O clima foi de medo e de comoção na rua do bairro Cidade Nova, em Caxias do Sul, onde o homem de 28 anos jogou a filha de cinco meses pela janela do prédio, por volta do meio-dia, da quinta-feira (6). A bebê foi salva por uma jovem, 18, que conseguiu conversar com o homem para evitar que a menina tivesse ferimentos graves ou até mesmo morresse ao cair sobre uma grade de ferro pontiaguda. Essa grade fica bem embaixo da janela onde ele segurava a menina pelos braços – com o corpo para fora – e ameaçava a todo momento atirar a criança, segundo os relatos. Entre a janela e o chão são cerca de três a quatro metros.
Moradores do prédio conversaram com a reportagem e pediram para não serem identificados. Eles disseram estarem assustados com a situação.
Com discrição, um morador mostrou à reportagem a janela do 1º andar de um prédio de sete pavimentos, em uma rua tranquila, onde viveram momentos de apreensão, quando o homem que parecia em surto psicótico gritava dentro do apartamento. Do lado de fora, a tensão aumentava ao ouvir o choro constante da menina. Vizinhos relatam que o jovem é usuário de drogas e, em outras ocasiões, já teve surtos semelhantes e quebrava os móveis dentro de casa. Ele mora no prédio há 10 anos, mas havia se mudado para morar com a mãe da menina. O relacionamento acabou e ele voltou a morar com a mãe dele e a filha, sem a companheira.
Uma das moradoras de 32 anos, irmã da jovem que conseguiu pegar a bebê, conta que, na quinta, ela saiu para trabalhar e começou a receber ligações de moradores, por volta das 11h30min, sobre gritos em um dos apartamentos. Ela voltou acompanhada da irmã, 18, que conhece o histórico do pai da bebê. Ao chegar no prédio, elas acionaram a mãe do rapaz, a Brigada Militar (BM) e o Samu. A avó da criança pediu que um amigo fosse até o edifício falar com o jovem. Quando esse homem bateu na porta do apartamento, o pai da menina abriu a janela com a bebê no colo.
— Ele gritava e a gente escutava muito o choro da bebê. Ela chorava muito, muito. Quando esse amigo dele chegou, acho que ele se desesperou lá dentro. Aí, veio para a janela e a abriu. Eu e minha irmã ficamos embaixo da janela. Ele segurava ela em um braço e estava com um facão no outro e gritava que queriam matar ele. Estava alucinado. Não era normal. Ele começou a ameaçar jogar ela. Minha irmã conversou com ele e ela pegou a neném bem acima da grade. Foi Deus que colocou ela aqui — conta a moradora.
A mulher relata que a menina tinha ferimentos na cabeça e no rosto. O amigo do pai da criança saiu do prédio e tentou acalmá-lo, depois da bebê ter sido resgatada. Nesse momento, o pai jogou o fação pela janela. Quando o carro da Brigada Militar chegou e os policiais falaram com ele, o jovem se jogou.
— Ele deve ter corrido em direção à janela porque caiu com o braço em cima da grade, se cortou. Aí, ele saiu correndo para a porta que dá acesso para a outra torre. Se jogou contra uma porta de vidro, quebrou a vidraça e continuou correndo, mas não tinha para onde ir. Os policiais imobilizaram ele até o Samu chegar. Ele estava todo roxo e espumava muito.
Segundo a moradora, a avó da criança trabalhava e a bebê ficava com o pai durante o dia. Quando ele saia para trabalhar, a criança ficava com uma babá. Essa babá não quis falar diretamente com a reportagem, mas relatou à moradora que cuidou da menina por sete dias e que, se imaginasse que algo assim pudesse acontecer, teria ficado com ela também na quinta. Para a vizinha, ainda é difícil acreditar que ele tenha jogado a menina.
— Nunca mais quero passar por isso, a tensão foi horrível e foi tudo muito rápido. Eu pensava que ele não ia jogar, sabe? Porque eu via sempre ele com a nenê, naqueles cangurus, arrumada e com a roupinha limpa. Parecia que cuidava bem. Aí, ver toda aquela situação com a bebê ali para fora da janela. Foi horrível.
A 4ª Promotoria Especializada da Infância e Juventude de Caxias do Sul afirma que irá ajuizar ação para aplicação de medidas de proteção cabíveis. A menina segue internada no Hospital Geral aos cuidados da avó paterna. O pai segue em um hospital da cidade depois de pular da janela. Ele está sob custódia da Brigada Militar. Assim que ele tiver alta será encaminhado ao presídio, segundo a delegada Thalita Andrich, titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente.
— A gente não tinha nem um tipo de denúncia nem de procedimento, nada dessa natureza aqui conosco. O laudo de lesões corporais não ficou pronto oficialmente ainda. Nós temos o boletim de atendimento do Samu que descreve alguns tipos de ferimentos, que não teriam sido em razão dessa queda, mas de uma situação anterior, que estamos ainda investigando. Não sabemos se foram praticados por ele na noite anterior ou durante a manhã mesmo — afirma a delegada.
A reportagem conversou também com a jovem que conseguiu pegar a menina antes que atingisse o chão. Ela estava a caminho do trabalho e relata que ainda estava em estado de choque.
Pioneiro: Como conseguiu pegar a bebê sem que ela se machucasse?
Testemunha: Eu decidi acompanhar a minha irmã porque ele estava fora de si e fiquei com medo que ele fizesse alguma coisa até mesmo contra minha irmã. Eu fui com ela para acompanhar, mas eu nunca pensei que tudo isso ia acontecer.
Conseguiu se manter calma enquanto falava com ele?
Sim, eu tentei me manter o mais calma possível para conseguir manter ele tranquilo porque eu vi que estava muito alucinado. Eu sentia, sabia que, de um jeito ou de outro, ele ia jogar a criança. Mesmo a gente implorando para ele não jogar, ele ia jogar igual. Ia jogar a neném em cima da grade. Ela ia ficar presa e morrer. Então, eu só pedi para ele sair um pouco de perto da grade e tentar jogar ela para o lado. Foi quando ele me jogou ela.
Pegou a bebê sem ela tocar na grade?
Consegui pegar ela no ar, sem que encostasse na grade ou caísse no chão. Ela chorava muito, estava muito assustada. Ela chorava desesperada. Eu fiquei em choque. A minha irmã queria pegar ela no colo e eu não quis dar a nenê sabe? Fiquei com medo. Peguei a chave do apartamento da minha irmã, subi e fiquei lá até a polícia chegar. Estava com medo dele querer pegar ela.
Ela estava machucada?
Fui ver se ela tinha alguma marca, se ele tinha machucado ela. Ela tinha marcas de ferimento na cabeça, pareciam uns pequenos cortes, mas não parecia nada grave. Ela tinha machucados no rostinho. Ele estava com um facão na mão quando atirou ela, então, provavelmente bateu nela com o facão. Ela estava com cheiro muito forte de xixi, mas não estava com a fraldinha molhada. Esse xixi não era dela. Fiquei tremendo, mas consegui acalmá-la aos poucos, enrolei num cobertor e ficou bem tranquila. Acredito que tinha que estar lá por algum motivo. Acredito muito no nisso.