Integrantes do grupo de voluntários Bicho de Rua se reuniram na tarde desta terça-feira (28) em frente da delegacia de Bom Jesus para protestar contra casos de violência contra animais na cidade. Algumas situações, segundo os voluntários, são classificadas como zoofilia. O último caso de agressão ocorreu na manhã desta terça na praça central do município, com um cachorro que vive na rua, mas é cuidado pela comunidade. Naira Bortolloto, uma das voluntárias envolvidas no protesto, conta que o bicho vive na área central e é chamado de Cristão. Ele foi encontrado sangrando e com lesões na região do ânus.
— Achamos que ele foi estuprado em função dos ferimentos encontrados. O Cristão é o primeiro a entrar na igreja assim que o padre abre as portas. Ele fica nas missas e é muito dócil e querido. É revoltante porque pelo menos uma vez por mês temos suspeitas de casos parecidos. Não vamos nos calar. Queremos providências das autoridades porque sabemos quem cometeu esses crimes, mas o processo sempre esbarra na falta de provas. Por isso precisamos da ajuda da polícia. Algo precisa ser feito. Isso não pode ficar assim! — indigna-se ela.
Proprietário de uma padaria no Centro, Gelson Barbosa dos Santos, conta que Cristão estava em frente ao estabelecimento por volta das 6h30min desta terça:
— Ele está sempre aqui me esperando. Eu dei comida e água para ele como todos os dias e ele saiu em direção à praça. Uns 20 minutos depois ele voltou chorando e com muito sangue escorrendo pelas patinhas. Levamos ele no veterinário, estava com a respiração ofegante. Amamos os animais e cuidamos dos que ficam aqui pelo Centro. É inaceitável o que fizeram com ele!
Após saber da agressão, o padre Lindomar Santos também convocou a comunidade para se mobilizar e buscar justiça.
— Cristão foi adotado pela comunidade católica da Paroquia do Senhor Bom Jesus. Há mais de dois anos ele frequenta regularmente as missas na Igreja Matriz. É um cão de rua que é conhecido e amado por todos — diz.
O padre ainda afirma que a comunidade está perplexa e indignada com o que está acontecendo em Bom Jesus:
— As agressões sofridas por ele deixaram a comunidade perplexa. Há um sentimento de revolta e, ao mesmo tempo, de tristeza. O Cristão não é agressivo, ele busca e aceita o carinho de todos, não percebe a maldade que há no coração de alguns humanos — desabafa o padre.
Cristão teve lesão anal
O veterinário Nicolas Boschi Vianna atendeu Cristão logo depois do cão ter sido atacado nesta terça e afirma que o caso pode ser tratado como zoofilia, mas faz ressalvas:
— Teria que ser feito um exame mais detalhado. O ferimento pode ter sido provocado por um pedaço de madeira ou outro objeto, por exemplo, o que não minimiza a violência contra o cão.
Ele explica que o cachorro foi medicado e se recupera da agressão.
— Ele foi medicado e está em um local seguro para se recuperar. Para o animal, um ato assim é sempre uma agressão e uma violência — ressalta.
Polícia irá investigar o caso desta terça-feira
A Brigada Militar (BM) foi acionada para atender a ocorrência, mas os policiais não encontraram os supostos autores do ataque ao cão. O delegado Vítor Fernando Boff, que responde por Bom Jesus, afirma que a Polícia Civil não foi comunicada sobre os casos. Ele explica que em casos casos de zoofilia ou agressões contra animais é essencial que um boletim de ocorrência seja registrado. Isso servirá para que a polícia tenha elementos para começar uma investigação.
— Sobre esse caso mais recente, de hoje, já determinei que fosse efetuado o registro, antes mesmo que o boletim fosse feito pelos voluntários, já que há elementos para serem verificados a respeito dessa violência contra o animal.
Ele ressalta que, em conversa com os investigadores, apurou que há indicação de possíveis autores:
— Vamos buscar testemunhas e colher declarações dessas pessoas apontadas como suspeitos para encaminhar o processo à Justiça.
O QUE DIZ A LEI
De acordo com Lei de Crimes Ambientais 9.605/98, quem abusar, ferir ou mutilar animais silvestres domésticos ou domesticados (nativos ou exóticos) poderá ser detido por um período que varia de três meses a um ano e também pagará multa. Caso o animal morra em decorrência da violência sofrida, a legislação em vigor estabelece o aumento da penalidade.