Atacada com o que aparenta ser ácido, a venezuelana Ariana Victoria Godoy Figuera, 24 anos, morreu no início da manhã desta sexta-feira (13) em Caxias do Sul. O crime aconteceu em frente à casa da vítima na rua Cristiano Ramos de Oliveira, no bairro Desvio Rizzo, e foi registrado como homicídio por meio cruel. O caso é investigado pela Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam). Ariana deixa um filho de quatro anos e uma filha de um ano.
Segundo familiares, o suspeito inicial é um ex-namorado que Ariana teve em Roraima. Conforme a família relatou à polícia, ela vivia em Boa Vista, onde já havia procurado a polícia local em 25 de setembro para relatar uma agressão do então namorado. Ainda segundo os familiares de Ariana, ela deixou a capital de Roraima para fugir do agressor, que teria seguido a jovem até o Rio Grande do Sul.
De acordo com o boletim policial, o ataque aconteceu por volta das 22h30min da quinta-feira (12). A mãe de Ariana relatou que a filha chegava em casa quando, no portão, foi chamada por uma pessoa. Quando a moça olhou, o agressor arremessou um líquido no rosto da vítima, que gritou de dor. O suposto ácido causou diversas queimaduras no rosto e peito de Ariana.
A família tentou acionar o Samu, mas, diante da demora, utilizou um aplicativo de carona para levar a jovem até a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Zona Norte. Devido à gravidade dos ferimentos, Ariana foi transferida para o Hospital Pompéia. O óbito foi declarado pouco depois das 7h desta sexta-feira (13), após os familiares serem comunicados.
O agressor fugiu correndo logo após o ataque. Após ser acionada pelo hospital, a Brigada Militar (BM) ouviu familiares da vítima e realizou buscas, mas ninguém foi preso.
Caso confirmada a suspeita da família, este seria o quinto feminicídio (morte de mulher em razão do gênero) registrado em Caxias do Sul em 2019. No total, o ano contabiliza 84 assassinatos na cidade.
Pelo relato por telefone, Samu não constatou urgência no caso
Procurado pela reportagem sobre a suposta demora no atendimento, o Samu, por meio da assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Saúde, respondeu que o relato por telefone não demonstrava ser um caso de extrema urgência e que recomendou que a vítima fosse levada por familiares até a UPA Zona Norte. Confira a nota emitida no início da tarde desta sexta-feira (13):
Por volta de 00h15, já na madrugada desta sexta-feira (13), a irmã da vítima entrou em contato com o SAMU. A ligação durou cerca de 3 minutos e ela explicou para a médica plantonista que havia sido jogado um líquido na cara da sua irmã e que estava ardendo e começando a ficar vermelho. Não foi dito que seria enviada uma ambulância do SAMU justamente pela descrição da situação não aparentar ser de extrema urgência. Pela descrição dada, a médica recomendou que a Ariana fosse levada até a UPA Zona Norte para fazer uma lavagem na região e aguardar uma consulta com o oftalmologista. Durante a madrugada, uma equipe do SAMU realizou o transporte dela da UPA até o Hospital Pompéia.
Casos envolvendo queimaduras com ácido assustaram moradores de Porto Alegre
O ataque à venezuelana lembrou uma série de crimes em Porto Alegre neste ano: cinco pessoas foram vítimas de ataques com ácido na zona sul da Capital entre os dias 19 e 21 de junho. O homem que atacou a dona de casa Bruna Machado Maia, 27 anos, a primeira vítima, estava em uma bicicleta e usava um capuz branco para tentar cobrir o rosto.
O crime aconteceu na Rua Santa Flora. Quando percebeu que ele se aproximava, Bruna chegou a trocar o lado da calçada, mas foi seguida pelo criminoso. Ele carregava uma garrafa pet transparente na mão direita. "Olha a água!", gritou ao arremessar o líquido.
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Após quatro meses de investigação, a Polícia Civil prendeu o empresário Wanderlei da Silva Camargo Júnior, 48 anos. Ele está preso preventivamente desde outubro. Informalmente, o investigado disse aos policiais que pretendia mostrar à ex-companheira que os locais que ele frequenta não eram seguros — os ataques foram em trajetos que ela usava. Assim, queria convencê-la a morar com ele no Paraná. Segundo a polícia, as vítimas foram escolhidas aleatoriamente.
Na semana passada, o Tribunal de Justiça negou um pedido da defesa e decidiu manter preso o acusado. Conforme a decisão, a manutenção da prisão preventiva é necessária para "garantia da ordem pública". Camargo Junior está recolhido preventivamente desde outubro, quando foi detido pela Polícia Civil no Paraná, e é réu desde o dia 22 do mesmo mês.