A agressão de dois passageiros a um motorista de aplicativo é o mais novo relato de violência na noite de Caxias do Sul. Segundo o boletim policial registrado pela vítima, a discussão aconteceu porque os passageiros queriam consumir bebidas alcoólicas e maconha no carro. O suspeito do ataque é um professor de artes marciais. Com mais de 22 mil corridas em três anos, o motorista Guilherme Giequelin, 32 anos, afirma que irá levar o caso à Justiça para servir de exemplo.
— Temos que expor essas coisas. Estou trabalhando e eles poderiam ter me matado por uma corrida de R$ 6. Isso não pode ser considerado normal — desabafa.
O chamado pelo aplicativo de carona aconteceu às 0h52min de sábado (29) em frente a uma cervejaria do bairro Exposição. Os passageiros eram dois homens e uma mulher. Os dois homens estavam com bebidas alcoólicas e o motorista pediu que consumissem antes de entrar no veículo, o que gerou uma primeira discussão.
— Solicitei que não bebessem dentro do carro, afinal é o meu local de trabalho. Tenho que fazer o que é certo. Eles já ficaram irritados, mas eu conhecia a mulher, por isso decidi continuar a corrida (até o bairro Bela Vista). No trajeto, eles começaram a gritar e dizer que iriam fumar maconha. Falei que não poderia, que o meu carro não era local para drogas. Quando chegou na residência dele, eles retomaram a discussão, me ameaçaram e me agrediram — relata Giequelin.
Um dos passageiros segurou os braços do motorista por trás do banco, enquanto o segundo foi até a porta e atacou a vítima com chutes e socos. Giequelin conseguiu de desvencilhar e sair do carro, mas continuou sendo agredido. O ataque só terminou quando colegas do motorista de aplicativo atenderam ao pedido de socorro.
Giequelin apresenta lesões na perna esquerda e na mão. Ele não conseguiu trabalhar no domingo e nesta segunda-feira (31). O exame de corpo delito está marcado para a terça-feira (1º). A vítima identificou um dos agressores como sendo um professor de artes marciais de uma academia. A reportagem não conseguiu contato com o suspeito.
Além das lesões provocadas, os agressores também danificaram duas portas do Fox prata alugado pelo motorista. O conserto foi orçado em R$ 1,2 mil. Este valor será cobrado via ação judicial. Giequelin é acompanhado pelo departamento jurídico da Associação de Motoristas de Aplicativos de Caxias do Sul (Amacs), representado pela advogada Kellen Pimenta.
Problemas com passageiros embriagados são comuns
O relato dos motoristas de aplicativos é que discussões com passageiros embriagados são uma rotina para quem trabalha à noite, mas não a violência do caso deste final de semana. Passageiros alterados em saídas de festas costumam insistir em pedidos ilegais, como embarcar em cinco em um automóvel.
— Esses conflitos, problemas, só acontecem com passageiros embriagados. Também tem passageiros que não querem pagar a corrida. É muito normal. De 30 corridas que faço por dia, duas dizem que não têm dinheiro para pagar — conta Giequelin, que afirma que cada vez mais motoristas recusam corridas de "passageiros suspeitos".
— Nessa função, temos que aprender a avaliar os passageiros antes do embarque. Corridas para dois passageiros homens, por exemplo, não aceito por medo de assalto. Sou um batalhador pela categoria e tento fazer o que é certo. Tenho 22 mil corridas e já passei por muitas situações, mas nunca como esta (agressões de sábado) — destaca.
Para se proteger de situações violentas, os motoristas de aplicativo se unem em grupos e mantêm comunicações constantes por aplicativas de celular. Giequelin participa de um grupo com outros 100 profissionais. Foram esses colegas que o socorreram das agressões.
— Em Caxias, é preciso ter um grupo para te monitorar. A segurança de motorista de aplicativo quem faz somos nós mesmos. Temos uma rádio interna e avisamos sobre riscos. Temos rastreador e sempre sabemos onde os colegas estão. Temos os códigos internos para avisar e escoltar um colega que precisar.
Média é de um assalto por semana, relatam motoristas
Outra parceria foi batizada de Grupo de Aplicativo e Transporte União (GAT União), que conta com 580 motoristas em Caxias do Sul. Um dos fundadores foi Anderson Silva, 33, que confirma os problemas em corridas noturnas. Outra preocupação são os assaltos.
— Está cada vez mais inseguro. Este é o segundo ano do grupo e estamos recebendo mais relatos de assaltos, média de um por semana. Acredito que seja a pandemia que está influenciando. O motorista é uma pessoa que está exposta, é chamado e vai até pessoas que não conhece, só embarca — aponta Silva.
Os roubos têm um padrão. O criminoso se passa por passageiro e tenta pegar confiança do motorista. Próximo ao destino, ele anuncia o assalto. Nos casos que os bandidos utilizam facas, a intenção é levar o dinheiro e celular da vítima. Quando é com arma de fogo, eles também levam o automóvel.
— Ele ganha a confiança e depois ataca. O motorista não tem como avisar ninguém. Tanto com arma quanto com faca. Quando é arma de fogo, é porque já tem algo programado para fazer com o carro — relata Silva.
De acordo com a Brigada Militar (BM), foram registrados 19 assaltos contra motoristas de aplicativos e táxi em Caxias do Sul em 2021. O pico foi em janeiro, que teve 12 roubos deste tipo. Nenhuma ocorrência foi registrada em maio.
— Temos uma boa relação com a liderança dos motoristas de aplicativo e, sempre quando há uma questão elevada de algum crime envolvendo esse segmento, reunimos os representantes, a BM e a Polícia Civil para adoção de providências — comenta o major Wagner Carvalho, subcomandante do 12º Batalhão de Polícia Militar.