O número de mulheres assassinadas por motivo de gênero dobrou no primeiro semestre no Nordeste gaúcho, que abrange 65 municípios. Foram seis feminicídios em cinco cidades entre janeiro e junho deste ano. No primeiro semestre do ano passado, aconteceram três mortes em três cidades da região. A alta regional segue uma tendência verificada em todo o Estado, que teve aumento de 24,4% no número de feminicídios — 51 mulheres assassinadas no primeiro semestre de 2020 contra 41 no mesmo período de 2019. Os dados foram divulgados pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP).
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Nos demais indicadores de violência doméstica, os números estão em queda. Em Caxias do Sul, foram 86 mulheres a menos agredidas fisicamente, o que representa uma redução de 21% na comparação com o ano passado. A diminuição foi semelhante nas ocorrências de ameaça, com baixa de 23%.
Na segunda cidade mais populosa da Serra, também houve queda nas ocorrências. Bento Gonçalves teve redução de 28% nos casos de lesão corporal e de 14% nas ameaças.
Apesar da redução, os números de mulheres agredidas ou ameaçadas são altos. Somadas, Caxias do Sul e Bento Gonçalves tiveram 1.048 casos de violência doméstica entre janeiro e junho. A média é de seis mulheres pedindo ajuda policial por dia.
Pandemia pode ter desestimulado vítimas a pedir ajuda
A análise da redução da ocorrências menos graves de violência doméstica precisa considerar a crise do coronavírus. Autoridades e psicólogos apontam que efeitos do distanciamento social possa ter desestimulado os registros oficiais. O temor é que as mulheres continuem sendo agredidas por seus companheiros, mas não estejam conseguindo pedir a ajuda, o que reduz as estatísticas.
Essa hipótese é reforçada quando é feita comparação mensal dos casos. O primeiro trimestre de 2020 teve a média de 67 mulheres agredidas fisicamente em Caxias do Sul. Entre abril e junho, a média foi de 37 casos de lesão corporal. Na cidade, as primeiras medidas de restrição contra o coronavírus foram adotadas na segunda quinzena de março.
Os números estaduais são semelhantes. Entre janeiro e março, o Rio Grande do Sul registrou uma média de 1.979 mulheres agredidas por mês. No segundo trimestre, a média caiu para 1.249 casos. Uma redução de 37% dos registros de lesão corporal.
Foi diante deste cenário que, ainda em maio, o governo estadual lançou a campanha Rompa o Silêncio. A ação tem foco no compartilhamento pelas redes sociais e busca difundir ao maior número de pessoas possível os canais para denúncias anônimas. São ferramentas que podem fazer a diferença para salvar a vida de mulheres vítimas de agressões e abusos no Rio Grande do Sul.
DENUNCIE A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
:: Emergências 190 (Brigada Militar) e 197 (Polícia Civil)
:: Disque-Denúncia 181
:: Denúncia Digital: ssp.rs.gov.br/denuncia-digital
:: WhatsApp (Polícia Civil): (51) 98444-0606
:: Escuta Lilás: 0800-541-0803
Estupros crescem 61% em Caxias do Sul
Nos dados estaduais, o número de estupros chamou atenção em Caxias do Sul. Foram 21 casos de janeiro a junho, oito a mais que nos primeiros seis meses de 2019. Um crescimento de 61% que difere da tendência estadual. Em todo o Rio Grande do Sul, foram 780 estupros, seis a menos que no mesmo período do ano passado — o que representa uma queda de 0,8%.
A estatística da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) causou estranheza aos delegados da cidade. Na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), foram instaurados 11 inquéritos sobre estupro neste primeiro semestre. No ano passado, haviam sido 14 no mesmo período.
— O que temos é uma redução. A maioria (das investigações) são de crimes no ambiente doméstico, que são enquadrados na Lei Maria da Penha, e outros seis foram em outros locais, que podem ser em uma festa, por exemplo. Com certeza, não temos nenhum estuprador em série — aponta a delegada Carla Zanetti, que afirma que estupros nas ruas e com autores desconhecidos pela vítima são exceções.
A estatística estadual também inclui estupro de vulneráveis, que são investigados pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). Contudo, o delegado Caio Márcio Fernandes afirma não ter percebido um aumento dos relatos.
— Aparentemente, o número de comunicações parece se manter. Não vejo uma influência da pandemia (de coronavírus). Muitas das ocorrências registradas acabam sem fundamentos, pois envolvem disputas de guarda, ou não tem elementos suficientes para um indiciamento. Não percebemos este aumento (dos crimes de estupro) — analisa.