O ex-governador Germano Rigotto (PMDB), 68 anos alimenta a vontade de concorrer ao Senado na eleição de outubro. Para isso, avalia pelo menos três aspectos: a candidatura própria do PMDB à Presidência da República, a reforma política e o número de suplentes no Senado. Sem mandato desde o final de 2006 quando deixou o Piratini, Rigotto admite que, provavelmente, essa é sua última oportunidade de concorrer.
Rigotto diz que há muito tempo está desconfortável com o comportamento da cúpula do PMDB nacional. No início da semana passada, o ex-governador conversou com o Pioneiro por telefone. Confira a entrevista:
Pioneiro: O senhor pretende concorrer na próxima eleição?
Germano Rigotto: se concorrer será para o Senado Federal. Já fui vereador em Caxias, deputado estadual e federal e governador. Não tive a oportunidade de trabalhar no Senado e, por isso, seria um desafio. Esta decisão vou tomar até o final de fevereiro ou início de março. Tem uma série de fatores que estou analisando e vou ter esse prazo para definir. Tem questões que me levariam a não concorrer, como o fato de não ter ocorrido a reforma política. Temos os sistemas eleitoral e partidário falidos. Temos a falência do presidencialismo de coalizão. Não tem como o Congresso Nacional dar as respostas que a sociedade espera dentro de um sistema partidário com as distorções que temos hoje. Tem 30 líderes dentro da Câmara e isso é para não funcionar. É para que o Congresso Nacional não tenha agenda própria. No Senado deve ter 16 suplentes que não tem representatividade, alguns financiaram a campanha eleitoral ou beneficiaram um parente que é colocado de suplente. Outra questão que estou analisando é para que o próprio PMDB tenha candidatura própria.
No ano passado, o senhor se colocou à disposição para concorrer à presidência.
Na convenção (estadual) afirmei que o PMDB não podia ir de arrasto de siglas que não tinham história, que tinha que caminhar para uma candidatura própria e que não poderíamos, em 2018, cometer o mesmo erro dos últimos anos. O PMDB ficou com o rótulo de fisiologista, clientelista e outros piores. Na convenção lembrei que, em 2006, disputei com o Garotinho (ex-governador do Rio de Janeiro) e ganhei, mas como a cúpula não queria a candidatura própria anularam meus votos. Disse que, se houvesse a necessidade, colocaria meu nome à disposição, mas não disse que seria candidato a presidente. O PMDB tem um nome, o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung. Se eu tivesse dentro do Congresso não tenho dúvida que teria construído a candidatura própria com a possibilidade até do meu nome. Não tendo mandato fica muito mais difícil.
O PMDB terá candidato próprio a presidente?
Está caminhando para não ter de novo. Infelizmente, não vejo a cúpula do partido preocupada em construir um nome e colocar a candidatura na rua. Aquela cúpula que ao longo dos anos ficou preocupada com espaços e favores de governo e não com um projeto nacional continua com a mesma postura.
O senhor se sente desconfortável dentro do PMDB?
Estou há muito tempo desconfortável com a cúpula do PMDB e termos sido derrotados, talvez por incompetência nossa de não mobilizar a base do partido como deveríamos para fazer uma mudança. Estou desconfortável com esse tipo de comportamento de uma cúpula que está destruindo o partido.
O desgaste do governo Temer pode prejudicar a votação de seus apoiadores?
Tem dois governos Temer: o que está acertando na área econômica e já há um reconhecimento com a economia se recuperando, com menos desemprego, o PIB voltando a crescer, inflação contida e com juros baixos. Tem que separar isso com os equívocos que o governo está tendo na área política. Eu teria ministros de melhor qualidade, não aceitaria posturas fisiológicas que levam a esse descrédito do governo. O governo paga por vir de um impeachment com o descontentamento daqueles que apoiavam o governo anterior e que grudaram no Temer a tese do golpe.
O que é necessário para recuperar a economia e reduzir o desemprego?Temos um processo muito forte de desindustrialização no país. Isso ocorre por falta de uma política industrial clara. O que está salvando a economia é o agronegócio. Se tivéssemos uma reversão teríamos muito mais emprego e renda.
A troca de PMDB para MDB ajuda em alguma coisa?
Não resolve nada. Trocar de nome e não trocar a forma de agir não resolve absolutamente nada. A troca de nome tenta esconder o desgaste levado por um partido que tem história, mas que tem um presente que compromete a sua história. Tem que trocar a forma de agir.
Qual o futuro político de Germano Rigotto?
Se não for candidato nessa eleição teria muita dificuldade. Tu pode fazer política sem mandato. Eu tenho ajudado a formar opinião a favor das reformas tributária e política, a revisão do pacto federativo. Estou há muito tempo afastado, se eu não concorrer nesta eleição é muito difícil dizer que vou ser candidato numa outra. O afastamento tem limite. Se não for candidato estou praticamente decidindo a não concorrer mais.
Quais as chances de reeleição do governador Sartori?
São enormes. A partir de maio, com a definição das candidaturas, vamos ter mais clareza do que pode acontecer tanto no RS como em nível federal. O ano pode ser favorável para que o governo tenha condições de dar respostas em cima de uma conjuntura mais favorável e isso vai ter reflexo na eleição.
O parcelamento de salários é inevitável?
A qualquer momento o governador querendo conversar comigo estou à disposição, mas não cabe a mim ficar analisando ações de governo. Ele está mostrando todos os dias a impossibilidade de pagar os salários em dia, como gostaria de pagar. Duvido que se tivesse condições de pagar em dia ele não pagaria.
Na sua opinião, o Lula será candidato a presidente?
Dificilmente será candidato. É certo que: a eleição com o Lula é uma e sem ele é outra. Isso não significa que o resultado das pesquisas que apontam o Lula na frente se confirme no processo eleitoral. O eleitorado pode estar buscando uma novidade e pode ainda não ter surgido o candidato que ganhe a eleição.