O presidente Jair Bolsonaro (PSL) atravessou julho colecionando declarações polêmicas. Por causa delas, pode-se dizer que o mês foi o mais polêmico entre os mais de 200 dias que totalizam o seu governo. Nesse período, foram pelo menos 15 falas que repercutiram de forma negativa em diferentes segmentos sociais e institucionais, conforme levantamento do Pioneiro.
No que indicava ser um mês mais "apaziguador" em razão da aprovação em 1º turno do texto-base da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, mesmo apoiadores de Bolsonaro criticaram parte dos posicionamentos manifestados em entrevistas, coletivas e redes sociais do presidente.
De contestação de dados sobre desmatamento divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) _ com exoneração anunciada nesta sexta-feira do "responsável" pela abertura das informações _ à defesa da nomeação do filho como embaixador em Nova York, até a negação da existência de fome no Brasil, os pronunciamentos reacenderam o alerta de cautela por parte de defensores do governo e manifestações de repúdio de oposicionistas.
Ainda assim, no dia 31 de julho, Bolsonaro reiterou ao jornal O Globo, que não deve mudar a postura.
— Sou assim mesmo. Não tem estratégia. Se eu estivesse preocupado com 2022 (eleições presidenciais) não dava essas declarações — disse à reportagem quando questionado se as declarações recentes eram planejadas ou resultado de impulsividade.
Das declarações, poucas ganharam retratação, pelo contrário. Nem mesmo aquela considerada com a maior repercussão, direcionada ao presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz, recebeu um revisão autocrítica por parte do Bolsonaro. Na sexta-feira (2), Bolsonaro ressaltou a jornalistas não acreditar ter ofendido a memória de Fernando Santa Cruz, pai de Felipe, considerado desaparecido da ditadura desde 1974, quando declarou:
— Se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele.
Para repercutir a postura de Jair Bolsonaro, especialmente no mês de julho, o Pioneiro ouviu alguns políticos apoiadores do presidente na região.
Daniel Guerra (PRB), prefeito de Caxias do Sul
"O nosso presidente Bolsonaro e o seu governo têm impactado positivamente a nação brasileira com suas atitudes e ações. Quanto às declarações, é muito injusto fazer o julgamento de uma fala do Senhor Presidente da República a partir de partes desta manifestação que são divulgadas pela mídia."
Alceu Barbosa Velho (PDT), ex-prefeito de Caxias
"Vejo com muita preocupação (as declarações). O que ele tem dito é um verdadeiro desatino. Não é normal falar para um filho que sabe como o pai morreu. Não tem nada que justifique uma asneira desse tamanho. Essa de nomear o filho também não existe. Não é porque a lei autoriza, mas por ser antiético esse favorecimento à família. Cada um tem de ter um salário e não pendurar-se em tetas. Inadequado para o cargo que ele tem. Presidente, governador e prefeito têm uma liturgia, uma solenidade, não pode sair dessas condições que são indispensáveis ao cargo. Ele me lembra um personagem do Chico Anysio, a Ofélia, que só abre a boca para dizer bobagem".
Adiló Didomenico (PTB), vereador de Caxias
"Ele ainda não se deu conta da envergadura do cargo que está exercendo. Dá a impressão de que continua ainda como deputado, que era o estilo dele antes. Na condição de mandatário do país, ele tem de adotar uma postura diferente. Tem boa equipe de governo, mas as declarações dele e eventualmente de familiares dele tem atrapalhado muito o governo. Até agora, a equipe tem conseguido contornar, se esforçando. Mas ele precisa ter postura bem diferente do que está tendo, tem criado crises desnecessárias. Tem semelhança muito grande, acho que deve ser da mesma escola do nosso prefeito aqui".
Milton Corlatti, presidente do DEM de Caxias
"Eu acredito que algumas declarações, claro, são pesadas, vai ter que rever algumas delas. Isso é uma coisa lógica. Porém, essas declarações só são dadas quando ele é instigado a isso. Se for ver, todas as declarações ocorrem quando ele é provocado, talvez ele não consiga se conter. Mas isso ele vai ter que mudar, logicamente. Eu diria que o governo está andando superbem, isso que ele falou do pai do presidente da OAB, ele está dando uma resposta à OAB que não deixou quebrar sigilo do telefone dos advogados do cara que queria matar ele. Isso tudo é resposta. Ele vai ter que mudar, ter um pouco mais de sangue frio, aguentar tudo que está sendo provocado e mudar a forma de responder. Acredito que vá acontecer isso. Tudo que ele fala gera debate".
Sandro Fantinel, ex-presidente do PSL de Caxias
"O presidente é bastante impulsivo, fala aquilo que pensa, aquilo que sente e muitas vezes não é o que a população gosta de ouvir. Eu não acredito que vá prejudicar o governo porque quem acredita nele e quem votou nele sabia a forma que ele apresentou a campanha. Nem sempre o que ele fala no momento impulsivo é aquilo que ele pensa. Hoje ele se encontra em situação de extrema pressão, e a imprensa puxa para criar essas polêmicas. O povo elegeu alguém que prometeu ser diferente, agora não tem por que dizer "ah, ele faz isso, faz aquilo", ele disse que ia ser diferente. O que vai importar é o resultado que o governo vai trazer para o país. Temos que esperar até 2022".
Renato Nunes (PR), vereador de Caxias:
"Continuo apoiando (o governo), só que assim como qualquer outra pessoa, qualquer outro governante, ele tem falhas. Uma delas, não sei se pelo fato de ter sido militar, é falar sem pensar nas consequências. É uma crítica que eu faço para o meu candidato. Infelizmente ele fala muita coisa sem necessidade, nem tudo que tu pensa tem de falar. É uma coisa que infelizmente acaba gerando polêmica sem necessidade. De maneira nenhuma me arrependo de ter votado nele, entre os candidatos que estavam ali com certeza ele era o melhor e está fazendo o certo. Problema é que, uma das falhas dele, é que ele fala mesmo, sem pensar, sem necessidade. Fico às vezes meio decepcionado neste ponto. Venceu as eleições, é presidente, tem de focar no trabalho, naquilo que é melhor para o Brasil e não falar coisas que não acrescentam nada".
Guilherme Pasin, prefeito de Bento Gonçalves:
"Considero preocupante algumas manifestações do presidente. Precisamos estar unidos para fazer o país crescer de forma pacífica, ordeira, respeitando as visões daqueles que pensam diferente do que nós. Vejo com preocupação. O Poder Executivo precisa governar para todos, entendendo as diferenças e campos ideológicos. O governo me agrada, as medidas que vêm tomando, principalmente do ponto de vista econômico. O que me causa um pouco de preocupação é que a manifestação pessoal do presidente muitas vezes cria ambiente de insegurança, rivalidade. No momento que se procura criação de uma maioria no Congresso Nacional essas manifestações individuais do senhor presidente podem desagregar um pouco. A tranquilidade neste momento é imperativa. Receio que essas manifestações polêmicas num volume muito grande façam com que ele vá perdendo capital político".