A suposta falta de disposição ao diálogo por parte da prefeitura é uma crítica recorrente na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul. Mais recentemente, o presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços da cidade (CIC), Ivanir Gasparin, também começou a lamentar publicamente a postura do poder público municipal com relação a demandas da classe empresarial.
Nesta semana, em participação na audiência pública de prestação de contas do quadrimestre pelo poder público junto à Desenvolvimento Econômico, Fiscalização e Controle Orçamentário da Câmara, realizada terça-feira, Gasparin fez críticas mais enfáticas ao Executivo.
Após balanço das contas públicas apresentado pela secretária de Gestão e Finanças, Magda Regina Wormann, o presidente da CIC ressaltou preocupação com relação ao futuro econômico do município. Porém, o que chamou mais atenção foi o tom de desabafo de Gasparin. Ele afirmou que os empresários estão com medo do poder público.
— A cada 10 reuniões na CIC, oito são por causa do poder público municipal. Estamos apavorados. Não tem mais empresários aqui porque estão com medo — declarou.
Gasparin também sugeriu ele próprio ter sofrido suposto boicote após fazer críticas à prefeitura.
— Ontem mesmo (segunda-feira) recebi autuação da prefeitura, por estar falando. Talvez por falar na CIC que nós teríamos que pensar. Muito triste — lamentou.
Gasparin se refere a uma multa que recebeu da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) por irregularidade no letreiro do estabelecimento que administra, no bairro São Pelegrino. Ao Pioneiro, por telefone, o presidente da CIC amenizou o tom, dizendo que acredita ser uma coincidência a autuação:
— Na mesma semana que fiz crítica contundente, recebi autuação. Foi engraçado, deve ter sido coincidência, não quero acreditar que foi pessoal.
Ainda assim, ele reiterou as dificuldades que a classe empresarial encontra em dialogar com a atual administração pública.
— Pessoal reclama que demora muito a liberação de alvará, a liberação para instalação de gás em edifícios. Sugerimos falar com secretários, mas eles se negam, dizem que têm medo e que que, quando isso acontece, demora ainda mais. Alguma coisa está acontecendo. As pessoas se sentem desconfortáveis em reclamar diretamente com a prefeitura — comentou.
Gasparin também ressalta que assume o papel de entidade representativa, porém, não consegue ir além do que cobrar repetidamente do poder público:
— A CIC está cobrando, mais do que eu faço é impossível, mas não temos retorno. Infelizmente, estamos batendo numa porta fechada. Quase toda semana me reúno com algum secretários, mas não somos ouvidos. Eu posso é gritar, mais do que isso não.
"Distrações de menor grau"
Em resposta, a prefeitura de Caxias encaminhou um artigo exaltando ações realizadas pelo poder público no setor econômico durante a gestão de Daniel Guerra. A manifestação do Executivo foi assinada pelo secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego (Sdete), Emílio Andreazza. Sobre os apontamentos de Ivanir Gasparin, o texto se refere como "situações pontuais" e ressalta que todas as demandas de entidades empresariais, inclusive a CIC, têm sido recebidas pelo poder público.
— Situações pontuais devem ser tratadas com as particularidades de cada caso, e não podem ser trazidas ao debate visando a desinformação da opinião pública — informa.
A nota também ressalta que a prefeitura está aprimorando os processos de informatização e burocráticos que envolvem o setor e cita que as reclamações seriam "distrações de menor grau".
— O melhoramento nos serviços públicos, informatização de processos e mais agilidade do poder público são tarefas contínuas de nossa administração, mas Caxias não pode perder seu foco em distrações de menor grau, provocadas por reclamações de um ou outro empresário de maneira pontual, e necessita da união de nossa classe empresarial, principalmente sua entidade máxima.