Com apoio da tecnologia e maior visibilidade dos policiais nas ruas, os assaltos ao comércio parecem ser uma página virada na segurança pública de Caxias do Sul. Entre janeiro e junho, a maior cidade da Serra registrou 33 roubos deste tipo — o que representa menos de um crime por semana. A redução é de 52% na comparação com o primeiro semestre do ano passado.
O cenário era completamente diferente há cinco anos. Em 2015, Caxias do Sul registrou 677 roubos ao comércio. A média era de dois roubos por dia. As reuniões entre os lojistas e representantes policiais eram mensais.
— Naquela época fazíamos reuniões com cada segmento do comércio, como farmácia e postos de combustíveis. Existia uma comoção. Lá, começamos esta sensibilização dos comerciantes em investirem em equipamentos de monitoramento, que facilitam o reconhecimento e a responsabilização penal. De lá para cá, foram dezenas de prisões e condenações destes autores reincidentes — aponta o major Wagner Carvalho, subcomandante do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM).
O investimento em câmeras é facilmente visto ao entrar em qualquer loja. As conversas com os policiais ajudaram os comerciantes a escolher o melhor posicionamento dos equipamentos, de forma a filmar o rosto dos assaltantes. Com esta prova definitiva, as investigações e processos são finalizados mais rapidamente e os criminosos ficam mais tempo presos.
— Hoje está mais fácil identificar os autores. A sensação de impunidade ficou menor. As prisões e condenações acontecem. Assim, houve uma migração (dos ladrões) para outros crimes, como o tráfico (de drogas) e o estelionato. Foram para delitos com menos violência, em que se expõe menos (a resistência da vítima ou a um confronto com policiais) — complementa o major Carvalho.
O Sindilojas concorda que o investimento em câmeras é um fator diferencial para este bom momento na segurança. A presidente Idalice Manchini salienta que alguns lojistas passaram a instalar câmeras viradas para o lado de fora, justamente para ajudar na segurança da sua rua. Contudo, Idalice destaca a importância de uma maior presença policial.
— Percebemos esta diferença a partir da pandemia (de coronavírus). Parece que eles aproveitaram este tempo para melhorar a gestão. As câmeras são um fator, mas no fim das contas a segurança vem é dos policiais nas ruas — afirma.
Outro ponto que colabora para a redução dos assaltos ao comércio é a menor circulação de dinheiro em espécie. Na Farmácia Central, por exemplo, de cada 10 compras, seis são feitas pelo cartão. O gerente Francisco Grazziotin, 55 anos, ainda destaca que, se o valor da compra passar dos R$ 100, maior é a chance do pagamento ser virtual.
— Antes escutávamos falar de farmácias e mercados assaltados. Agora, não ouvimos mais. Nas ruas também, vemos menos pessoas "suspeitas" caminhando ou paradas pela praça. Com a pandemia o pessoal saiu menos e o policiamento também melhorou bastante. A Brigada e, principalmente, a Romu (Ronda Ostensiva Municipal, da Guarda Municipal), toda hora vemos passar alguma viatura — destaca Grazziotin, que trabalha há mais de 35 anos no ponto da Avenida Júlio de Castilhos.
Mesmo afirmando não ter preocupação com a segurança pública, o gerente da Farmácia Central mantém medidas de precaução. As equipes da noite sempre contam com pelo menos um funcionário homem e o caixa não fica próximo da porta de saída.
Situação semelhante é relatada pelo empresário Airton Antônio Dell Osbell. A Construbel Materias de Construção, no bairro Santa Lúcia, possui um vigilante contratado há mais de uma década. A contratação aconteceu após assaltos em sequência na loja, sendo que no último um sócio-proprietário foi baleado na cabeça.
— É um custo muito alto. Até cogitamos a possibilidade de não trabalhar mais com segurança, mas decidimos que não vale a pena arriscar. Realmente, nos últimos tempos está mais calmo. A gente não ouve mais falar em crimes no bairro — confirma o empresário.
Mesmo com os crimes em queda, o desejo por mais policiais nas ruas continua. Para exemplificar a importância, o Sindilojas cita a tradicional Operação Papai Noel, quando a Brigada Militar mobiliza a tropa para garantir a segurança no período de compras. O mês de dezembro é citado como o período de maior tranquilidade para o comércio.
— Seguro a gente não se sente porque não se vê a polícia nas ruas. Realmente, ouvimos falar menos (de assaltos) e vemos estas notícias (que crimes diminuíram), mas não sentimos esta segurança. Temos uma ideia (de que está seguro), mas para se sentir seguro precisamos ver policiais. Se vier um mal intencionado, não tem a figura do policial para inibir ou que poderíamos recorrer — reivindica Valério Valandro, 59, dono da Sorelia Calçados, na Rua Sinimbu.
Sobre a presença policial, o comando do 12º BPM aponta que o efetivo é distribuído conforme a análise criminal, que aponta os horários e endereços com mais delitos. Simultaneamente, a estratégia busca deixar o policiamento mais visível em pontos estratégicos, justamente para aumentar o sentimento de segurança do cidadão.
— Trabalhamos com até menos efetivo do que em 2015, mas estamos conseguindo nos destacar mais nos olhos da comunidade. A diminuição das ocorrências facilita isso. Com os níveis (de crimes) que tínhamos antes, não sobrava tempo para o trabalho preventivo. Hoje, imaginamos um controle, uma manutenção desses índices (baixos) para os próximos meses — afirma o major Carvalho.
Arrombamentos ainda preocupam os comerciantes
Procurada para falar sobre a segurança pública, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Caxias do Sul respondeu por nota oficial. O comunicado aponta preocupação com arrombamentos, furtos e outros delitos que não são registrados pelas empresas. Na semana passada, a entidade teve uma reunião interna para desenvolver ações com os associados para reforçar a importância do boletim de ocorrência junto à polícia.
Oficialmente, segundo dados da BM, aconteceram 202 arrombamentos em Caxias do Sul entre janeiro e junho deste ano. A estatística inclui crimes contra residências e estabelecimentos comerciais, bancários e de ensino. O indicador é semelhante ao do primeiro semestre de 2020, quando foram 200 arrombamentos.
Outra demanda do Sindilojas e da CDL é pela implantação do cercamento eletrônico de Caxias do Sul, que é uma promessa do prefeito Adiló Didomenico (PSDB).
Roubo a estabelecimento comercial:
:: Janeiro a junho de 2020: 69
:: Janeiro a junho de 2021: 33
:: Redução de 52%
Em 2015, foram 677 delitos, uma média de 56 roubos ao comércio por mês.
Arrombamento a residências e estabelecimentos comerciais, bancários e de ensino:
:: Janeiro a junho de 2020: 200
:: Janeiro a junho de 2021: 202
Aumento de 1%
Em 2015, foram 1.452 delitos, uma média de 121 arrombamentos por mês.