No início de 1977, o Brasil teria tentado unir as ditaduras do Cone Sul para enfrentar a nova politica de direitos humanos implementada pelo presidente dos Estados Unidos na época, Jimmy Carter. A iniciativa fracassou porque, segundo Robert Pastor, que integrava o Conselho de Segurança Nacional norte-americano, a desconfiança entre os ditadores sul-americanos era maior do que o desprezo que sentiam por Carter.
A análise está em um memorando assinado por Pastor em agosto de 1978, um dos 1.081 arquivos secretos dos Estados Unidos desclassificados a pedido do governo argentino, que começou a divulgá-los nesta terça-feira. A promessa de entregar documentos que possam ajudar a esclarecer os crimes cometidos nos sete anos da ditadura argentina (1976-1983) foi feita pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em março deste ano, quando visitou Buenos Aires.
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O norte-americano passou pela capital argentina às vésperas do aniversario dos 40 anos do golpe militar de 1976, causando mal estar entre os organismos de direitos humanos. Amigos e parentes dos 30 mil desaparecidos da ditadura argentina ainda estão processando os responsáveis pelos crimes do regime militar, que chegou ao poder com o apoio dos Estados Unidos. Obama prometeu que abriria arquivos classificados, que podem ajudar na reparação dos erros do passado.
Os documentos abrangem o período de 1977-1980, durante o governo de Jimmy Carter. Ao contrário de seus antecessores, que apoiaram ditaduras na América Latina para conter o avanço do comunismo e preservar os interesses dos Estados Unidos na região, Carter adotou uma politica de defesa dos direitos Humanos e fez pressão pela abertura democrática.
Cartas
Entre os documentos tornados públicos nesta terça, estão cartas de Carter ao então ditador argentino, general Jorge Rafael Videla, pedindo a libertação de uma família detida. Outros arquivos mostram a visão do governo norte-americano em relação às ditaduras da época - como o memorando de Robert Pastor. Nele, o funcionário explica que os Estados Unidos não corriam o risco de perder terreno na América Latina por defenderem a abertura democrática.
"Durante um curto período, no início de 1977, os países do Cone Sul - Brasil, Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai - tentaram estabelecer um bloco para confrontar nossa politica de direitos humanos", escreveu Pastor. "Como esses governos desconfiavam uns dos outros, mais do que eles desprezavam o presidente Carter, o movimento não decolou", avaliou, na época.
Pastor descreve Argentina, Brasil e Chile como "países grandes, com governos extremamente autoritários e ultraconservadores", cuja visão limitada os levou a confrontos regionais "mesquinhos". Como exemplo, o funcionário norte-americano citou a disputa entre Argentina e Chile pelo Canal de Beagle, que quase terminou em guerra. E também a briga entre argentinos e brasileiros por causa da construção de hidrelétricas na fronteira com o Paraguai.
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