Tudo começa como uma negociação de um veículo pela internet. Vendedor e comprador combinam preços, condições de pagamento e o local de entrega. A surpresa, porém, vem no final: em vez de uma compra comum, trata-se de um assalto a mão armada. Pelo menos dois crimes com as mesmas características foram registrados na Polícia Civil de Caxias do Sul num intervalo de 15 dias. Em ambas ocorrências, as vítimas ficaram sob a mira de bandidos armados.
No caso mais recente, registrado na noite de terça-feira passada no bairro Panazzolo, a vítima e o marido foram feitos reféns após negociarem um carro, um HB20, por um aplicativo de conversa. A compradora se identificou apenas como Júlia e combinou o local da entrega. Ao chegar no endereço, o casal foi surpreendido por dois homens. Um deles estava armado. As vítimas ficaram cerca de uma hora na mão dos bandidos, antes de serem liberadas em uma estrada de Santa Lúcia do Piaí, no interior de Caxias, sem os celulares.
— A gente sempre fez compras pela internet. O próprio carro foi comprado pelo mesmo site em que o anunciamos. Nunca imaginamos que isso poderia acontecer. Foi horrível. Eles apontavam as armas para o meu marido e diziam para a gente não olhar — conta a mulher, que preferiu não se identificar (veja entrevista abaixo).
Em outro crime semelhante investigado pela Delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec) de Caxias, dois homens de 34 anos foram feitos reféns por mais de quatro horas, em Vila Seca, depois de negociarem um trator por uma rede social. Conforme o registro na Polícia Civil, no dia 24 de outubro, uma das vítimas havia combinado a venda de um trator e faria a entrega em Vila Seca, mediante o pagamento de R$ 50 mil. Quando as vítimas chegaram no local, foram recebidas por dois homens, armados, que anunciaram o roubo. Foram amarrados, vendados e colocados dentro uma caminhonete. Os assaltantes rodaram por cerca de 40 minutos e os largaram em um matagal por quase quatro horas. Os criminosos levaram o trator e o caminhão-guincho utilizado para fazer o transporte do veículo.
Segundo o delegado titular da Defrec, Adriano Linhares, a investigação apurou que o crime foi comandado de dentro do sistema penitenciário.
— Eles (criminosos) precisam de alguém que seja articulado, explane bem e que atraia a vítima para que outros façam a execução do roubo. Nesse caso do trator, já identificamos o destinatário e estamos identificando todos os integrantes do grupo criminoso. O eixo da ação veio de dentro do presídio — esclarece Linhares.
Ainda segundo o delegado, o inquérito desse crime foi concluído na quarta-feira.
ENTREVISTA
"Levaram tudo, até as nossas alianças"
Pioneiro: Como foi a negociação?
Vítima: Fazia uns dois ou três dias que uma moça tinha me chamado por meio do site de venda. A gente conversou bastante pelo WhatsApp. Ela me explicou que tinha dado perda total no carro dela e o seguro tinha pagado. Ela me pediu informações sobre o carro e nós marcamos um dia para ela olhar. Não desconfiei de nada. Nós iríamos pegá-la no endereço para ir até uma oficina.
Quando perceberam que era um assalto?
Nós chegamos na frente do suposto endereço e em seguida chegaram dois homens. Um deles estava armado. Colocou uma arma na minha cara pelo vidro e mandou meu marido ir para o banco de trás. Foi tudo muito rápido, não deu tempo de ter nenhuma reação.
Eles fizeram ameaças durante o trajeto?
Sim. Eles ficaram andando mais ou menos uma hora, não lembro ao certo, porque o susto é muito grande, perdemos a noção do tempo. A gente não pôde olhar em nenhum momento para eles. O meu marido teve de ficar com a cabeça abaixada entre as pernas, com a arma apontada para sua costela. Deram muitos tapas e falavam que iam atirar. Foi horrível.
Você conseguiu contato com a suposta compradora após o assalto?
Eles (criminosos) levaram tudo, até as nossas alianças. Fiquei sem contato com as minhas conversas do Whats. Agora, pensando com calma, eu acho que caímos em um golpe mesmo.
Ainda pretende fazer negócios pela internet?
Agora eu desconfio até da minha sombra. Depois de uma situação dessas não quero fazer mais nada. O que mais me indigna é confiar nas pessoas e acontecer isso.
DICAS DE SEGURANÇA
:: Analise muito bem o local de entrega ou amostragem.
:: Dê preferência a espaços com circulação de pessoas, evitando locais ermos.
:: Não se afobe em propostas levianas. A ânsia de vender pode facilitar o golpe.
:: Se puder, negocie com empresas conhecidas.
:: Para quem for comprar, desconfie de anúncios com preços muito abaixo da média, que podem indicar veículos em situação irregular.
:: Outra orientação é não fechar o negócio sem ver o carro pessoalmente.
Fonte: Polícia Civil