Centenas de árvores nativas da Mata Atlântica foram derrubadas em uma obra que ocorria sem as licenças prévia e de operação, no bairro Santa Rita, em Bento Gonçalves. A ilegalidade ocorria a poucos metros da BR-470, em uma área que o 3º Pelotão Ambiental da Brigada Militar calcula possuir cerca de 6,5 hectares.
Na quarta-feira (17) atendendo à uma denúncia anônima, a ONG Associação Ativista Ecológica de Bento Gonçalves e a Patrulha Ambiental da Brigada Militar foram até o local e constataram um desmatamento equivalente às dimensões de três campos de futebol.
Segundo o comandante do 3º Pelotão Ambiental da Brigada Militar, sargento Vanius Moraes de Souza, um servidor público se apresentou como responsável de um grupo de sócios anônimos pelo empreendimento.
Concursado na prefeitura de Bento Gonçalves, o homem assinou a notificação dos fiscais da secretaria do Meio Ambiente que embargaram a obra. Na sexta-feira (18), a administração municipal de Bento Gonçalves revogou uma portaria que concedia Função Gratificada ao servidor desde 2017.
De acordo com o sargento, que acompanhou a ocorrência, a derrubada das árvores começou no centro do terreno e foi evoluindo para as laterais, uma prática de desmatamento já conhecida pela Patrulha Ambiental, por ser mais discreta.
— Além do corte da vegetação, houve movimentação do solo, pois os responsáveis enterravam as árvores que eram cortadas para não levantar suspeita — explicou o sargento.
Nesta segunda-feira (21), um laudo da prefeitura foi entregue à Patrulha Ambiental, que formalizou a denúncia no Ministério Público.
O secretário geral da ONG Associação Ativista Ecológica, Gilnei Rigotto, diz se tratar do maior desmatamento visto por ele em 30 anos de ativismo.
— Nosso jurídico vai solicitar que 50% da área seja confiscada para que seja feito um PRAD, Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas. O que ocorreu em Bento Gonçalves foi um absurdo, esse local abrigava diversas espécies de animais selvagens — afirma.
Nas redes sociais circula um projeto urbanístico do local com os lotes já definidos e em alguns deles há inclusive a reserva de aquisição de algumas empresas do município. O mapa é assinado por um engenheiro civil que também teria vínculo com a administração municipal.
Através da assessoria de imprensa, a prefeitura de Bento Gonçalves disse que a obra foi embargada, e a Secretaria Municipal do Meio Ambiente está fazendo o levantamento para ver quais são os danos e verificando a documentação da empresa responsável. Segundo a prefeitura, esse levantamento será concluído nesta semana.
Sobre o servidor que se responsabilizou pela área, a administração municipal diz que um processo administrativo já foi aberto para investigação da participação dele.