O caso do idoso resgatado de um cárcere privado surpreendeu a vizinhança da Rua Treze de Maio, no bairro Lourdes, em Caxias do Sul. O casal preso em flagrante morava de aluguel havia mais de um ano na residência onde o crime foi descoberto. Antes da pandemia de coronavírus, o imóvel era sede de uma escola de música. Os moradores e comerciantes da região afirmam que nunca haviam visto o idoso que foi resgatado pela polícia.
Os agentes da Polícia Civil chegaram na moradia perto das 9h de quinta-feira (2), o que chamou a atenção de populares. Como ninguém atendeu, a porta foi arrombada. Algum tempo depois, o idoso de 67 anos saiu carregado pelos policiais. No momento, os vizinhos pensaram que fosse alguém da família. Foi somente pelo noticiário que souberam que o idoso era mantido contra a sua vontade na moradia.
— Estamos aqui desde janeiro, e nunca vimos ele ou percebemos nada. É uma história muito chocante. Na casa, morava umas seis crianças. Elas a gente via brincando e fazendo barulho. Na hora que os policiais arrombaram, só pensava nas coitadas das crianças — relata um vizinho, que prefere não ser identificado.
O Conselho Tutelar foi acionado para verificar a situação das crianças e tomar as medidas cabíveis. Os policiais civis contam que não encontraram nenhum alimento na geladeira. A situação comoveu os policiais, que juntaram dinheiro entre a equipe e compraram biscoitos.
Encontrar o idoso naquelas condições insalubres foi uma surpresa até para os experientes agentes da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco). Durante as buscas na casa, o idoso se aproximou de um dos policiais e relatou sua situação com o tom de voz baixo, o que seria um indicativo de que ele tinha medo do que estava vivenciando.
— Fomos até lá em uma investigação sobre receptação e posse irregular de arma de fogo. Esse cárcere privado foi descoberto só quando policiais chegaram lá. Não é uma investigação, por isso tudo ainda precisa ser apurado e esclarecido — afirma o delegado Luciano Pereira.
O casal foi indiciado conforme o artigo 148, que é o mesmo que tipifica o sequestro. Nesse caso, o cárcere privado apresenta duas qualificadoras, por ser contra idoso e pela privação de liberdade durar mais de 15 dias. A pena prevista é de dois a cinco anos de reclusão.
No relato inicial, o idoso não conseguiu explicar como conheceu o casal ou há quanto tempo era impedido de sair daquela casa. Uma das hipóteses é que o homem e a mulher sacavam a aposentadoria da vítima. O idoso relatou que não tinha acesso aos seus cartões bancários.
— Ele apenas disse que (os suspeitos) não são seus parentes. Se usavam o dinheiro dele ou não, é algo que será analisado e ainda não está esclarecido. Não ficou configurado agressões, pois o idoso não tinha lesões. Ele não tem uma perna, o que é uma deficiência antiga, o que já inibia a sua locomoção. O que está claro é a situação insalubre e o pedido de socorro dele. De resto, tudo ainda será investigado — salienta o delegado Pereira.
O idoso foi entregue a familiares. Segundo a Polícia Civil, a família tinha perdido contato com ele há quatro anos.