O receio de represálias do Governo Jair Bolsonaro bateu na porta da Universidade de Caxias do Sul (UCS). A principal instituição de ensino superior da Serra tomou decisão substituir uma reportagem por outra na edição de março-abril da Revista da UCS, entre outros motivos, para evitar desavenças ideológicas com o governo federal. No centro do debate político, a instituição tirou do seu site e de suas redes sociais publicações sobre o XXI Fórum de Estudos: Leituras de Paulo Freire, realizado no início de maio, no UCS Teatro. A auto-restrição ocorreu também na revista. A primeira impressão da edição número 29 tinha uma reportagem de quatro páginas sobre o fórum que homenageou Paulo Freire. A revista teve nova impressão com outra reportagem, que apresenta o Parque de Ciência, Tecnologia e Inovação da UCS, em substituição à do educador.
A reportagem apurou que a substituição ocorreu antes de uma agenda do reitor da UCS, Evaldo Kuiava; do procurador jurídico Leo Evandro Figueiredo dos Santos; do diretor executivo Gilberto Chissini; e do diretor administrativo financeiro da Fundação Universidade de Caxias do Sul (Fucs), Candido Luis Teles da Roza tiveram com o ministro da Educação, Abraham Weintraub no dia 16 de maio, em Brasília, conforme agenda publicada no site do ministério. Nesta data, o material de divulgação da universidade já estava com sua nova versão. A comitiva da UCS teria solicitado a reunião para tratar sobre o repasse de R$ 13 milhões que o governo federal deve à instituição.
As mudanças tomadas pela cúpula da UCS preveniram um mal-estar com o ministro, crítico do educador Paulo Freire. A decisão e a providência desagradaram professores da universidade. Há outros indicativos de que a troca se deu coincidindo com a audiência no MEC. O Pioneiro constatou que os links das matérias sobre o fórum foram tirados do ar por aproximadamente 10 dias. O conteúdo foi reativado no final do mês passado, após a audiência com Weintraub. Não se tem notícia de outra alteração editorial semelhante, até porque essa operação gráfica acarreta custo relevante.
As críticas da Família Bolsonaro e do mentor do presidente, Olavo de Carvalho, a Paulo Freire são ideológicas. No programa de governo do então candidato à Presidência, Bolsonaro defendia “expurgar a filosofia freiriana das escolas”. Em outra manifestação, Bolsonaro afirma que vai mudar o patrono da educação brasileira, título conferido a Paulo Freire.
O ministro Weintraub também é discípulo do pensador conservador Olavo de Carvalho.
O QUE DIZ A UNIVERSIDADE
A UCS manifestou-se por meio de nota enviada pela assessoria de comunicação, que fez a seguinte introdução para o texto: “Segue o posicionamento da universidade”.
“Os conteúdos referentes ao Fórum de Estudos: Leituras de Paulo Freire estão presentes nos nossos canais de comunicação online e na revistaUCS.Pontualmente, a revistaUCS ganhou uma reedição com uma matéria de apresentação do TecnoUCS para ser distribuída posteriormente ao Fórum Paulo Freire (que ocorreu entre os dias 2 e 4 de maio).Este material foi utilizado em reunião-almoço da CIC do dia 27 de maio, quando a UCS apresentou aos empresários suas pesquisas sobre grafeno. Como este assunto é o destaque de capa da revista, promovemos uma divulgação conjunta de temas ligados ao empreendedorismo, inovação e tecnologia – o que é gerido pelo TecnoUCS.Vale lembrar que a edição da revistaUCS com a matéria do Fórum Paulo Freire foi distribuída, na ocasião do evento, aos cerca de 500 participantes vindos de todo o Estado, bem como está sendo entregue para os demais públicos para os quais costumeiramente é enviada.”