O novo decreto em Caxias do Sul, que limita o consumo e a venda de bebidas alcoólicas e proíbe encontros em parques, é uma reação da prefeitura contra a insistência de parcela da população que ainda não se conscientizou sobre a necessária precaução contra o coronavírus. Em 96 dias de medidas contra o coronavírus, a fiscalização da Secretaria Municipal de Urbanismo já recebeu 4,5 mil denúncias. O temor é que as aglomerações façam a região voltar para bandeira vermelha, com o fechamento do comércio e prejuízos à economia.
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A maioria das denúncias sobre aglomerações é feita à prefeitura pelo Alô Caxias, no telefone 156. A constatação é que, com o passar das semanas, parte da comunidade caxiense tem relaxado e descumprido as medidas de prevenção. O canal já chegou a receber 600 informações por dia. A prefeitura conta com 14 fiscais para verificar o cumprimento dos decretos.
— Chegamos a ter 50 reclamações por hora, no início dos decretos e na semana que teve bandeira vermelha. Agora, com a bandeira laranja, voltou a diminuir um pouco. No total, já recebemos 4,5 mil denúncias e conseguimos verificar 3,5 mil. Claro, muitas não procedem, mas há várias que sim. Já encontramos festas, bailes, de tudo, até o rodeio de ontem a tarde (quinta-feira) — aponta Rodrigo Lazarotto, diretor de Operações da Fiscalização.
Outro número preocupante é o de pessoas sem máscaras: já foram 150 notificações com multa de R$ 172,45. Esta fiscalização das pessoas nas ruas deve aumentar com o novo decreto, que prevê multa para quem consumir de bebida alcoólicas em qualquer espaço público ou estiver aglomerado em parques e praças, que só devem ser utilizados para prática de exercícios físicos solitários.
O mais recente capítulo de descumprimento das medidas contra o coronavírus foi um rodeio clandestino, que foi interrompido pela Guarda Municipal em uma cancha na Zona Norte na tarde de quarta-feira (24). O flagrante aconteceu às 17h, quando o local estava apenas em organização, e Secretaria de Urbanismo, João Uez, notificou o local. A expectativa é que o rodeio contasse com a participação de centenas de pessoas. Segundo Uez, um novo descumprimento poderá acarretar em multa de R$ 35 mil.
No final de abril, a fiscalização já havia encerrado um encontro de 80 jovens no bairro Distrito Industrial. Na ocasião, diversas pessoas foram autuadas pelo não uso de máscara. Outra situação que chamou atenção foi uma invasão no Jardim Botânico no último domingo. O portão estava fechado, mas uma parte da cerca foi derrubada. Foi o suficiente para 500 pessoas se espalharem ao parque.
— A Guarda Municipal encontrou famílias, crianças e pessoas tomando chimarrão. Cada vez chegam mais informações sobre festas clandestinas, escondidas em loteamentos não acabados ou chácaras particulares. No início, o pessoal estava assustado (com o coronavírus), mas com o passar das semanas foram ignorando a pandemia. Estamos trabalhando em três ou quatro equipes, mas são muitas situações. É uma cidade de 500 mil habitantes, não tem como fiscalizar todos. É preciso conscientização das pessoas, uma consciência coletiva — desabafa Lazarotto.
O novo decreto seria um novo alerta à população, por possibilitar mais responsabilização dos infratores. O ponto principal é a multa para quem consumir da bebida alcoólica em locais públicos — que será somada a multa por não uso de máscara. A venda de bebidas alcoólicas também fica vedada das 22h às 7h. Os postos de gasolina também serão responsáveis por aglomerações em sua área.
— Arredores de postos de combustíveis, praças, parques e ruas são locais mais críticos. Também gosto de tomar chimarrão, mas o momento não condiz com tais atividades de lazer — reforça o secretário Uez.
O alerta também vale para encontros de família, mesmo que em suas casas, para almoços ou jantares de final de semana. Mesmo que de confiança, cada pessoa possui o seu local de trabalho, os seus vizinhos e faz compra em um mercados diferentes, ou seja, estão expostos a riscos variados. A prefeitura salienta que é preciso evitar que o vírus circule. O secretário Uez admite que seria constrangedor fazer qualquer fiscalização nas casas das pessoas, por isso reforça a necessidade de conscientização por todos:
— Solicitamos que as pessoas não façam estas festas particulares. Se não residem no mesmo teto, não são coabitantes, são pessoas que estão expostas a riscos diferentes. Estamos em um momento delicado de saúde pública. Não façam qualquer tipo de aglomeração. Não adianta ter regras e sanções se a população não se conscientiza.