No segundo seminário que precede a conclusão da revisão do Plano Diretor de Caxias do Sul, nesta segunda-feira (3), na Câmara, especialistas de diferentes áreas do setor de mobilidade debateram soluções e o futuro do transporte público e da infraestrutura viária. O tema foi Políticas Públicas de Transporte e Mobilidade, com dois eixos: infraestrutura urbana e mobilidade urbana e acessibilidade. O evento compõe a programação de uma série painéis denominados Diálogos Caxias — A Cidade que Queremos. A programação não teve participação de representantes da prefeitura na área.
Nem tanto caracterizada como debate, a reunião consolidou posicionamentos praticamente consensuais de crítica à gestão de mobilidade urbana na cidade. Os participantes também lamentaram a ausência do poder público — que não enviou representantes também ao primeiro encontro, na segunda-feira, dia 27 de maio.
Confira a seguir um resumo dos apontamentos apresentados na audiência. As sugestões devem ser analisadas pela Comissão de Desenvolvimento Urbano, Transporte e Habitação da Câmara, que avaliará como as propostas podem ser traduzidas e inseridas entre as diretrizes do Plano Diretor, atualmente em revisão. A previsão é de que todas etapas para essa revisão sejam concluída no final deste mês.
IDEIAS PARA O DEBATE
Walter Cruz, engenheiro
"18h, eu desafio qualquer motorista subir a Sinimbu. Temos de discutir para a cidade um sistema exemplar de transporte. Mobilidade se faz com todos os modais. Desde pedestre, a bicicleta e até os recentes patinetes. O poder público tem importância muito grande em tomar a frente. O segredo é a interligação entre os meios de transporte."
Luciano Resner, engenheiro e diretor executivo da Marcopolo
"Se a gente transportar mil pessoas, precisaríamos de 250 carros, que ocupam 3.750 metros quadrados. Já esse mesmo número de pessoas poderíamos mover com 12 ônibus padrão que ocupam área de 450 metros, ou quatro biarticulados, em uma área de 380 metros. A diferença é absurda, o transporte em massa continua sendo a melhor solução."
Gustavo Marques dos Santos, diretor-geral da Visate
"Falta segurança para o usuário, subsídio e investimento em infraestrutura. A Visate disponibilizou no ano passado para a prefeitura em torno de R$ 3,5 milhões só da Taxa de Gerenciamento e do ISS (Imposto sobre Serviço). Por mês, isso dá em torno de R$ 296 mil, que deveriam ser aplicados nas paradas de ônibus, por exemplo, mas não há esse investimento."
"Hoje Caxias tem cerca de 7.630 horários para serem cumpridos todos os dias, 80 linhas e 295 ônibus. Mas o que vem acontecendo é uma estagnação e redução do número de passageiros. Nos últimos quatro anos, o sistema de transporte perdeu 25% dos passageiros, é um número agressivo. Grande culpa pelo valor, R$ 4,25 é extremamente caro. E por quê? O poder público não subsidia a gratuidade. Não somos contra gratuidades, mas precisa haver critério. De 60 a 65 anos, são 22 mil pessoas andando de graça em Caxias do Sul."
Edson Marchioro, e ex-secretário municipal de Transporte
"Desde a década de 1950, a cidade vem de canetaço em canetaço se regularizando de forma desorganizada. O Plano Diretor mais importante foi o do prefeito Mário Vanin (PP), em 1995. Nesse plano, o perímetro urbano foi reduzido pela metade, de 50 mil hectares para 25 mil. Numa visão de que se deve aumentar a densidade, que é um fator importante para viabilizar o transporte coletivo, torna o custo da cidade menor e as prioridades podem ser encaradas de forma coerente."
"A troncalização está em projeto desde 2003. Passou Pepe Vargas, Sartori e Alceu, previa construção de 10 estações principais de integração. Temos hoje duas."
"É insustentável uma cidade viver desta forma. Corredores exclusivos não existem mais em Caxias, é uma bandalheira, não existe fiscalização. São questões de lógica: corredor duplo e proibição de conversão à direita facilitam o deslocamento de ônibus, que cumprem mais itinerários e, com isso, se atrai mais gente e diminui tarifa."
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