Depois de anos dedicando sua vida ao 9º Batalhão da Brigada Militar de Porto Alegre, o passo-fundense Nelson Lopes, 63 anos, queria encontrar em Caxias do Sul um lugar ideal para mudar de vida. No batalhão, Lopes prestou serviços de 1980 a 1995. Com a mudança para a Serra, passou a trabalhar como segurança de uma loja de celulares e acessórios.
Em frente ao local onde trabalha, na Rua Dr. Montaury, fica um tradicional colégio de Caxias, o São José. No começo de outubro, em um dia de sol, quando observava a movimentação pela calçada, o segurança foi alertado por um homem que passava pela rua sobre um ruído estranho vindo de uma das janelas da escola.
— Olha lá, tão imitando um macaco pra você — gritou.
Lopes diz que falou com um funcionário da escola depois do primeiro episódio, mas que a situação acabou se repetindo no último dia 26. Novamente os sons vieram de uma das janelas do colégio. No dia seguinte, por volta das 10h30min o segurança acionou a Brigada Militar e fez um boletim de ocorrência. Conforme o delegado Dirceu Júnior Garcia Quadros, a ocorrência foi registrada como ato de injúria racial. Na semana passada, Lopes fez uma denúncia junto à Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), que abriu inquérito policial para apurar o fato.
Colégio diz ter identificado e advertido alunos
O vice-diretor, Jorge Godoy, foi o encarregado pela direção do Colégio São José de realizar a identificação dos alunos que teriam feito sons de macacos em direção ao segurança.
— Nós tivemos uma conversa e dois alunos, menores de idade, se identificaram. A alegação deles foi de que não estavam fazendo gestos para ninguém que estava passando pela rua. Disseram que estavam brincando — aponta Godoy.
Segundo o vice-diretor, "os alunos ficaram chateados ao perceber a gravidade da situação". Os dois foram advertidos.
— O regimento interno da escola prevê inicialmente uma advertência junto aos pais, pois isso não fere apenas os princípios do São José, mas a dignidade humana, o respeito às pessoas. São brincadeiras que precisam ser medidas e que as pessoas assumam com grau de responsabilização do que fazem — reiterou.
Ainda de acordo com a direção da escola, Lopes foi informado dos resultados da apuração, mas ele nega ter conhecimento de tais fatos.
— Fiquei sabendo por vocês. Ninguém me avisou de nada.
Visibilidade
Em Caxias do Sul, uma das frentes de atuação pela visibilidade à população negra é a Coordenadoria de Promoção de Igualdade Étnico-Racial, vinculada à Secretaria de Segurança Pública e Proteção Social. Para mais informações, o atendimento é feito pelo telefone (54) 3218-6000, ramal 6418.