A Polícia Civil já esclareceu quase metade dos assassinatos ocorridos em Caxias do Sul em 2018. Conforme os dados do Contador da Violência, ferramenta abastecida pelo Pioneiro, foram resolvidos 47 dos 110 casos deste ano. O dado é considerado positivo pela Delegacia de Homicídios, em razão da influência do tráfico de drogas e das facções nesse tipo de crime. A falta de testemunhas é apontada como a principal dificuldade enfrentada.
Com 110 homicídios, 2018 terminou com o menor número de assassinatos dos últimos quatro anos no município, resultado de uma mobilização policial ocorrida no segundo semestre. Após julho contabilizar 21 assassinatos (o terceiro mês com mais mortes dos últimos sete anos), Polícia Civil e Brigada Militar ampliaram o cerco às facções e atacaram onde mais incomoda esses grupos: o dinheiro.
— Uma organização visa fundamentalmente recursos. A partir do momento que a polícia age e apreende armas, drogas ou veículos clonados utilizados, tudo vale dinheiro. Com a preocupação com o prejuízo, as facções se retraem. Então, o crime de homicídio reduz por causa da questão financeira — aponta o delegado Rodrigo Duarte.
Ainda assim, o chefe da Homicídios admite que esse resultado é temporário, afinal, as facções continuam a agir a partir de suas estruturas dentro do sistema penitenciário. O cenário de duas organizações criminosas disputando a governança de territórios para a venda de drogas preocupa, principalmente, pela violência dos ataques.
— Tivemos um número grande de casos envolvendo 9mm, uma arma de guerra com grande poder de penetração. Um tiro mal dado pode matar um inocente. Preocupa o uso de calibres restrito e a violência dos confrontos. Essa tomada de território para exploração do tráfico tem uma violência bem maior e pode causar reflexos em terceiros — diz.
O índice de 43% de elucidação em dezembro e a prisão de 49 suspeitos, são alguns dos melhores números dos seis anos da Delegacia de Homicídios de Caxias do Sul. O delegado Duarte exalta a especialização que a equipe de investigadores adquiriu com o tempo.
— São anos fazendo o mesmo tipo de investigação, e tivemos um aporte de inteligência a partir do momento que conseguimos constatar a existência das organizações e a beligerância entre elas. É claro que pensar em mais de 40% de esclarecimento, muitos podem entender que é um número baixo, mas discordo. É um número excelente em virtude das dificuldades de investigação, pois 80% (dos crimes) se relaciona ao tráfico e a essas organizações, o que faz que não tenhamos testemunhas. Então, temos de buscar outros elementos que demandam tempo — afirma.
Tentativas
Também foram registradas no ano 130 tentativas de homicídio em Caxias.
ENTREVISTA
"É um tipo de criminalidade caracterizado pela violência"
Pioneiro: O que foi efetivo para estes dois anos de redução?
Delegado Rodrigo Duarte: É bem complexo, porque temos duas grandes organizações com maior poder ofensivo, que entraram em confronto com casos de extrema violência, com várias mortes, incêndios e uso de calibres restrito. As lideranças estão recolhidas ao sistema penitenciário, ou seja, a eles nada mais além da prisão se pode impor. Não é uma grande preocupação deles. A partir do momento que retiramos aqueles que estão agindo nas ruas, essas pessoas são repostas. É uma realidade que vai permanecer. O que resta é retirar essas pessoas ruas e apreender armas e drogas, para obrigar as organizações a se retrair para não ter um prejuízo financeiro e, assim, deixarem as ações mais violentas apenas para casos extremamente necessários. Dificilmente levaremos para um patamar próximo do zero, pois é um tipo de criminalidade que é caracterizado pela violência.
Qual a sua opinião sobre transferências dessas lideranças para presídios fora do Estado?
O único temor das lideranças é a retirada do seu território de poder, ou seja, a extração deles para longe do Rio Grande do Sul. Com a quebra da organização, até que volte a se reorganizar, vai levar tempo e haverá a queda dos índices (de crimes), incluindo homicídios. É um efeito imediato, mas não tão efetivo na permanência dos números num patamar menor. Também temos de levar em consideração o ponto negativo de possíveis alianças fora do sistema penitenciário gaúcho.
Em Caxias os homicídios diminuíram, mas na região aumentaram. Há relação?
Essa é uma observação subjetiva. Não tenho conhecimento específico. Mas, a partir do momento que conseguimos fazer o mapeamento dessas duas facções e combater, seja o tráfico ou os homicídios, fazemos com que retraiam suas ações. Quando apertamos aqui no centro, há a expansão para os municípios menores, e vemos sinais em Bento Gonçalves, São Marcos e Nova Petrópolis. A tendência é que os confrontos por territórios de exploração do tráfico se expandam para municípios ainda menores.