O domingo é decisivo para o país. Em caso de derrubada do impeachment, Dilma Rousseff permanece na Presidência da República, porém, com um vice que não é parceiro de governo.
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Caso seja aprovado, o processo segue para análise no Senado e, embora não seja afastada de forma imediata, Dilma, inevitavelmente, perde força, e existe grande probabilidade de afastamento por até 180 dias assim que o processo for admitido pelo Senado.
Diante do que pode acontecer a partir de segunda, a partir das definições deste domingo na Câmara, o Pioneiro pediu a quatro lideranças políticas gaúchas e a um cientista político para traçar dois cenários possíveis: se aprovado ou se derrubado o impeachment. Confira:
YEDA CRUSIUS (PSDB), ex-governadora do RS
Aprovado o impeachment:
"Se for aprovado, o Brasil tem uma chance de começar uma transição para retomar a estabilidade da sua economia, porque nós estamos em queda livre. O FMI soltou uma outra análise, nós vamos demorar até 2018 para consertar esse estrago e nós vamos recuperar os dados da economia brasileira só em 2020. Então, nós vamos ter uma chance. O Brasil tem uma chance de barrar essa queda livre na qual a gente está entrando. E existem todas as condições para isso acontecer. Nós já aprendemos muito com a nossa história, já fizemos muito, temos todas as condições de fazer essa transição de novo para uma economia estável e não isso que está aí."
Derrubado o impeachment:
"Se o processo de impeachment não passa, se vai o Plano Real. Eu quero apenas lembrar que o Plano Real foi uma conquista da sociedade brasileira, uma conquista brasileira, e o Plano Real é um conjunto de regras que devem ser respeitadas por quem gerencia o dinheiro público de tal maneira que você não deixa a inflação crescer, uma crise cambial chegar, e você traga uma taxa de crescimento que abrigue a população que busca emprego no país. Então, se não passar, é o fim do Plano Real. Aí, o que virá, nós não conhecemos."
ALCEU BARBOSA VELHO (PDT), prefeito de Caxias do Sul
Aprovado o impeachment:
"Os dois cenários são extremamente ruins, esse que é o problema. O Brasil está perdendo e vai perder muito. É uma coisa muito Gre-Nal. O processo no domingo ainda não é decisivo, porque no domingo significa que vai para o Senado e o Senado vai ter que dizer se aceita o processo ou não. Se aceita, abre o processo e ai há o afastamento da presidente. E ai é o pior quadro, porque o que uma presidente afastada vai fazer? E o que um interino pode fazer? Imagina todo esse povo do PT e do PCdoB fora do governo. Tu acha que eles vão vender isso barato? É muito perigoso a gente falar com a responsabilidade que a gente tem de representação, mas os dois cenários são ruins."
Derrubado o impeachment:
"Ai tem que chamar para uma grande coalização nacional e colocar na cabeça dos nossos deputados federais e senadores, não importa o partido, que eles defendam o Brasil, porque o que eu estou vendo é só interesse partidário. Quem está no governo defendendo que quer ficar e quem tá fora quer entrar, mas projeto para o Brasil, que é bom, ninguém tem."
PEDRO SIMON (PMDB), ex-senador e ex-governador do RS
Aprovado o impeachment:
"Primeiro, tenho a expectativa de que seja aprovado. Sendo aprovado, já é positivo, porque independente das causas que levaram a esse pedido de impeachment, tem o problema da Operação Lava-Jato, quando os fatos de corrupção atingiram uma intensidade que ganhou repercussão no mundo inteiro. E agora, no intuito de querer derrubar o impeachment, o governo está fazendo uma loteria de cargos. O que a gente estaria esperando caso ele vencesse seria um governo que duraria muito pouco tempo, não teria nenhuma cobertura da sociedade. Então, o bom para o Brasil a essa altura é o impeachment passar. Segundo lugar, o que vem depois. Acho que o Temer, com todo o respeito, com esse Congresso que virou uma anarquia total, 40 partidos, não tem um partido onde haja unanimidade... Não existe um que se diga "esse tem espírito de vida partidária". Vai ser impossível, muito difícil o governo que se construir, não sei com que forças, não sei em nome de quem, a partir de segunda-feira. E o PT, se perder, fará uma oposição tão radical e ele está partindo para isso. Nós temos aqui em Porto Alegre, por exemplo, já estão com as barracas em frente ao Palácio Piratini, e dizem que não sabem quando vão sair. Em Brasília, estão sendo chamadas milhares de pessoas e será feita uma concentração. O ideal seria se o Temer tivesse um grande gesto e, ao invés de assumir, fizesse uma grande convocação, onde se pudesse, inclusive com a renúncia dele, ter uma nova eleição."
Derrubado o impeachment:
"Se o impeachment não passar, é o pior que pode acontecer para o PT e para o Brasil. Para o PT, porque nesses últimos dias, ficou provado que quando a Dilma queria colocar o Lula de chefe da Casa Civil era para fazer essa operação que ele está fazendo. Ele foi para um hotel cinco estrelas e com dois andares e está chamando tudo que é deputado, todo mundo, para comprar, pra troca de ministério, troca de cargo, troca de dinheiro das emendas. Tudo o que é possível de imaginar está sendo cometido ali. É um Deus nos acuda. A Dilma já entrou nesse grande desgaste porque ela fez uma campanha prometendo mil coisas e quando assumiu não fez nada, imagine se, segunda-feira, ela continuar no governo. Vai ser uma desgraça que eu não sei o que vai acontecer. Mas, com toda a sinceridade, creio que vai ser um momento muito agitado e não tenho nenhuma ideia de onde vamos chegar."
ARI VANAZZI, presidente estadual do PT
Aprovado o impeachment:
"Primeiro, que domingo é mais uma etapa do processo de impeachment. Não termina domingo, embora a burguesia brasileira tenha achado que domingo acaba tudo, que a Dilma sai e entra novo governo. Vai ao Senado, tem mais seis meses de debate. É um processo longo e nós estamos trabalhando para derrotar o golpe no domingo, mas, se não conseguirmos, vamos continuar no Senado. Sendo aprovado, acho que vai haver uma luta intensa. É uma irresponsabilidade desse Congresso, dirigido pelo maior corrupto desse país, o Eduardo Cunha, aprovar um processo de impeachment sem nenhuma base jurídica legal. Nós vamos ter uma luta intensa no país, luta política, do ponto de vista de defesa da democracia. Acho que vai se ativar a luta política e a crise econômica. Acho que essa crise política, produzida pela direita, pelo PSDB, por setores do PMDB, está levando o país à beira do caos. Então, vai ter muita luta, muito debate, muito enfrentamento, porque nós estamos defendendo a democracia."
Derrubado o impeachment:
"Nós vamos organizar a nossa base política para que a presidente Dilma implemente uma proposta de governo, tentar buscar uma unidade política nacional com setores importantes da economia produtiva brasileira. E, fundamentalmente, elaborar uma pauta que mude a política econômica, que busque diminuir o superávit primário. Vamos estar na rua para dar sustentação a uma pauta que recupere a economia brasileira. Tenho convicção de que, em seis meses, vamos estar em outra situação."
MARCOS PAULO DOS REIS QUADROS, cientista político e doutor em Ciências Sociais, coordenador de graduação da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG)
Aprovado o impeachment:
"No caso de aprovação, me parece que, imediatamente, embora o processo ainda precise tramitar no Senado, o vice-presidente Michel Temer começaria a fazer as suas articulações como já vem fazendo, por sinal. Então, o governo teria muito pouca margem de manobra daqui por diante até que o processo seja sinalizado no Senado, e aquele período de ostracismo da presidente, que é o afastamento, seria nada mais nada menos que um último respiro. O governo ficaria completamente amarrado, não teria margem para impor nenhuma agenda. E pensando do ponto de vista não político, mas do país, seria um período bem complicado para o Brasil, porque nós não teríamos condições de articular qualquer medida para sair da crise econômica em que nos encontramos. Então, o cenário de paralisia, na minha visão, ia até se agravar. É claro que isso no curto prazo. No médio prazo, novas forças atuando, novos agentes políticos trabalhando nos ministérios e no governo, o Brasil poderia ter algum tipo de solução."
Derrubado o impeachment:
"Caso o impeachment venha a ser negado, ainda assim o atual governo terá que, necessariamente, construir uma nova agenda. Inclusive, já circulam informações de possibilidade de troca total nos ministérios. Os ministros estariam dispostos a ofertar o seu pedido de demissão para que o governo pudesse apresentar à sociedade e às elites políticas algum tipo de alternativa, algum tipo de demonstração de que algo está sendo feito. Então, nesse segundo cenário, necessariamente, o governo não poderia continuar como está e não poderia continuar apelas as suas bases como vem fazendo agora, tentando reconstruir um canal de ligação com as bases históricas do PT e etc. Isso não é o bastante. O governo precisaria dialogar e, invariavelmente, mudar a sua política econômica."
Decisões
Políticos projetam possíveis cenários conforme resultado da votação do impeachment neste domingo
Pioneiro consultou lideranças e também um cientista político sobre possibilidades após processo
Juliana Bevilaqua
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