Os dados mais recentes sobre o número de crimes registrados no Rio Grande do Sul mostram que as principais cidades da Serra vêm mantendo uma trajetória de queda no número de roubos, ou seja, nos casos em que a vítima é ameaçada ou agredida pelo ladrão. Uma atualização com a estatística de outubro de 2019 foi divulgada nesta terça-feira (12) pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Rio Grande do Sul. Caxias, Bento e Farroupilha tiveram redução nos números entre janeiro e outubro em relação ao mesmo período nos dois anos anteriores.
Em Caxias, maior cidade da Serra, foram 1.527 registros de roubos em geral neste ano, sem contar os roubos de veículos. É um número ainda alto, que corresponde a mais de cinco casos por dia na cidade, mas ainda assim representa uma redução de 8,7% em relação aos 1.673 registros entre janeiro e outubro de 2018, e de 36% na comparação com o mesmo período em 2017, que teve 2.394 casos.
A mesma redução continuada ocorre em Bento Gonçalves e Farroupilha. Em Bento, foram 206 casos neste ano, contra 354 de 2018 e 464 de 2017. Em Farroupilha, 140 casos contra 160 do ano anterior e 295 em 2017.
Na estatística de roubos de veículos, a redução em Caxias do Sul também é significativa. Foram 723 casos nos dez primeiros meses de 2017. O número caiu, no mesmo período, para 520 em 2018 e 358 em 2019. No período de dois anos caiu pela metade.
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Outro destaque é para Bento Gonçalves. Se 2017 e 2018 tiveram números parecidos entre janeiro e outubro (60 e 63 casos, respectivamente), 2019 teve 28 registros no período – recuo de 55% em relação ao ano anterior. Já Farroupilha teve uma estabilidade nos registros: 66 em 2017, 70 no ano passado e 69 neste ano.
Ainda em relação aos crimes tendo como alvo os veículos, os casos de furto – quando o objeto é levado pelo ladrão sem que a vítima perceba ou esteja presente – oscilaram, mas são menores neste ano do que em 2017. Em Caxias do Sul, por exemplo, o aumento foi de 20% em relação a 2018, com 933 casos em 2019 contra 777 do ano passado. Mesmo assim, menos que os 1.382 registrados em 2017.
Em entrevista ao programa Gaúcha Hoje da rádio Gaúcha Serra ontem, a chefe de Polícia Civil do Rio Grande do Sul, delegada Nadine Anflor, atribuiu a queda nos crimes, entre outros fatores, a um trabalho integrado entre as forças de segurança.
— Tem o trabalho de investigação da Polícia Civil, mas também a Brigada Militar (BM), com o policiamento preventivo, e a integração com as Guardas Municipais. Temos o Projeto RS Seguro, que foca nos chamados CLVI, os Crimes Violentos, Letais e Intencionais, o que inclui os roubos, nas 18 cidades que têm os maiores índices de violência.
Nadine também cita a lei dos desmanches, que passou a vigorar em 2015, como um fator de impacto no número de crimes.
— Com certeza a lei contribuiu, ao focar em quem recebe as peças roubadas. A população tem que se engajar também e não pode comprar peças que não sejam legalizadas — destaca a chefe de polícia.
Bento Gonçalves e Farroupilha têm mais assassinatos
Entre os 18 municípios citados pela delegada de polícia como prioritários para ações dos órgãos de segurança pública, Caxias do Sul é o único representante da Serra. A cidade tem visto o número de assassinatos diminuir neste ano em relação a 2018. Conforme a ferramenta Contador da Violência, mantido pela Redação Integrada do Grupo RBS, foram 76 casos neste ano contra 99 no mesmo período de 2018 e 109 em 2017.
No entanto, os casos em Bento Gonçalves e Farroupilha tiveram um salto. No ano passado, Bento terminou com recorde de assassinatos, com 53 casos, e este ano já houve 46 registros. Já em Farroupilha, o número de assassinatos passou do triplo de 2018, quando foram registrados sete casos. Em 2019, foram 22.
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Conforme Nadine, em paralelo ao trabalho nas 18 cidades prioritárias, os órgãos de segurança tiveram que voltar a atenção aos municípios vizinhos.
— O crime anda e a polícia tem que se reorganizar. Há alguns meses o RS Seguro tem convocado outros municípios que precisam de atenção.
Em Bento Gonçalves, a delegada afirma que a ação da Polícia Civil foi intensificada no fim do mês de agosto, que terminou com nove homicídios na cidade, com trabalho de inteligência e reforço policial. Foi empregada, inclusive, a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Caxias do Sul.
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— Em outubro, tivemos apenas dois homicídios em Bento Gonçalves, onde a Draco trabalhou incessantemente nos últimos dois meses. Isso demonstra que, com o reforço de efetivo e uma inteligência policial focada em determinados delitos, conseguimos observar e acompanhar a movimentação das facções. Claro que tem muito ainda a melhorar — comenta.
A falta de efetivo é um dos entraves para a atuação das forças de segurança do Estado. Há cidades na região, como Bom Jesus, onde foram registrados nove mortes violentas neste ano, o triplo do ano passado, em que não há delegado titular.
Conforme Nadine, há casos em que um delegado fica responsável por seis a sete delegacias, o que prejudica a qualidade do trabalho. Ela afirma que um concurso em andamento para 100 delegados deverá começar a preencher vagas no ano que vem.
— Uma primeira turma de 50 delegados vai cobrir principalmente o interior. Eles ingressam em março na academia. Também serão chamados novos agentes. Mais de 200 ingressarão nessa turma no mês de março — destaca a delegada.
Feminicídios
Caxias do Sul registrou na segunda-feira o quarto feminicídio do ano. De acordo com o levantamento da Secretaria da Segurança Pública, Caxias teve, desde 2012, 35 casos de feminicídio, contando este último.
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Para a delegada Nadine, é fundamental que as mulheres denunciem. Segundo ela, 70% das mulheres que morrem vítimas de feminicídio sequer fizeram ocorrência policial.
— Estamos inaugurando um ambiente acolhedor chamado de sala das margaridas. Queremos que as 44 Delegacias de Polícia de Pronto Atendimento (DPPAs) do Estado tenham ambiente acolhedor para as mulheres.
Para a chefe de polícia, é necessária ainda uma mudança cultural, e não apenas as denúncias. Ela comenta que é preciso trabalhar com os meninos, adolescentes e jovens.
— Todos os crimes de feminicídios e a violência contra a mulher sempre, no fundo, têm um sentimento de posse e propriedade do homem em relação à mulher. Tem que quebrar essa ideia de que “se a mulher não vai ser minha, não vai ser de mais ninguém". Em muitos casos, a gente tem feminicídio seguido de suicídio, o que demonstra que o homem também precisa de ajuda — diz, acrescentando que é preciso que vizinhos e parentes também apoiem a mulher, e não apenas os órgãos de segurança, para que a vítima consiga dar um passo à frente e denunciar.
Crimes relacionados ao tráfico
A delegada Nadine Anflor comenta que, em anos passados, as grandes apreensões de drogas resultavam de investigações que muitas vezes eram demoradas. Atualmente, grandes quantias são apreendidas em ações de fiscalização do policiamento ostensivo, em especial nas rodovias, com o trabalho da Polícia Rodoviária Federal e da Brigada Militar.
— Se tem tanta droga circulando, é porque há muito consumo. É por isso que a população tem que se envolver. Não teria roubo de veículos se não tivesse alguém para comprar a peça roubada. Não teríamos tanto tráfico de drogas se não houvesse um consumo tão grande — afirma.
Segundo ela, as forças policiais, e a Civil nas investigações, buscam tirar a droga do mercado focando principalmente nos líderes, os grandes traficantes.
— É o que a gente tem que fazer, não só recolhendo as drogas, mas focado principalmente na descapitalização desses crimes. É muito dinheiro que circula, e precisamos descapitalizar as organizações.
:: Em Caxias do Sul, foram 182 casos de posse de drogas em 10 meses neste ano, um leve aumento em relação aos 161 casos do ano passado. Já em relação a tráfico de drogas, houve uma queda de 40% no número de registros: foram 200 casos neste ano em 10 meses, contra 282 entre janeiro e outubro de 2018.
:: Em Bento Gonçalves, foram 128 casos de posse de drogas neste ano, contra 104 nos 10 primeiros meses de 2018. Já no crime de tráfico de drogas, foram 101 registros entre janeiro e outubro deste ano, uma redução de 19% em relação aos 125 casos do mesmo período do ano anterior.
:: Em Farroupilha, onde o número de assassinatos triplicou neste ano, os casos relacionados a posse e tráfico de drogas tiveram aumento. Nos dez primeiros meses de 2019, foram 127 casos de posse contra 71 no mesmo período de 2018, uma alta de 78%. O tráfico teve uma oscilação pequena, com 59 registros em 10 meses neste ano contra 54 no mesmo período do ano anterior.