
A onda de crimes que resultou na morte de sete pessoas em 40 dias deixou os órgãos de segurança em alerta em Garibaldi. O pequeno município da Serra já recebeu reforço no policiamento e as investigações estão em pleno andamento para identificar os responsáveis e entender se os últimos acontecimentos possuem relação entre si.
Que na maioria dos casos a disputa é por território e os homicídios são fruto da guerra entre facções não há mais dúvida. No entanto, a presença do Batalhão de Choque de Caxias do Sul minimiza o medo causado principalmente pela morte de um homem nas dependências do Hospital São Pedro, localizado no centro da cidade e que chamou a atenção das autoridades desde segunda-feira (15).
— É um fato inédito, que colocou em perigo uma série de pessoas e terminou com um assassinato cruel de uma pessoa que estava sob cuidados do hospital. É uma violação institucional do estabelecimento — definiu o delegado Clóvis Rodrigues de Souza, que investiga o caso.
Para o comandante do 3º Batalhão de Áreas Turísticas (3ºBPAT), tenente-coronel Artur Marques de Barcellos, desde o início do reforço, na última segunda-feira (15), a situação já atingiu a normalidade desejada e a sensação de paz parece ter voltado ao município. As ações da polícia ocorrem em horários específicos e em locais de maior vulnerabilidade.
— A nossa briga é para proteger o cidadão e fazer com que a violência não chegue na casa das pessoas. Qualquer morte é indesejada, a Brigada Militar trabalha para prevenir esse tipo de incidência, seja quem for a vítima — afirmou Barcellos, que seguirá contando com mais homens no reforço policial até "sentir que a tranquilidade das pessoas esteja restabelecida".
— Não temos prazo para a redução das ações. Garibaldi é uma cidade segura e de pessoas de bem. Iremos manter o policiamento para desarticular as organizações que estão atuando e realizar a prisão dos autores — complementou.

Na Delegacia de Polícia Civil, onde as imagens de segurança do Hospital São Pedro são analisadas para tentar identificar o autor do homicídio, as demais ocorrências são tratadas com cautela pelo delegado Clóvis Rodrigues de Souza. Para ele, ainda é cedo para afirmar que os crimes estão interligados. No entanto, o que já se pode comprovar é que os locais nos quais a violência ocorre já não são mais os mesmos.
De acordo com a Polícia Civil, nenhum dos crimes investigados ocorreu ou partiu do bairro Fenachamp, onde a insegurança se instaurou em 2017 e motivou um árduo trabalho das forças de segurança para pacificar o local.
— A gente compreende como o tráfico se expandiu na cidade a partir desse bairro. Foram as políticas públicas implementadas que resultaram na situação de tranquilidade atual. Agora é preciso repetir esse trabalho em outros pontos do município — contou o delegado.

O discurso sobre a segurança de um local que já foi cenário para a guerra do tráfico em Garibaldi é confirmado por moradores que acompanharam a situação mudar para melhor nos últimos anos. De Fontoura Xavier e há quatro anos como proprietário de um mercado na entrada do bairro, João Pedro Oliveira Pires, 54 anos, vê de perto a tranquilidade ser restabelecida aos poucos na vizinhança.
— Agora está bom, dois anos atrás estava bem complicado. Parece que foram brigar em outro lugar — comentou.
Na manhã desta quarta-feira (17), a rotina dos garibaldenses não havia sido alterada pela presença das forças de segurança e, nas rodas de conversa, o que se ouvia era o desejo de que o município permanecesse em calmaria.
— Essa história do hospital foi grave, nossa cidade não é assim — disse uma mulher, que não quis se identificar.
Natural de Porto Alegre e há quatro anos em Garibaldi, Paulo Martins, 68, se mudou para o município da Serra depois da aposentadoria e notou que a onda de crimes alterou o clima na cidade.
— Eu percebo que o pessoal está assustado, não é para menos. Mas, há quatro anos aqui, dá para ver que vem muita gente de fora. E, como eu sempre digo, tem o bom e o ruim — contou Martins, que foi abordado nos últimos dias por um policial militar.
— A placa de Alvorada chamou a atenção. A cidade não tem uma imagem muito boa, eu sei. Mas eles estavam fazendo o que era certo, e quem não deve, não teme — comentou.