Enquanto a maioria dos municípios gaúchos registra redução de homicídios, Farroupilha viu seus assassinatos triplicarem em 2019. Contudo, o salto de sete para 22 assassinatos não parece ter surpreendido as autoridades locais. O entendimento é de que as mortes são um avanço das disputas pelo tráfico de drogas que já foi visto nas vizinhas Caxias do Sul e Bento Gonçalves e apenas demorou para chegar no município de 72 mil habitantes. Como as execuções atingem na "maioria criminosos" e estão concentradas em duas localidades, não alterou a sensação de segurança da maioria dos moradores.
Ao contrário de outras cidades, a inteligência policial de Farroupilha não detectou a chegada de uma liderança da facção, que costuma trazer armas mais letais e montar um grupo de extermínio para expulsar (ou executar) rivais. O que é visto é apenas a influência desse crime organizado: traficantes locais passaram a comprar a droga de membros destas facções em outras cidades e a utilizar o nome delas para impor "respeito".
Como as facções são apenas fornecedoras, não raro um traficante troca de lado em busca de um preço melhor e pontos de tráfico utilizando nomes de grupos rivais atuam na mesma comunidade — o que em outras cidades não acontece, justamente porque os criminosos matam os desafetos e clamam o controle sobre a venda de drogas.
Esta mudança foi suficiente para acirrar os ânimos neste submundo do crime, o que explica a elevação dos assassinatos. De acordo com a Brigada Militar (BM), 19 das 22 vítimas tinham antecedente policiais — e 11 delas já haviam passado por uma cadeia. Por isso, o foco das ações policiais é em coibir esta venda de drogas.
— Estamos fazendo uma repressão muito forte, mas, quanto mais prendemos e apreendemos (de drogas), mais prejuízo trazemos para estas pessoas. Como elas estão comprometidas com facções, ficam devendo e, pela lei delas, acabam pagando com a vida — aponta o major Juliano Amaral, subcomandante do 36º Batalhão de Polícia Militar (36º BPM) citando as 630 prisões já realizadas neste ano.
A avaliação do delegado Rodrigo Morale é semelhante, que afirma ter o combate ao tráfico como uma prioridade da Polícia Civil.
— O aumento (dos homicídios) é pela razão do tráfico, mas não tenho como afirmar o porquê (mudou na comparação com o ano passado). O crime de homicídio, não temos como prevenir. Tentamos prevenir o tráfico e realizar estas prisões. E, elucidar os homicídios que já ocorreram. Estamos com uma média de elucidação entre 30% e 40%. Esperamos conseguir elucidar entre 70% e 80%.
EM NÚMEROS
Assassinatos por ano:
2014: 5
2015: 14
2016: 15
2017: 10
2018: 7
2019: 22
Assassinatos por bairro:
Industrial: 8
São José: 5
Primeiro de Maio: 2
América: 1
Cinquentenário: 1
Do Parque: 1
São Roque: 1
Monte Bérico: 1
Linha Sertorina: 1
Mato Perso: 1
Prisões - aumentaram 35%
2018: 465
2019: 630
Prisões por tráfico - aumentaram 103%
2018: 30
2019: 61