Que o prefeito de Caxias do Sul Daniel Guerra (PRB) não tem maioria na Câmara de Vereadores, isso não é novidade. De uma bancada de 23 parlamentares, 21 não são da base de apoio do governo. O que tem chamado a atenção são os diferentes estilos de oposição. Há vereadores dos mais moderados aos mais incisivos. Há também aqueles que mantém uma posição praticamente neutra, quase sem cobranças.
A partir da atuação parlamentar observada nas sessões deste ano legislativo até agora, a reportagem dividiu os vereadores em cinco categorias e conversou com quatro dos que mais se destacam na tarefa de oposição a Guerra.
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Líder da bancada do PDT, partido derrotado nas eleições 2016, Rafael Bueno é dos mais críticos. Questiona atitudes da administração e as leva para além do plenário da Câmara. Nesta semana, denunciou no Ministério Público (MP) a suspensão do serviço de castração pelo município, o que resultou na abertura de um inquérito pelo MP.
A posição de Bueno, explosiva muitas vezes, tem gerado problemas para ele próprio. Hoje, por exemplo, a Câmara vota parecer prévio pelo acolhimento de denúncia feita pelo ex-vereador e CC do governo atual, Renato Nunes (PR), que pode gerar abertura de processo disciplinar contra Bueno. O pedetista chamou, em uma sessão no mês de março, Nunes de “estelionatário e 171”, já que a prefeitura havia informado que ele tinha ensino superior, o que não é verdade.
– Muitas palavras que ele (Daniel Guerra) usava contra a administração do Alceu (Barbosa Velho, ex-prefeito), estou usando, como "ludibriador", "mentiroso", palavras que ele usava aqui na sessão e agora está servindo o chapéu para ele próprio. Só estou fazendo o papel de fiscalizar – diz Bueno.
Na linha de frente
Apesar de bater forte no governo, Elói Frizzo (PSB) tem tido o cuidado de medir as palavras ao criticar a gestão Guerra. No início do mês, chegou a chamar o prefeito de "traste", mas imediatamente solicitou que o termo fosse retirado dos anais da Casa – os discursos dos vereadores são transcritos e ficam guardados.
– Ele (Guerra) tem uma postura autoritária e de adjetivação. Chamava o Alceu de "Dilma de bombachas". Tinha uma postura de ofender. A gente não quer se igualar.
Mais cauteloso, mas sem deixar de questionar, Adiló Didomênico (PTB) diz que adotou uma forma "respeitosa" de cobrar o governo para não fechar as portas. Autor do projeto que regulamentava o serviço de Uber e tramitava na Câmara, Adiló lamentou mais de uma vez nas sessões não ter sido comunicado pela prefeitura quanto ao envio de um novo projeto do Executivo sobre o tema. Ele retirou sua proposta para que a iniciativa da administração possa tramitar com mais facilidade.
– Tenho procurado manter os canais abertos porque, se tu começa a brigar, não tem como sentar numa mesa depois para conversar. Se tu critica por criticar ou começa a faltar com o respeito, tu tem dificuldade para sentar e dar sugestão. Mas falta comunicação desse governo com o Legislativo.
"A tônica da oposição, quem dá é o prefeito"
Oposição ao segundo mandato do governo de José Ivo Sartori (PMDB) em Caxias e à gestão de Alceu Barbosa Velho (PDT), Rodrigo Beltrão (PT) mantém a mesma postura em relação a Daniel Guerra. Há cobranças fortes e críticas, principalmente, à falta de diálogo.
Nesta semana, o vereador protocolou projeto que regulamenta a realização de plebiscito, referendo e iniciativa popular, numa tentativa de garantir a participação da comunidade nas decisões do município:
– Acho que muito da tônica da oposição nessa gestão quem tem dado é o próprio prefeito. Quanto mais diálogo o prefeito tiver, inclusive com a oposição, menos tensões vai haver. Quanto mais acertos, menos críticas.