As manifestações populares que tomaram as ruas em junho marcaram o ano de 2013 e provocaram algumas respostas do Poder Público, principalmente relacionadas ao transporte, área que desencadeou os protestos. Porém, o principal reflexo da inquietação popular que surpreendeu o país deve ser verificado no próximo ano, durante os debates eleitorais.
A onda de manifestações começou em junho, com uma série de protestos promovida em São Paulo contra o aumento do preço da passagem do transporte público, que passou de R$ 3 para R$ 3,20. A violência da repressão policial contra os manifestantes despertou a indignação que levou milhares de pessoas às ruas em diversas cidades.
O auge das manifestações, que foi agregando bandeiras como fim da corrupção e da impunidade e valorização da saúde e da educação, aconteceu na semana de 17 de junho. Contagiadas pelo espírito de inquietação, 35 mil pessoas estimadas protestaram em Caxias do Sul no dia 21. Por aqui, os manifestantes compartilharam as mesmas reivindicações dos protestos nacionais, mas também foram incluídas bandeiras locais.
O pedido de um grupo que já havia ocupado a Câmara de Vereadores uma semana antes ganhou força. O protesto era contra o horário das sessões, que passou de 17h para 15h45min, enquanto grupos reivindicavam início às18h, sob argumento de que permitiria maior participação da população nas reuniões legislativas. A demanda não obteve resposta.
Outra reivindicação das passeatas foi a diminuição do valor da passagem do transporte coletivo. Em Caxias, a tarifa já havia caído de R$ 2,85 para R$ 2,75 uma semana antes do auge dos protestos no país. A medida foi possível graças à desoneração da folha de pagamento e da redução de impostos do setor (PIS-Cofins) decretados pelo governo federal. A prefeitura afirmou que, para chegar aos R$ 2,50 pedidos pelos manifestantes, seriam necessárias mais desonerações, o que não ocorreu.
A principal resposta do governo do Estado foi a criação do passe livre estudantil no transporte intermunicipal, atendendo alunos que residem em uma cidade e estudam em outra, no ensino médio ou na universidade. A medida beneficiou cerca de 200 mil estudantes de 63 municípios, inclusive no eixo Caxias do Sul-Bento Gonçalves.
A presidente Dilma Rousseff (PT) propôs cinco pactos entre os governos federal, estaduais e municipais. Diziam respeito à responsabilidade fiscal, reforma política com participação popular, saúde, educação e medidas de apoio ao transporte público de qualidade.
Para o cientista político Marcos Paulo Quadros, a única reivindicação das manifestações de junho que teve o objetivo plenamente alcançado foi a da representatividade. Segundo ele, os partidos perceberam que não há líderes que dialoguem com a população, tanto que as pessoas optaram por ir para a rua para serem ouvidas.
- Essa mensagem ficou muito clara, e os partidos vão tentar mostrar que conseguem representar a população. Nas eleições, além das questões normais, como economia e saúde, também haverá muita ênfase nessas políticas de juventude - aposta.
Ecos de junho
Manifestações que lotaram ruas, inclusive em Caxias do Sul, devem motivar debates eleitorais em 2014
Série "Como ficou?" resgata protestos e reflexos na cidade, no Estado e no país
GZH faz parte do The Trust Project