Um casal foi preso por vender e aplicar vacinas adulteradas contra a gripe em Caxias do Sul. Segundo investigações da Polícia Civil, a empresa do casal adquiriu 300 doses de um distribuidor autorizado, mas comercializou e aplicou mais de mil doses nos últimos três meses. O laudo de análise apontou que o líquido presente nas ampolas tinha uma composição química semelhante a do soro fisiológico.
O homem de 46 anos e a mulher de 36 anos, que não tiveram as identidades divulgadas, devem ser indiciados por crimes contra a saúde pública, falsidade ideológica e uso de documento falso. A pena prevista é de 10 a 15 anos de reclusão. O casal não possui antecedentes criminais.
As falsas imunizações ocorreram em duas clínicas médicas, em diversas salas locadas pelo casal e em muitas empresas que contrataram o serviço. A Polícia Civil aponta que a aplicação das vacinas adulteradas foram realizadas em pelo menos outras três cidades: Gravataí, Porto Alegre e Cambará do Sul.
— A ampola da vacina (para gripe) é descartável, deve ser jogada fora após a aplicação. Só que este casal recolhia e reaproveitava esta ampola com soro fisiológico, como mostrou a análise. Basicamente, as vacinas eram aplicadas por esta mulher e o homem dava suporte administrativo para a prática — explica o delegado Vitor Carnaúba, da 1ª Delegacia de Polícia (1ª DP).
O casal investigado já havia sido autuado em três oportunidades pela Vigilância Sanitária e tiveram seu estabelecimento interditado no dia 16 de julho, quando foram apreendidas as amostras analisadas. Ainda assim, os investigados seguiram com a prática ilegal. A mulher dizia ser técnica em enfermagem, contudo, não possuía habilitação junto ao Conselho Regional de Enfermagem (Coren). Ela apresentava um diploma falso, que também foi apreendido pelos policiais.
— Quem nos comunicou da situação irregular foi Vigilância Sanitária. Começou com esta situação que investigada não tinha autorização para aplicar as vacinas, uma questão administrativa. Depois, foi visto que o certificado (de enfermagem) era falso. E durante as análises feitas no inquérito (policial) foi descoberta a adulteração — explica o delegado Carnaúba.
As prisões preventivas foram cumpridas na manhã desta segunda-feira (3) na Rua Avelino Manoel Avrela, no bairro Cruzeiro. A Polícia Civil não divulga os nomes dos investigados, da empresa ou das clínicas onde foram aplicadas as vacinas adulteradas.
— A vacina não foi aplicada em um só local e não sabemos ao certo onde foram aplicadas as verdadeiras doses (o casal adquiriu 300 para iniciar suas ações) ou não. Não temos como expor essa informação neste momento — argumenta o chefe da 1ª DP.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) afirma que irá, em breve, divulgar os nomes das clínicas que aplicaram as vacinas adulteradas para que as pessoas que receberam as doses possam procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e serem imunizadas corretamente.
A diretora técnica da Vigilância Sanitária de Caxias do Sul, Tanara Isotton, explica que essa falsa enfermeira procurou o serviço em março, interessada no processo de autorização para realizar a vacinação em clínicas.
— Ela não entregou a documentação e não recebeu alvará. Depois, passamos a receber denúncias que estariam vacinando em clínicas estéticas e em outros locais sem autorização. Nossa atuação é ir até o local, verificar que está trabalhando de forma ilegal e notificar. Em meados de abril, fizemos a primeira interdição (contra esta investigada). No início, não conseguimos recolher o material. Não fazíamos ideia de que as vacinas eram adulteradas, só sabíamos que não ela tinha a documentação necessária. Mas ela insistiu com a vacinação sem alvará e a investigação se desenrolou.
As vacinas analisadas foram apreendidas no mês passado, quando seis ampolas foram recolhidas em uma clínica de estética pela Vigilância Sanitária. Sobre o risco à saúde oferecido pela adulteração, Tanara explica que está em análise a forma como as falsas vacinas eram aplicadas.
— É algo que ainda está em investigação. O que temos pelo laudo que recebemos é que o que foi aplicado era soro fisiológico, o que não ofereceria risco ä saúde. Mas não sabemos a condição em que era armazenado e aplicado este soro, o que está sendo visto pela Polícia Civil — aponta a diretora técnica da Vigilância Sanitária.