Mobilização é a palavra chave para descrever a forma como as prefeituras buscaram unir propósitos para o enfrentamento da pandemia. Dilemas postos à mesa, foram encarados em conjunto, porque o momento é delicado. Essa é a análise de todos os presidentes das associações de municípios da região entrevistados para esta reportagem. Por diversas vezes, principalmente a cada nova rodada da definição das bandeiras no Modelo de Distanciamento Controlado, adotado pelo governo do Estado, evidenciou-se a participação e o envolvimento de entidades como a Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne).
— O que nos mobilizou foi a necessidade de toda a região para encontrar melhores ações no enfrentamento da pandemia. Demonstramos que o discurso, de alguns, que dizem ser do contra, está ultrapassado. É mais cômodo bater no governador. Mas a nossa região, além de contestar o que não estava bom, iniciou um movimento fundamental de união contra a covid. A partir disso, conseguimos mobilizar as entidades empresariais, as prefeituras, universidades e hospitais da região para enfrentarmos isso juntos — explica José Carlos Breda, presidente da Amesne e prefeito de Cotiporã.
A partir dessa união, Breda acredita que os prefeitos da região estão mais sensibilizados a duelar pelas mesmas causas, porque têm percebido os frutos das conquistas durante a pandemia.
— Claro que a boa experiência com a mobilização pelas novas regras do Distanciamento Controlado podem nos ajudar a solucionar outras demandas. Ainda na área da saúde, estamos trabalhando na ampliação do Hospital Geral, em Caxias. Outras ainda voltadas à infraestrutura dizem respeito aos estudos para a concessão das estradas da região, o Porto de Arroio do Sal e o Aeroporto de Vila Oliva. Estes são temas que são de interesses de todos, não apenas de um município — justifica Breda.
A unidade de ações, conquistada neste momento delicado, que exige ainda tomadas de decisão, por vezes ousadas ou conservadoras, traz uma outra lição, revelada por Schamberlaen José Silvestre, prefeito de Cambará do Sul e presidente da Associação dos Municípios de Turismo da Serra (Amserra).
— Não há mais espaço para trabalharmos isoladamente. E eu acho que a nossa associação está bem alinhada. No início da pandemia tivemos alguns desencontros nos primeiros decretos municipais, mas, logo ali na frente, sentamos, dialogamos e, apesar da nossa diversidade de opiniões, conseguimos alinhar os decretos e ações.
Da mesma forma que a Amesne, que luta por investimentos concretos na infraestrutura na região que circunda Caxias do Sul, a Amserra busca ampliar as alternativas para aprimorar ainda mais o turismo no entorno das cidades da região das Hortênsias e arredores.
— Sempre defendi que as ações regionais, lógico, sempre preservando a questão local, são as mais produtivas e atendem a mais pessoas. Nossas demandas, além das consequências da pandemia, são as concessões dos parques, a reativação do trem regional e o aeroporto de Canela, se não trabalharmos pensando na região, não iremos avançar — avalia Silvestre.
A perspectiva de avanço, sustentam os presidentes, reside em respeitar o localismo, mas projetar a região como um todo. Carlos Alberto Fink, prefeito de Harmonia e presidente da Associação dos Municípios do Vale do Rio Caí (Amvarc) entende que é urgente deixar ações individualistas de lado e priorizar a regionalização.
— Na verdade, eu acho que ainda falta um pouco mais de participação dos próprios prefeitos. A nossa região ainda é muito individualista. Se estivermos mais organizados em grupo é mais fácil de avançarmos em causas que são regionais, do que se lutarmos de forma individual. É por isso que eu acredito que a associação é muito importante. O mesmo problema que tenho no município, na saúde, no saneamento básico, ou com o lixo domestico, é também o mesmo no Estado inteiro. E quem discute isso a nível regional? Temos de priorizar a regionalização.
Apesar de avanços significativos, as entidades ainda sofrem críticas que desmerecem as associações. Essa é a ponderação de Ailton de Sá Rosa, prefeito de Esmeralda e presidente da Associação dos Municípios dos Campos de Cima da Serra (Amucser).
— Gostaria que a população e, parte do setor público, tirasse da cabeça o pensamento de que as associações existem apenas para os prefeitos se reunirem para tomar café. As pessoas deveriam analisar melhor para saber o tipo de trabalho que estamos fazendo, porque, para mim, é um papel indiscutível a mobilização pelas causas regionais.
Ailton diz que as consequências de 2020 ainda serão sentidas nos próximos anos e, por isso, defende que as associações possam focar em ações não apenas para o enfrentamento de crises, mas para o planejamento de alternativas futuras.
— Temos ainda grandes desafios pela frente. Além da pandemia, que ainda está aí, temos a questão da estiagem, que é mais um desafio econômico para os novos gestores para o ano que vem. Este ano foi curto em finanças e deverá ser ainda mais em 2021.
CONHEÇA AS ENTIDADES
AMESNE
Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne), fundada em 3 de junho de 1966, com sede em Bento Gonçalves, contempla 36 municípios: André da Rocha, Antônio Prado, Bento Gonçalves, Boa Vista do Sul, Carlos Barbosa, Casca, Caxias do Sul, Coronel Pilar, Cotiporã, Dois Lajeados, Fagundes Varela, Farroupilha, Flores da Cunha, Garibaldi, Guabiju, Guaporé, Marau, Montaury, Monte Belo do Sul, Nova Araçá, Nova Bassano, Nova Pádua, Nova Prata, Nova Roma do Sul, Paraí, Pinto Bandeira, Protásio Alves, Santa Tereza, São Jorge, São Marcos, São Valentim do Sul, Serafina Corrêa, União da Serra, Veranópolis, Vila Flores e Vista Alegre do Prata. O atual presidente é José Carlos Breda, prefeito de Cotiporã.
AMUCSER
A Associação dos Municípios dos Campos de Cima da Serra (Amucser) foi fundada em 05 de novembro de 1993, com sede em Vacaria, congrega 10 municípios: Bom Jesus, Campestre da Serra, Esmeralda, Ipê, Jaquirana, Monte Alegre dos Campos, Muitos Capões, Pinhal da Serra, São José dos Ausentes e Vacaria. O atual presidente é Ailton de Sá Rosa, prefeito de Esmeralda.
AMVARC
Associação dos Municípios do Vale do Rio Caí (Amvarc) fundada em 04 de maio de 1994, com sede em São Sebastião do Caí, contempla 20 municípios: Alto Feliz, Barão, Bom Princípio, Brochier, Capela de Santana, Feliz, Harmonia, Linha Nova, Maratá, Montenegro, Pareci Novo, Portão, Salvador do Sul, São José do Hortêncio, São José do Sul, São Pedro da Serra, São Sebastião do Caí, São Vendelino, Tupandi e Vale Real. O atual presidente é Carlos Alberto Fink, prefeito de Harmonia.
AMSERRA
Associação dos Municípios de Turismo da Serra (Amserra), fundada em 1º de maio de 1996, com sede em Nova Petrópolis, congrega 7 municípios: Cambará do Sul, Canela, Gramado, Nova Petrópolis, Picada Café, Santa Maria do Herval e São Francisco de Paula. O atual presidente é Schamberlaen José Silvestre, prefeito de Cambará.
Fonte: site da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs)
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