Nem todo mundo trabalha, nem todo mundo estuda. Mas todo mundo mora. Alguns moram melhor que outros. Salete de Fátima dos Santos, 61 anos, era uma pessoa que morava bem. Vivia tranquilamente no bairro Salgado Filho até o dia em que um incêndio, há três anos, destruiu a casa da família. E ela passou a viver a realidade do aluguel, até então desconhecida.
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A casa alugada no bairro Rio Branco tem frestas nas paredes e no assoalho. Pedaços de madeira improvisados tapam os buracos no chão. A comemoração do Dia dos Pais não aconteceu por medo de a estrutura cair com muita gente dentro – além dos três filhos que moram na casa, Salete tem outros cinco, já casados. São R$ 350 pagos por mês por uma moradia precária.
– Com o dinheiro do aluguel, eu compraria as aberturas e faria as instalações elétrica e hidráulica da minha casa – imagina Salete.
A residência no terreno onde ficava a antiga já está quase pronta. A família recebeu uma casa da administração municipal, que trocou por blocos de concreto para fazer a estrutura. Segundo Salete, o terreno é um buraco e era necessária a estrutura de concreto para fazer subir a casa. A Fundação de Assistência Social (FAS) também auxiliou financeiramente a família, dinheiro que foi investido na construção da casa.
– Tem gente que fala: "mas tu ainda não terminou aquela casa?" Mas não é fácil construir, ainda mais sozinha – desabafa Salete, que tem o marido acamado por conta de um AVC.
A renda da família inclui o auxílio-doença e os salários de doméstica de Salete e do filho, que trabalha com carga e descarga em uma transportadora.
Luiz só quer sair da rua
Há quatro anos, Luiz* (nome fictício), 37 anos, não tem endereço fixo. Há quatro anos, ele deixou a casa da família. Há quatro anos, escolhe uma calçada diferente para dormir. A dependência química foi o que o fez ir para a rua. Luiz usa crack desde os 14 anos e a convivência acabou ficando insuportável nos últimos anos, com desentendimentos frequentes com a mãe, a ponto de ele ter que sair de casa. Sem alternativa, passou a viver na rua mesmo.
Durante o dia, Luiz cata lixo. Com o dinheiro – ele recebe uma média de R$ 50 por dia –, compra comida e alimenta o vício. Luiz já usou os serviços do Centro Pop Rua e da Casa de Passagem e ficou internado duas vezes na Patna. Nada foi capaz de fazê-lo abandonar as drogas.
– Não consigo deixar de usar – lamenta.
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Enquanto não consegue deixar o vício nem as ruas, convive com o medo de ser morto a qualquer momento:
– Não é bom viver na rua. Tu dorme e tem medo de alguém passar e te dar um tiro ou te queimar.
* O morador de rua aceitou conversar com a reportagem, mas sem se identificar.