Há pouco mais de um mês em Caxias, o chefe de Gabinete do prefeito Daniel Guerra (PRB), Júlio César Freitas da Rosa, ainda se adapta à nova cidade. Natural de Porto Alegre, ele deixou a função de assessor do deputado Carlos Gomes (PRB), para se dedicar ao desafio de estar na nova administração do segundo maior município gaúcho.
Júlio, também filiado ao PRB, já conhecia Guerra – foi ele, inclusive, quem sugeriu à direção da sigla levar o hoje prefeito para o partido –, mas enviou currículo e participou da seleção como outros cargos do governo.
A experiência na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa contou na contratação. Júlio foi assessor de plenário e coordenador de bancada do PRB entre 2012 e 2014. Antes, ele teve passagem pela AL entre 1995 e 2002 como assessor dos ex-deputados Gleno Scherer e Jair Foscarini, ambos do PMDB. O chefe de Gabinete também concorreu a vereador em 2000 pelo PMDB. Disputou uma vaga em General Câmara, mas não se elegeu. Acabou chegando ao PRB por indicação do tio, o vereador de Porto Alegre José Freitas.
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O advogado por formação atuou ainda na iniciativa privada e como assessor da presidência da Banrisul Corretora de Valores Mobiliários e Câmbio. Nesta entrevista, ele fala sobre os desafios da administração e da forma de fazer política da nova gestão. Confira:
Pioneiro: Como está sendo esse primeiro mês de governo?
Júlio César Freitas da Rosa: A gente estava se apoderando das informações, então, cada dia aparecia uma novidade, uma situação complicada. As duas frases que mais tenho ouvido nesses primeiros dias de governo são: "preciso falar contigo, é rápido e é urgente". Desde o dia 2, o horário mais cedo que sai daqui (prefeitura) foi 21h e mais tarde, meia-noite. Normal tem sido 22h, 23h. Hoje a gente já está mais adequado à estrutura e já sabemos alguns pontos que são prioritários. Mas ainda tem um volume muito grande de coisas para cuidar.
O que mais lhe chamou atenção até agora?
Me pareceu que muita coisa foi deixada de tomar decisões. Tem situações que teriam que ser tratadas de uma maneira preventiva, para que não chegasse num momento agora que tu tens que te apoderar da informação e a situação está quase precisando de uma ação emergencial. Acho que faltou um pouco de zelo, de cuidado.
O senhor foi convidado para compor o governo ou enviou currículo?
Eu trabalhava com o deputado federal Carlos Gomes e quando o prefeito saiu do antigo partido (Guerra foi expulso do PSDB em 2013), fui uma das pessoas que conversou com o deputado e presidente do partido e disse: "olha, tem uma pessoa, um vereador, tenho acompanhado a postura dele, acho que seria uma bela aquisição para os quadros do partido". A partir daí, a gente começou a construir uma relação de trabalho. Enquanto candidato, a gente foi conhecendo as propostas, a forma de trabalhar. Quando foi eleito e veio a questão dos currículos, eu conversei com o Carlos Gomes e perguntei se ele me autorizava a enviar um currículo, porque tinha me identificado com a proposta. Me autorizou, falou dos prós e contras, e aí encaminhei e o prefeito me chamou para conversar. Não tinha ideia que a possibilidade de aproveitamento fosse a chefia de gabinete. Até foi uma coisa que conversei com ele que uma das dificuldades que eu teria é que tu, muitas vezes, não tens o histórico da pessoa, porque tu não vive na cidade e o prefeito me disse: "olha, vejo isso com bons olhos, porque tu és uma pessoa que vem sem vícios e as pessoas vão ter que aprender a conviver contigo".
Como o senhor tem lidado com a questão de não conhecer as pessoas e a cidade?O diálogo tem que ser franco, direto e honesto e não existe o jeitinho, não existe o meio termo. Não existe o privilégio, não existe tu passar uma demanda na frente. A questão tem que ser tratada de uma forma clara e muitas vezes a pessoa sai mais feliz da tua frente tu dizendo um "não" sincero do que um "sim" ou um "meio sim" enrolando a pessoa. Acho que o segredo dessa relação é não ter meio termo, é não ter duas respostas para o mesmo tipo de assunto. Acho que quando tu tem essa postura, facilita.
O senhor disse que não tinha ideia de qual seu aproveitamento na administração quando enviou o currículo, mas imaginava uma área?
Eu imaginava que poderia trabalhar em uma assessoria de alguma secretaria. Isso (ser chefe de Gabinete) me orgulha ainda mais e também me enche muito mais de responsabilidade, porque o chefe de Gabinete é a pessoa que está próxima do prefeito, é a pessoa da confiança do prefeito, mas eu tenho a consciência que exatamente por essa proximidade, por essa confiança é que o teu erro, se não for zero, tem que ser próximo de zero. O dia em que, no desenvolver das minhas atividades, por uma ação ou omissão minha, eu coloque o prefeito em alguma situação de embaraço, seja qual for, imediatamente eu entregaria meu cargo, não esperaria que ele me exonerasse, porque essa é a função, essa é a proteção, essa é a blindagem que tu tem que fazer. O chefe de Gabinete tem que preservar o prefeito de todas as formas que puder.
O senhor estava acumulando a secretaria de Governo, que agora tem como titular Vania Espeiorin, também responsável pela Comunicação da prefeitura. Por que essa mudança?
Se entendeu que tinha três estruturas: secretaria de Governo, chefia de Gabinete e Comunicação com vários cargos de confiança, com dois secretários e chefe de Gabinete. Se entendeu que essa função é complementar ou até se sobrepunha. Qual é uma das funções da Secretaria de Governo? É a comunicação, a relação com a Câmara de Vereadores, é uma comunicação que existe entre as secretarias e essa comunicação é também para o prefeito. Para não ter uma comunicação diferente, para ter uma comunicação única, a secretária Vania, com toda a sua formação e experiência, inclusive na Câmara, foi uma forma de enxugar uma estrutura inchada e otimizar serviços complementares.
A Secretaria de Governo será ou não extinta?
Esse redesenho ainda não está definido. O que a gente sabe é que a parte da comunicação estará junto da Secretaria de Governo.
O vereador Elói Frizzo disse na sessão da Câmara, dia 2, que o secretariado é formado por pessoas desconhecidas pela população e que irá levar tempo para entender as demandas da cidade. O senhor acredita que este perfil pode atrapalhar em algum momento o trabalho do governo?
Tenho certeza que não. Informações que a gente tinha é de setores onde as pessoas estavam se pechando porque não tem lugar para todo mundo. A ideia é que a administração pública tenha respostas mais rápidas. O que interessa para a população não é saber qual o rosto do Júlio, qual o time que o Júlio torce. A população quer saber do médico no posto de saúde, do transporte público cumprindo horário, se a praça está limpa, se tem segurança, não se o secretário é bonito, feio, alto, magro, gordo. Ele quer a solução do problema.