A troca na Secretaria de Governo do prefeito Daniel Guerra (PRB) evidenciou a vontade de mudar a condução do relacionamento da administração municipal com a Câmara. O perfil técnico da jornalista Vania Espeiorin (sem partido) perdeu espaço para o alinhamento político de Luiz Caetano (PRB), que assumiu na segunda-feira.
Com o novo secretário, Guerra aposta em um relacionamento estritamente institucional entre governo e Câmara. Caetano é homem de confiança de Guerra e, antes de assumir como secretário, tinha acesso livre ao gabinete do prefeito. Vania, que estava cedida pela Câmara à prefeitura, tinha absorvido a interlocução com os vereadores, mas, nos bastidores, a aproximação desagradava ao prefeito. Publicamente, Guerra elogiou a atuação de Vania em sua despedida, segunda-feira.
O relacionamento entre os poderes é ruim. Enquanto os vereadores de oposição criticam Guerra e cobram soluções como, por exemplo, para a abertura da UPA da Zona Norte, o prefeito retirou o representante da Câmara na comissão que discute a ocupação da Maesa e solicitou a devolução de dois servidores que estavam cedidos ao Legislativo. O gesto de Guerra abriu espaço para o presidente do Câmara, Felipe Gremelmaier (PMDB), solicitar o retorno de Vania e da relações públicas Cristiane da Fonseca. As alegações oficiais são a falta de pessoal para atender à demanda, mas nos bastidores está a medição de força entre a prefeitura e a Câmara. Na semana passada, os vereadores derrubaram o veto do prefeito sobre o projeto que denomina como João Darlan Bettanin, o Xiruzinho, o Espaço Multicultural da Festa da Uva. Ontem, na Câmara e nas redes sociais, o novo secretário foi alvo de críticas pelo protesto realizado no plenário do Legislativo quando, meses atrás, levou o boneco Pixuleco, que mostra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como presidiário.
Caetano assume com a tarefa de estabelecer a interlocução dos vereadores com o governo e com as secretarias – uma reclamação dos parlamentares.
– Neste primeiro momento, a meta é tentar aproximar a Câmara, mas claro que tudo dentro da legalidade e da ética.
Na entrevista concedida na tarde de segunda-feira, Caetano garantiu que o relacionamento com os vereadores de oposição será “republicano” e que serão atendidos em suas reivindicações sempre que houver interesse da comunidade.
ENTREVISTA: LUIZ CAETANO, SECRETÁRIO DE GOVERNO
"Acho muito bom termos uma maioria de oposição"
Pioneiro: Como se dará a relação entre o Executivo e o Legislativo?
Luiz Caetano: Vou realizar um trabalho que já estava fazendo por intermédio do líder de governo, o vereador Chico Guerra. Trabalhando com ele muitas demandas que os vereadores trouxeram no início da legislatura, eu acabei sendo o portador delas (até o Executivo). A maioria delas nós solucionamos.
Quais são as prioridades da secretaria de governo?
Num primeiro momento, vamos tentar estabelecer uma relação para que os vereadores tenham essa interlocução até mesmo com as secretarias. Alguns já reclamaram que não têm resposta e não conseguem falar com os secretários. Vamos fazer esse meio de campo e tentar melhorar essa relação.
Qual seu perfil de trabalho?
Sou muito tranquilo. Prefiro trabalhar bastante e falar pouco. A maioria dos vereadores me conhece dos bastidores, não temos longas conversas e nem relação de amizade, mas uma relação republicana e respeitosa. A Câmara é uma casa política e tem seus discursos mais inflamados, mas isso faz parte.
Como será a relação com os vereadores de oposição?
Não há problema nenhum. A oposição é muito importante. A maioria dos vereadores é consciente e sabe o que é uma demanda real da comunidade. Esse tipo de oposição é muito benéfica. É muito melhor termos a maioria de oposição sempre atenta, fiscalizando, cobrando e auxiliando nas soluções do que se tivéssemos uma maioria de situação que, além de não fiscalizar, não fizesse as devidas cobranças. Acho muito importante e muito bom termos a maioria de oposição.
O protesto com o Pixuleco pode trazer desconforto na relação com os vereadores?
Acredito que não. Aquela manifestação foi como cidadão e no meu período de férias. São posicionamentos políticos, individuais, e que não afetam a relação institucional. Se eu estivesse em férias e entendesse que sim, faria de novo, com certeza, não teria problema nenhum.
Reações
"Ele (Daniel Guerra) diz, logo alguns dias depois da eleição. Ele fala na terceira pessoa: “Guerra não contrata amigos.” Pessoas altamente qualificadas em cada área, não é? E aí a gente vê que isso aí foi a maior mentira da história política recente de Caxias do Sul. É justamente o contrário. O prefeito Guerra só contrata amigos. A não ser que a questão do Luiz Caetano seja a mesma do vereador (Elisandro) Fiuza (nomeado secretário de Habitação), não é? O currículo foi sendo analisado durante seis meses por uma banca isenta, republicana, e se chegou na nomeação do Luiz Caetano que, como secretário de Governo, vai ser um grande educador físico, porque é a qualificação dele."
Rodrigo Beltrão (PT)
"A análise dos currículos está sendo muito bem elaborada pelo atual prefeito, está olhando eminentemente o lado técnico. O currículo do senhor Caetano é um bom currículo, evidentemente, mas enriquecido plenamente pelo fato de ter sido um carregador de Pixuleco. Isso agregou também no seu currículo."
Flávio Cassina (PTB)
Governo Guerra
Prefeitura de Caxias do Sul muda a relação com a Câmara dos Vereadores
Novo secretário de Governo, Luiz Caetano (PRB), fará a interlocução entre os poderes e adota um alinhamento político maior
André Tajes
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