Nos cinco maiores colégios eleitorais do Brasil, a disputa pelas prefeituras se relaciona à pretensão de candidatos e seus padrinhos em se credenciarem para a corrida das urnas de 2018. Na capital paulista, o embate de forças entre os dois maiores partidos nacionais, PT e PMDB, reflete não só o duelo do impeachment como a futura briga pelo Planalto. No Rio, tudo depende da Olimpíada. Sucesso do evento chancela Eduardo Paes ao governo do Estado ou, até mesmo, à Presidência. De outro lado, o fracasso dos Jogos abala a confiança do atual prefeito. Em Belo Horizonte, Aécio Neves testa seu cacife para derrubar outros expoentes tucanos na próxima empreitada nacional. No Nordeste, enquanto ACM Neto ressuscita o carlismo em Salvador, as oligarquias cearenses travam duelo virulento em Fortaleza.
São Paulo reproduz disputa nacional
Maior colégio eleitoral do país, São Paulo irá reproduzir na eleição municipal o embate de forças que monopoliza a política nacional em torno de PT, PMDB e PSDB. Para os petistas, a reeleição do prefeito Fernando Haddad é prioridade.
Além de servir de alavanca para as eleições presidenciais de 2018, a manutenção da capital paulista é um passo estratégico na tentativa de reconstrução do partido após o abalo provocado pela Lava-Jato e pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff.
Haddad terá pela frente dois adversários com alto poder de fogo: a senadora Marta Suplicy, agora PMDB, e o empresário João Dória (PSDB). Embora seja debutante na política, Dória tem a seu favor a máquina do governo do Estado, há 21 anos sob o comando dos tucanos. Marta, além da estrutura do PMDB, conta com forte recall de eleições passadas e sólida base eleitoral na periferia da cidade.
Largando na frente, o deputado federal Celso Russomano (PRB) tem de provar fôlego para chegar ao segundo turno. A exemplo de agora, em 2012 ele liderou as pesquisas no início da campanha mas acabou em terceiro lugar. Além disso, pode ser barrado pela Lei da Ficha Limpa se o Supremo Tribunal Federal mantiver condenação de primeira instância por pagar funcionária particular com recursos da Câmara.
Rio à sombra do legado olímpico
Transformado em canteiro de obras para sediar a Olimpíada e a Paralimpíada, o Rio de Janeiro terá eleição à sombra das competições. Se os Jogos forem um sucesso – sem colapso do sistema de transporte e de segurança, por exemplo –, cresce o cacife do candidato escalado pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB), Pedro Paulo Carvalho. Ex-secretário municipal, Pedro Paulo se envolveu em polêmica após admitir ter agredido a ex-mulher.
Mesmo com a repercussão negativa do episódio, Paes manteve o apoio ao afilhado, apostando no êxito do legado olímpico. Seus adversários, contudo, não poupam críticas aos gastos com os Jogos e as suspeitas que recaem sobre obras públicas.
Apoiado pela Igreja Universal, o senador Marcelo Crivella (PRB) critica o desembolso de R$ 40 bilhões pela prefeitura e tenta associar Paes às empreiteiras investigadas na Lava-Jato. Esse mesmo discurso pontua a ação dos outros principais candidatos, todos à esquerda de Paes e Crivella: Marcelo Freixo (PSOL), Alessandro Molon (Rede) e Jandira Feghali (PC do B). Os três já disputaram a prefeitura em eleições anteriores e firmaram pacto de não agressão no primeiro turno, para evitar que troca de acusações entre si beneficie as candidaturas de Crivella e Pedro Paulo.
Em BH, o fim da aliança inusitada
Uma insólita aliança foi rompida em Belo Horizonte na atual disputa pela prefeitura. Em 2008, enquanto digladiavam no resto do país, PT e PSDB estavam de mãos dadas na capital.
As duas siglas deixaram de lado as divergências para apoiar e levar à vitória Márcio Lacerda (PSB), que comanda a cidade até hoje. À época, o nome de Lacerda atendia aos interesses do então governador Aécio Neves (PSDB) e do prefeito Fernando Pimentel (PT), que almejavam postos mais altos e buscavam composição.
Agora, o cenário é outro. Lacerda rompeu com aliados e buscou na iniciativa privada o economista Paulo Brant. O objetivo do prefeito é eleger o executivo com o discurso de gestão moderna e se credenciar ao governo. No PT, o agora governador Pimentel aposta suas fichas no deputado Reginaldo Lopes. Acuado pela investigação de lavagem de dinheiro na campanha que o elegeu em 2014, Pimentel dificilmente terá apoio interno para disputar a reeleição caso Lopes fracasse.
Mesma motivação tem Aécio. Hoje senador, ele apadrinhou candidatura do ex-jogador de futebol João Leite, de passado vitorioso pelo Atlético Mineiro e atual líder nas pesquisas. A vitória de Leite é fundamental para Aécio demonstrar musculatura no partido frente aos outros postulantes à Presidência em 2018. Na última eleição, viu o comando do Estado cair nas mãos do PT.
Teste à reinvenção do carlismo em Salvador
A eleição em Salvador exibe retrato da correlação de forças partidárias no país. Enquanto o atual prefeito ACM Neto simboliza o renascimento do DEM após a quase extinção da legenda, o PT – que governa o Estado pelo terceiro mandato consecutivo – nem sequer terá candidato. Apoiado por 15 partidos e 31 dos 43 vereadores, Neto conseguiu restabelecer na cidade a influência herdada do avô, o ex-governador e ex-senador Antonio Carlos Magalhães, morto em 2007.
Neto trata a campanha deste ano como trampolim para disputa do governo do Estado em 2018. Para tanto, além da robusta aliança partidária, construiu candidaturas do partido em mais de cem municípios do Interior. Na capital, sua bandeira eleitoral é a recuperação da orla marítima e os investimentos na melhoria do trânsito e na construção de escolas.
A principal adversária será a deputada federal Alice Portugal (PC do B). Sem conseguir unir o partido em torno de uma candidatura viável, o PT indicou como vice de Alice a deputada estadual Maria del Carmen. Para reverter o favoritismo de Neto, a sigla aposta na chapa feminina e no discurso de que a gestão do DEM beneficiou bairros nobres em detrimento da periferia.
Clima beligerante entre clãs políticos em Fortaleza
Com o PT rachado e os clãs Gomes e Jereissati envolvidos em bate-boca virulento, a eleição se anuncia mais acirrada na troca de desaforos do que na briga por votos. Candidato à reeleição, o prefeito Roberto Cláudio (PDT) tem apoio dos irmãos Cid e Ciro Gomes e do atual governador, Camilo Santana (PT). Todos estão com nervos à flor da pele.
Santana rompeu com o próprio partido e declarou que não fará campanha para a petista e ex-prefeita Luizianne Lins.
A rixa é antiga: em 2014, Luizianne se negou a apoiar Santana, alegando que votar nele era "dar asa a cobra". Já Ciro acusou o ex-governador Tasso Jereissati (PSDB), padrinho do agora candidato a prefeito Capitão Wagner (PR), de mandar atirar em policiais em greve, em 1997. Tasso, de quem Ciro foi aliado por 20 anos, terceirizou a resposta ao presidente tucano, Luiz Pontes, que chamou Ciro de desequilibrado e leviano.
Em meio à beligerância, o debate encolhe. Ainda assim, Luizianne e Wagner concentram críticas em obras da atual gestão, por terem beneficiado zonas nobres. Cláudio rebate dizendo que querem vencê-lo pelo "caminho do ódio, do chute na canela. Para cada chute, mais obras."