Polêmicos. Assim, foram os 100 primeiros dias da administração do prefeito Daniel Guerra (PRB). Na data simbólica, comemorada hoje, ele concede entrevista coletiva no salão nobre da prefeitura para falar das primeiras ações do governo.
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Neste período, o mandatário colecionou desentendimentos, como a cobrança do ponto biométrico para os médicos que resultou na greve dos profissionais e a ação desproporcional da Guarda Municipal contra índios que vendiam produtos sem procedência na Avenida Júlio de Castilhos. A briga de vaidades e de poder com o vice-prefeito Ricardo Fabris de Abreu (PRB) chegou ao ápice no dia 31 de março, quando o chefe de Gabinete de Guerra, Júlio César Freitas da Rosa, assinou um ofício comunicando a extinção do mandato do vice.
No dia 6 de março, Fabris havia comunicado à Câmara de Vereadores e a Guerra que estaria renunciando ao cargo no dia 31 de março, às 23h59min. Sensibilizado com as manifestações de apoio, o vice ocupou dias depois a tribuna da Câmara para anunciar a decisão de permanecer. Desde a semana passada, Fabris e Guerra iniciaram uma batalha jurídica sem precedentes da história da cidade. Por enquanto, o vice permanece no cargo.
Apesar da crise instalada no centro do poder, Guerra teve tempo para cumprir com as primeiras promessas de campanha. Nos primeiros dias de governo, a Câmara aprovou projeto de lei do Executivo de corte da verba de representação de 50%, que era acrescida ao salário básico dos cargos de confiança (CCs). Também liberou o segundo corredor de ônibus ao tráfego de veículos e as conversões à direita nas ruas Sinimbu e Pinheiro Machado. Entre as medidas de maior impacto positivo para os caxienses estão a manutenção do valor da tarifa do transporte coletivo urbano e o anúncio, semana passada, da compra de 1,3 mil vagas para alunos da educação infantil.
Perfil de gestor,mas que não dialoga
Ainda que tente negar a importância dos partidos e o rótulo de político, o prefeito Daniel Guerra faz carreira na área pública. Foi secretário de Turismo no governo de José Ivo Sartori (PMDB) e exerceu dois mandatos de vereador, por dois partidos diferentes: PSDB e seu partido atual, o PRB. Além disso, concorreu a deputado estadual antes de vencer a eleição para prefeito no ano passado.
Guerra é um político de perfil centralizador, desconfiado, de diálogo seletivo e, por vezes, autoritário. Desde que assumiu a prefeitura, vive “acastelado” em seu gabinete e tornou-se pouco acessível. Na maioria das vezes, manifesta-se por meio de secretários ou de notas oficiais à imprensa.
Na avaliação do doutor em Ciência Política João Ignácio Pires Lucas, a nova administração demonstrou uma incompetência natural ao se envolver em muitos conflitos. Ele diz que a principal característica do governo Guerra é a falta de diálogo e cita as dificuldades de relacionamento com o vice Ricardo Fabris, com a Visate e os médicos, além da saída do secretário da Saúde, Darcy Ribeiro.
– Talvez um pessoal mais traquejado não tivesse se envolvido (em conflitos). Na falta de recursos, o diálogo é a principal ferramenta para minimizar desgastes.
Para Pires Lucas, Guerra também mostrou dificuldades na gestão da política, que tem uma das principais características o diálogo. Ele afirma que o discurso de Guerra em dialogar direto com a população é populista e está ultrapassado.
– É importante ter o diálogo com a população, mas, para o bom funcionamento da gestão pública, é importante dialogar com os partidos, com o funcionalismo público e diferentes setores da sociedade.
O cientista político e doutor em Ciências Sociais Marcos Paulo dos Reis Quadros aponta duas características do perfil do governo: o secretariado técnico e uma gestão centralizada.
– Por conta da personalidade e como conduz as coisas, ele tende a centralizar as ações.
Quadros observa que Guerra deu uma nova cara à gestão municipal e procura ter a população ao lado como forma de sustentação do governo. Ele diz, ainda, que houve uma coerência nas políticas públicas adotadas até o momento, porém o ímpeto não se mostrou na integralidade. Para o cientista político, será preciso esperar mais um pouco.
– O bônus é a popularidade consolidada e o ônus é que as elites políticas começam a mostrar uma insatisfação, o que fica claro no episódio do vice-prefeito.
Principal promessa, UPA ainda não está funcionando
A principal promessa de campanha de Daniel Guerra ainda não se concretizou. Para marcar o início de sua gestão, o prefeito visitou as instalações da UPA da Zona Norte no primeiro dia útil do ano e constatou problemas como a falta de PPCI do prédio. Apesar da alardeada prioridade, Guerra somente foi atrás de alternativas com o governo federal para viabilizar a abertura do serviço no final de março. Antes propagandeada para abertura imediata, agora a administração trabalha com a expectativa de iniciar a operação no segundo semestre. Mesmo com todas as economias com o corte de despesas, dificilmente a administração terá outra grande obra para inaugurar nesse ano.
Procurado pelo Pioneiro na segunda-feira passada, o prefeito não quis se manifestar e nem autorizou a divulgação de um balanço de suas ações em 100 dias de governo. Após vencer a eleição, ele havia se comprometido em voltar à redação do Pioneiro para uma entrevista exclusiva de balanço dos 100 dias. Agora, mudou de posição.
Sem a palavra de Guerra, o Pioneiro ouviu os 11 vereadores líderes das bancadas da Câmara de Vereadores, presidentes de entidades e a população.
Guerra convocou para as 10h de hoje, no salão nobre da prefeitura, uma entrevista coletiva, quando, acompanhado de secretários, apresenta um balanço dos primeiros 100 dias de seu governo.