Com 43 assassinatos em menos de nove meses, Bento Gonçalves está na contramão do restante do Rio Grande do Sul. Enquanto os homicídios estão em queda na maioria dos municípios gaúchos em 2019, a Capital do Vinho caminha para o quinto ano consecutivo de aumento nas mortes violentas. A situação levou o experiente delegado Álvaro Becker a fazer um desabafo durante coletiva na manhã desta quarta-feira (25).
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Inicialmente, o chefe da 2ª Delegacia de Polícia (2ª DP) pretendia apresentar os resultados das investigações sobre a maior chacina da Serra e o assassinato de uma mulher grávida, crimes que aconteceram em maio e junho — dois dos crimes mais graves do ano. Diante das perguntas dos repórteres, o desabafo foi natural. O delegado criticou a falta de ajuda do Estado no combate aos crimes:
— Não temos o respaldo do governo. No Rio Grande do Sul existe um programa de governo que leva em conta dados dos últimos 10 anos. As 18 cidades mais violentas naquele período recebem uma atenção maior, e Bento Gonçalves ficou de fora. Mas, de 2017 para cá, Bento Gonçalves se tornou a cidade mais violenta do Estado. São mortes a todo momento. Estamos preocupados e entendo que o governo também deveria se preocupar e dar uma atenção maior para a cidade, que carece de mais profissionais nesta área. Estamos penando. Digo que nós, em Bento Gonçalves, estamos em uma guerra contra o tráfico, que está cada dia mais evidente e tomando conta da cidade. Nós estamos perdendo esta guerra. Eles estão mais organizados, armados e equipados. Na medida que aprofundamos as investigações, vemos que estas facções estão brigando porque esta é uma cidade próspera para eles. A culpa é do governo que não olha como deveria para a cidade e não a coloca neste projeto de segurança. A Polícia Civil está capenga. Na minha delegacia, são só dois investigadores. O pessoal faz das tripas coração para investigar e consegue. Mas é difícil, pois toda semana há um homicídio a mais para ser investigado. Não adianta a Brigada Militar prender se a Polícia Civil não consegue fazer um inquérito com provas fortes para que a Justiça mantenha estes indivíduos presos.