Presidente estadual do Republicanos (ex-PRB), o deputado federal Carlos Gomes quer ampliar o número de prefeitos da sigla na eleição do ano que vem. A prefeitura de Caxias, por ser a segunda maior do Estado, é estratégica para o partido, que ainda não definiu se Daniel Guerra irá ou não disputar a reeleição. A decisão será da executiva municipal, mas acompanhada de perto pela direção estadual, diz Gomes.
Nesta entrevista, o deputado aborda não somente as eleições 2020, mas o cenário nacional e como, na visão dele, mudou a forma de trabalho na Câmara Federal com o governo do presidente Jair Bolsonaro. Confira:
Quais são as pretensões do Republicanos para a próxima eleição?
Carlos Gomes: De modo geral, a nível de Estado, a pretensão é ampliar o número de prefeitos e vereadores. Estamos trabalhando para isso.
O partido tem quantas prefeituras no RS?
Cinco. Caxias, Glorinha, Paulo Bento, Carlos Gomes e Ibirubá.
Tem chances de ampliar em quais cidades?
Queremos chegar, pelo menos, a uns 10, 15 prefeitos.
Que cidade tem boa chance de eleger?
Temos condições de fazer uma boa eleição em Campo Bom, Charqueadas, Salvador do Sul, Montenegro. Tem vários municípios com potencial.
O senhor tem algum tipo de participação no Governo Guerra?
Participação em que sentido?
Em sugestões. O senhor se reúne com o prefeito quando ele vai a Brasília atrás de emendas ou de algumas demandas da cidade.
Isso é praxe. Sempre que precisa de alguma coisa em Brasília, sou acionado. Quando precisa tomar alguma decisão que precisa de uma orientação a mais, nos consulta.
Ele lhe procura para pedir opinião sobre o governo?
Sim. Para tomar uma decisão, ele estuda muito bem. E quanto menos tu depender de orientação e tiver consciência de que tem de tomar a decisão, ele toma, que é o caso do prefeito de Caxias. Mas quando precisa, estamos sempre à disposição.
A vitória de Guerra deu esperança de mudança ao eleitor, mas a administração provoca muitas crises. Isso atrapalha o governo?
Do momento em que ele se elegeu até agora, ele se propôs a fazer o que está fazendo, a fazer gestão, uma gestão desvinculada de partidos, de figuras partidárias. Não que isso, na minha opinião, seja problema, desde que sejam pessoas prontas, competentes, qualificadas. Mas acho que temos de respeitar o que a urna disse, que queria uma gestão com a proposta que ele apresentou para Caxias. Tanto que foi uma vitória esmagadora para uma pessoa que estava com dois partidos contra praticamente todos os partidos em Caxias. Penso que a população quis entregar ao prefeito e confiou em cima das propostas que ele fez, de fazer gestão e um corpo administrativo mais técnico do que político, que foi o exemplo que Bolsonaro tomou, o exemplo que Marchezan usou em Porto Alegre e tantos outros que se elegeram com a mesma proposta, de não negar a política, mas trazer o eixo principal de técnico para a gestão.
O prefeito Guerra deve concorrer à reeleição?
Penso que devemos e temos de ter candidatura em Caxias. A avaliação se vai ser o prefeito ou se ele vai apoiar outra pessoa, é do Republicanos Caxias fazer no momento adequado.
O prefeito já conversou com o senhor sobre isso? Ele tem interesse em concorrer?
O que ele diz é que vai trabalhar até o final, entregar as obras que tem de entregar, fazer gestão, até porque eleição tu vai pensar mesmo no ano que vem. Até então, não se sentou para decidir sobre nomes, se vai ou se não vai. Isso ainda será decidido em reunião em Caxias.
O senhor terá participação ou a decisão ficará para o diretório de Caxias?
A decisão é de Caxias, porém, como é uma cidade da importância que tem, evidentemente que nós participamos também.
Qual sua opinião sobre a polarização política do país?
São dois extremos que basicamente se odeiam e se carneiam. Não vejo isso politicamente com bons olhos. Sou mais do bom senso, da construção, de propor. Mas penso que o Governo Bolsonaro, por ser uma pessoa de coragem, alguns passos que estão sendo dados são importantes a nível de reformas que o Brasil precisa, e com a postura que ele tomou nas eleições, também de montar o seu governo independente de nomeação partidária, fez com que a Câmara tivesse um protagonismo que, de repente, ela nunca teve, porque tem essa autonomia. Não deve nada para ninguém, para governo algum, porque, de fato, agora tem de exercer a função de parlamentares. Acho que fora do campo político, do embate, da polarização, tem de pegar pessoas semelhantes, que queiram o bem do país, a geração de emprego e renda e propor. Mas vejo que temos de trabalhar para desarmar aqueles que estão sempre armados.
De que forma se faz isso?
A imprensa tem um papel importante, por exemplo, chamando a atenção para aquilo que de fato merece atenção: reforma tributária, trabalho que tem de ser feito e há anos se falava, tantos governos tentaram mas não puseram em pauta. Acho que temos de nos unir através de pautas que interessem, de fato, ao Brasil e aos brasileiros.
O trabalho na Câmara ficou mais fácil nesse governo?
Eu diria o seguinte, acho que ela tem mais autonomia para propor, para acompanhar, para corrigir, para alterar. Antes, a Câmara estava olhando muito para o governo. Hoje, a Câmara tem muito mais autonomia, porque o presidente também dá essa autonomia. Ele não deve nada a ninguém, não nomeou partido algum. Então, ele coloca o tema lá e a Câmara que se debruce.
O senhor votou a favor da reforma da Previdência. Vai estar ao lado de todos os projetos de Bolsonaro?
Não. Eu me sinto, como nunca antes, independente. E é assim a postura do Republicanos na Câmara. Independente para analisar projeto por projeto e aprovar aquele que de fato ajude o país a gerar emprego e renda e a crescer economicamente.
Qual opinião sobre a possibilidade de recriar a CPMF?
É uma coisa que já nasceu morta. Para ter vida, teria de ter uma razão supramegapower importante, porque pela proposta inicial seria a volta da CPMF, porém sem a finalidade maior. Disseram que era para exonerar os empresários, porém, que segurança tem disso? Nenhuma. O presidente, de pronto, disse que não quer nem ouvir falar.
Como o senhor interpreta a fala do filho do presidente, Carlos Bolsonaro, que disse que “por vias democráticas, não haverá as mudanças rápidas desejadas no país”?
Interpreto o seguinte, que na democracia a gente senta para dialogar, para debater, achar um consenso, o melhor caminho. Acho que é isso que ele quer dizer. Mas o melhor caminho ainda é e será sempre a democracia. Na visão dele, a democracia é muito demorada, muito lenta.