Cacos de vidros, vidraças estilhaçadas pela rua, carros com marcas de bala e de sangue mudaram a rotina de Paraí, cidade que despertou com a troca de tiros entre criminosos e a Brigada Militar (BM) na madrugada desta sexta-feira (6). Por volta das 2h, sete bandidos morreram em confronto após invadirem duas agências bancárias da cidade. Até o final da manhã, o movimento era atípico e o silêncio dominava o entorno das ruas onde ocorreu o confronto. Os alvos dos assaltantes eram o Banco do Brasil, que fica na Avenida Castelo Branco, e o Sicredi, na Rua Sete de Setembro.
— Acordei com os tiros e muitos gritos. Nem no Exército, durante os treinamentos, ouvi tanto tiro. Não tive coragem de olhar pela janela — conta um aposentado que mora entre os dois bancos.
Um empresário, no entanto, conta que a curiosidade foi maior que o medo:
— Foi um horror, mas eu rastejei até a janela e vi os policiais cercando um deles. Ele (o assaltante) gritava que ia atirar. Parecia um filme de terror.
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O primeiro tiroteio durante a madrugada aconteceu no Banco do Brasil. Três assaltantes morreram dentro da agência. Cerca de cinco minutos depois, os tiros recomeçaram na agência do Sicredi. Os quatro que estavam no local tentaram fugir, invadindo o estacionamento de uma loja de móveis, aos fundos do banco. No momento do ataque, os criminosos vestiam máscaras, luvas, coletes e estavam fortemente armados. A identificação ainda não foi confirmada pela polícia.
— Dois morreram no caminho e os outros dois correram para pular a cerca de uma oficina mecânica. Tinha um cachorro, que não deixou eles pularem. A BM gritou e mandou se renderem, mas um respondeu que ia atirar. Aí teve uma nova troca de tiros — conta outro morador.
Em frente aos bancos, vários carros apresentavam marcas de tiro e pneus furados pelas balas trocadas entre as forças de segurança e os bandidos. Uma senhora de 71 anos vive em um apartamento próximo dos bancos e se escondeu no banheiro.
— Meu filho é sargento e sempre me diz, “mãe, tu mora em cima de um banco. Se ouvir algum tiro, se esconde no banheiro. E eu fiquei lá, sentada — relata, da sacada onde observa a perícia.
Ela conta que depois de vinte minutos abriu a sacada:
— Fico feliz por nenhum policial e morador ter se machucado, mas é triste ver um jovem como o que vi aqui morto assim. Sinto por essas mães.
Outro morador ainda não acredita no que a cidade viveu:
— Foi um pesadelo. Corpos e sangue no chão. Um filme de terror na nossa pequena e calma Paraí.
Um jovem que trabalha em uma das lojas que teve as vitrines atingidas conta que viu um dos carros dos criminosos. Ela diz que, ao chegar da faculdade por volta da meia-noite, estranhou o veículo parado na rua e chegou a chamar a polícia:
— Achei estranho aquele carro parado com quatro homens dentro. Liguei para a Brigada na hora. Não atenderam e entrei em casa. Às 2h acordei com todos aqueles tiros.
Uma sequência de lojas tem buracos de bala nas fachadas. Em outros pontos, os disparos estilhaçaram as portas de vidro. Na calçada, um pote de vidro repleto de miguelitos comprova a organização do bando para uma possível perseguição, que não ocorreu pela antecipação dos policiais.
Ao menos nove quadras do centro de Paraí foram isoladas pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Brigada Militar para retirada de artefatos que poderiam ser explosivos. Por volta das 9h os artefatos foram retirados do Sicredi e, por volta das 10h, um robô foi usado pela Polícia Civil para retirar as mochilas que permaneciam dentro do Banco do Brasil. As bolsas foram recolhidas e levadas a uma área segura.
Monitoramento eletrônico auxiliou as forças de segurança
O monitoramento eletrônico em Paraí auxiliou as forças de segurança a frustrar o ataque nas agências do município. As gravações devem ajudar a identificar os bandidos.
— Moro no interior e ouvi os tiros. Liguei para o sargento da BM para entender o que o estava acontecendo. Aí, mais tarde, ele me atualizou sobre a situação. O clima da cidade agora é um pouco apreensivo porque não estamos acostumados com esse tipo de situação. Os moradores vão ficar mais atentos com pessoas e carros desconhecidos. O trabalho de monitoramento deu retorno positivo, já que não há moradores e policiais feridos — diz o prefeito Gilberto Zanotto (PDT).