Após um ano e três meses, Paulo Eduardo Scaravonato, 21 anos, responderá ao Tribunal do Júri de Bento Gonçalves pelo feminicídio de Joana Fabris Deon, 19. O crime aconteceu dentro da casa do réu, no bairro Ouro Verde. Em seu depoimento, Scaravonato alegou que o disparo foi acidental, quando Joana manuseava a arma. O julgamento está marcado para as 9h desta segunda-feira (31), no Fórum de Bento Gonçalves.
Além do feminicídio, Scaravonato é acusado de porte ilegal do revólver calibre .38 e por falsa comunicação de crime. Na ocasião, o réu afirmou aos policiais que Joana foi baleada durante um assalto. A versão foi desmentida pelo pai do réu e, em juízo, confessado por Scaravonato.
O crime aconteceu no dia 17 de julho de 2021. Em seu depoimento, o réu admitiu ter consumido bebida alcoólica e ecstasy naquela noite. Scaravonato alega que, quando a bebida acabou, ele e Joana foram comprar mais. Como o bairro era violento, ele pegou o revólver calibre .38. Quando voltaram, o réu afirma que deixou a arma no quarto e foi até o banheiro. Ao retornar, disse ter encontrado Joana manuseando a arma. Foi neste momento que o disparo teria acontecido.
Joana foi atingida no peito. Scaravonato pediu ajuda para o pai, que morava no mesmo apartamento, e os dois levaram a vítima até o hospital, onde ela morreu. Foi no hospital que dois policiais militares interpelaram Scaravonato e ele confessou ter inventado a história do assalto porque "ninguém iria acreditar que o tiro foi acidental".
Além das informações consideradas incoerentes nos depoimentos do réu, a sentença de pronúncia apresentou outras provas. O exame residuográfico apontou pólvora nas mãos de Scaravonato, o que sugere que ele pode ter sido autor do disparo. Em sua defesa, o réu alegou que tinha feito dois tiros no dia anterior para testar o revólver que apresentava problemas no tambor — o que também é alegado por ele como uma explicação para o disparo acidental.
A pronúncia também contém o relato de testemunhas apontando que o casal tinha brigas anteriores, o que levou ao enquadramento do assassinato como feminicídio. Scaravonato alega que não tinham um relacionamento sério com Joana, que os dois "estavam apenas curtindo" e que não tiveram nenhum desavença naquela noite. O réu reforçou que não tinha a intenção de matar a jovem, tanto que a socorreu imediatamente pedindo ajuda do pai e a levando para o hospital.
A trajetória do tiro, que atingiu Joana no peito, descrita pela perícia é outro indício que não condiz com os relatos do réu sobre como o disparo aconteceu. Nos depoimentos, também há controvérsia sobre onde o revólver foi deixado após o tiro.
Joana era moradora do bairro Cidade Alta e estudava Psicologia na PUC, em Porto Alegre. Na época do crime, ela fazia as aulas de forma virtual em razão da pandemia de coronavírus. A jovem também trabalhava na escola de Educação Infantil da mãe dela, no bairro Planalto.