O ex-governador José Ivo Sartori (MDB) decidiu tirar um ano sabático após deixar o Palácio Piratini. A última agenda política pública ocorreu durante a transmissão do cargo para o governador Eduardo Leite (PSDB) no dia 1º de janeiro. Desde então, a prioridade é cuidar da saúde, descansar e permanecer mais tempo com a esposa Maria Helena e os filhos Marcos e Carolina.
Neste período afastado dos holofotes, Sartori se divide entre sua residência localizada próximo a Estação Rodoviária de Caxias e o apartamento no bairro Cristal, na Zona Sul de Porto Alegre.
Após deixar o Piratini, o ex-governador passou férias em Torres e Atlântida com a família. Na metade de janeiro, disse em breve entrevista que sua rotina dividia-se entre jogos de cartas, caminhadas, conversas com amigos e alongamentos. No mês seguinte, estendeu o período de descanso para Itapema (SC).
No final de abril, Sartori conversou rapidamente com a repórter do Pioneiro Juliana Bevilaqua em um encontro casual na entrada de um hipermercado, na esquina da Borges de Medeiros com a Vinte de Setembro. Ela contou que retornava da reunião-almoço da Câmara da Indústria, Comércio e Serviços (CIC) com o presidente da Sociedade de Engenharia, Luís Roberto Ponte. O ex-governador disse que recebeu mensagem do próprio Ponte o convidando para a palestra.
Em seguida, a repórter perguntou:
– O que o senhor anda fazendo?
– Indo a médicos.
A jornalista emendou.
– E quando vai dar entrevista?
– Só no ano que vem. Se falo com um (veículo de imprensa) tenho que falar com todos – respondeu o ex-governador.
Sartori despediu-se da repórter e logo parou para conversar com outro conhecido.
A ida a médicos que ele revelou foi devido a uma cirurgia de septoplastia (correção do desvio de septo nasal) realizada em março. Mais recentemente, iniciou um tratamento contra uma hérnia de disco que tem há cerca de 30 anos.
O filho Marcos conta que a cirurgia serviu para tratar a rinite e sinusite e que as dores nas costas incomodam, mas não é nada grave, e diz que o pai está bem de saúde.
Durante esses cinco meses, Sartori deixou as agendas políticas em segundo plano. Ele sequer participou da convenção estadual do MDB que reconduziu à presidência o deputado federal Alceu Moreira, que aconteceu no início de abril, na Capital. Também está afastado das reuniões do diretório caxiense.
Agendas e aparições públicas são poucas
Na última semana, o ex-governador permitiu tornar públicas duas agendas. No último domingo, Sartori e Maria Helena retomaram um hábito de mais de 20 anos, interrompido nos três últimos anos em que estiveram no Governo do Estado: voltaram a participar da Feijoada da Apae, como comendadores e “casal feijoeiro”. Eles integram o grupo Amigos do Rangaço, formado por casais voluntários que trabalham em prol de ações sociais e beneficentes. Juntos, contribuíram para a venda de ingressos, auxiliaram na preparação da comida no dia anterior ao evento e fizeram a reposição dos pratos na cozinha. O trabalho discreto foi percebido por poucos que prestigiaram a feijoada.
A presidente da Apae, Fátima Randon, conta que Sartori preferiu realizar o trabalho na cozinha e não saiu em nenhum momento para o salão do restaurante. Ela diz que, no primeiro ano de mandato, eles também trabalharam e ficaram na cozinha.
Outra aparição de Sartori aconteceu na terça-feira, dia 4. O vereador Felipe Gremelmaier (MDB) o entrevistou para sua dissertação de mestrado da UCS, sobre Turismo e Hospitalidade, e publicou foto nas redes sociais. Também nesta semana, o ex-governador realizou duas palestras para grupos de amigos: uma em Caxias e outra em Flores da Cunha.
Apesar do tempo disponível, o ex-governador evita assistir a novelas, filmes e séries na tevê ou na internet.
– Não é a praia dele – diz o filho.
Discrição
Na tarde de quinta-feira, a reportagem conversou com seis comerciantes vizinhos à residência de Sartori. Todos contam que o ex-governador circula pouco nas redondezas e que suas aparições são rápidas e discretas. Na maioria das vezes, é visto entrando ou saindo de casa. A vizinhança auxilia na opção de discrição de Sartori e prefere não expor os diálogos curtos com o ex-governador para não causar mal-estar com o vizinho famoso.
As poucas presenças são observadas por um aceno de mão à distância, uma visita de cinco minutos para um mate em uma loja ou a compra em um comércio de material de construção. Um vizinho que preferiu não ser identificado conta que, certa vez, houve uma pequena confusão entre Sartori e um servidor público estadual por conta do parcelamento de salário.
– Eu vi ele hoje à tarde (quinta-feira) quando eu estava trocando a lâmpada do carro de um cliente, e ele (Sartori) cumprimentou o dono do carro, que é seu amigo – disse um comerciante que presenciou um momento recente do ex-governador.
Outro comerciante, que preferiu não ser identificado, conta que raramente vê o ex-governador na rua.
– É como se ele ainda estivesse no governo.
DEPOIMENTOS
"Vida normal. Faz seus exercícios, vai jantar com amigos, jogar escovão e apreciar um bom vinho. Não participou de nenhuma reunião do partido. Vamos respeitar o seu direito de descanso. Afinal, o que ele passou em quatro anos foi muito estresse." Paulo Périco, presidente do MDB de Caxias do Sul
"O Sartori vive um momento particular que devemos respeitar e entender sua escolha. No momento certo, ele falará sobre política. O encontro (que Felipe Gremelmaier teve com ele esta semana) foi muito produtivo, porque o Sartori tem conhecimento de sobra sobre a cidade e seus fatos históricos, que são a referência para a minha dissertação de mestrado que está em construção." Felipe Gremelmaier, vereador do MDB
"O Zé está vivendo momento de felicidade e alegrias junto aos amigos, diria um sentimento de dever cumprido." Milton Corlatti, amigo e ex-presidente da CIC
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