe, mas é uma coisa que precisa ser muito bem pensada. O que a gente pensa é uma coisa, o que a comunidade quer é outra. Esse é um assunto que vamos discutir muito com a sociedade. Nós entendemos que são áreas correlatas, que não precisam ter uma estrutura de secretaria. Ela pode ter uma estrutura de diretoria. A gente pensa em diminuir a quantidade de secretarias, porque, diminuindo, são secretários a menos, são secretários dos secretários a menos, e isso reduz, aproximadamente, em cada secretaria tu tem sete níveis de comando que precisam ser contemplados. A partir do momento em que tu contempla isso, diminui a necessidade de pessoas, e não só as pessoas, mas os custos das pastas. Mas entendo que cultura precisa ser muito incentivada. Lazer também. Caxias só pensa em trabalhar. A gente precisa pensar um pouco nessa gurizada que sai de Caxias para buscar diversão e muitas vezes não volta. A gente precisa trabalhar com muito carinho em relação a isso, falar com o pessoal da cultura. Nós temos ótimas ideias em relação à turma da cultura para reempregá-los. Acredito que foram um dos mais atingidos pela pandemia. Acredito não, foram, porque muitos ainda não voltaram. Nós temos que incentivar os nossos músicos. Temos um plano de incentivos fiscais para bares e restaurantes que tiverem música ao vivo, eventos ao vivo para poder acelerar o reemprego dessas pessoas que hoje estão paradas.
Quais secretarias poderiam ser reformuladas ou extintas?
Eu não pretendo mexer antes da eleição, mas depois da eleição, sim, vamos anunciar, inclusive alguns potenciais secretários que já estão trabalhando conosco. A gente não precisa antecipar coisas que não somem. Tem muita gente que, quando a gente diz: "vou unir Educação e Cultura", estou dando um exemplo. "Ah, mas não pode, porque cultura não tem nada a ver com educação." Tá, mas talvez tenha a ver com lazer. "Não, não pode porque lazer não tem nada a ver. Esporte também não tem nada a ver." Então, quer dizer, nada tem a ver. O que a gente precisa, sim, é anunciar que a gente pretende ter 12 secretarias, no máximo, podendo chegar, dependendo dessas conversas, a 14. Mas pretendemos reduzir das 18, 19 que são hoje, se não me engano, para 12 ou 14. Vamos juntar Finanças, Receita. Nós queremos fazer uma Secretaria de Administração, juntando toda a parte de finanças com arrecadação, é tudo a mesma coisa, tudo lida com dinheiro. Por que tem três secretarias hoje?
Qual o uso o senhor pensa para a Maesa e, com relação a novas UPAs, o senhor vai construir prédios, vai reformar, vai olhar estruturas existentes?
Maesa é uma coisa que não tenho definida. Já existe até um plano diretor que preciso avaliar se é viável e se pode ser modificado. Eu entendo que não necessariamente a Maesa precisa ser um projeto de cultura. São 53 mil metros quadrados. Se pensa em levar um mercado público para lá. Eu não concordo. Penso que um mercado público tem gente de iniciativa privada, tem muita coisa para a gente avaliar. Nós poderíamos fazer um belo projeto e levar a prefeitura para lá. Hoje a prefeitura gasta entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão, os números ainda não consegui todos, de aluguel nas secretarias que estão fora da prefeitura. O que poderia, sim, era reformar a Maesa, levar a prefeitura para lá. Isso, nós estamos falando no campo das ideias, não tem nada definido. E transformar a atual prefeitura, que está na frente de uma bela de uma praça, no meio de um parque maravilhoso, em um centro cultural à altura de Caxias do Sul. Porém, essa é uma questão que precisa ser muito bem avaliada. Não é no primeiro ano que vai se tomar essa decisão. Mas em quatro anos é possível fazer. Onde vamos buscar recurso? Onde ele estiver. E uma prefeitura que tem R$ 2,4 bilhões de orçamento não pode se preocupar única e exclusivamente em gastar esse valor em folha de pagamento.
E os prédios para a área da saúde?
Eles poderão ser alugados, construídos, depende única e exclusivamente da posição de caixa da prefeitura e daquilo que a gente pretende. Eu tenho certeza que um plano de interiorização da saúde, interiorização da segurança, interiorização da educação, com certeza a gente terá recurso disponível na esfera federal para fazer tudo isso.
Ouça a entrevista: