Acordados por um ataque com um explosivo artesanal, um casal de idosos de Caxias do Sul pede agilidade às forças policiais. A preocupação é com os dois bisnetos, de um e oito anos, que moram na mesma residência, no bairro Montes Claros.
O proprietário é um aposentado de 64 anos que, por medo, pede para não ser identificado. Morador do bairro há 40 anos, ele afirma não ter suspeitos do ataque. Entre o muro e a parede da casa, é possível encontrar oito marcas de tiros, do mesmo ataque. As chamas atingiram apenas uma pilha de material utilizado para embrulhar brinquedos, atividade da família para complementar a renda (confira entrevista abaixo).
— Não sabemos o que aconteceu. Nunca havia passado por algo assim. Foi assustador. A polícia não soube nos dizer muita coisa. Apenas fizeram o registro e nos aconselharam ter cuidado — relata o aposentado que, além das crianças, divide a moradia com a esposa de 62 anos e três netos adultos.
O crime aconteceu por volta da 1h50min desta segunda-feira na Rua Albano Caberlon. Conforme o registro policial, criminosos em um Kadett preto atiraram diversos vezes contra a moradia e arremessaram um coquetel molotov artesanal, que incendiou materiais plásticos que estavam em frente a casa. Após a fuga dos atiradores, os moradores conseguiram controlar as chamas. No local, foram encontrados cinco cartuchos deflagrados de calibre .380 e outros quatro projéteis.
Inicialmente, a ocorrência foi encaminhada para o 2º Distrito Policial. Contudo, como aconteceu na área de investigação é do 3º DP, o caso foi novamente despachado na tarde desta segunda-feira.
— Não é algo comum (esse tipo de ocorrência). Iremos iniciar o trabalho de campo para identificar autores e a motivação — resume o delegado Luciano Pereira, que prefere manter a investigação em sigilo.
Tráfico é problema histórico na região
O ataque aconteceu a duas quadras de um prédio que, por 20 anos, ficou conhecido pelo consumo indiscriminado de drogas. Após reforma, em 2016, o prédio passou a sediar o Centro de Convivência Paz e Bem. A iniciativa, contudo, não foi suficiente para reduzir a atividade criminosa na região. Conforme registros policiais, o tráfico de drogas apenas passou para uma esquina mais adiante.
Confira a entrevista com o morador, que por segurança prefere não ser identificado:
Pioneiro: Como foi o ataque?
Morador: Estávamos dormindo, era uma hora e pouco da manhã. Acordei com os tiros, foi uma saraivada. Quando acalmou, fui olhar na janela e vi o clarão. Era o fogo que pegou no material plástico que a gente trabalha, embrulhando brinquedos para completar a renda. Meus netos me ajudaram a apagar o fogo e depois chamamos a polícia. Temos crianças pequenas na casa e a minha senhora passou mal. Foi um susto grande.
Como sabem que era um molotov?
Uma estourou, mas encontramos outra bomba na calçada com um isqueiro. Está aqui guardada. É uma garrafa de vidro com gasolina e um pano em cima, um pouco para dentro e outro para fora. Eles ateiam fogo no pano e jogam para quebrar a garrafa e explodir. Quero que a polícia venha buscar e faça a perícia, procure pelas digitais. Queremos saber quem foi.
Tem alguma suspeita?
Não, não sabemos quem fez. Os vizinhos dizem que não viram e nem ouviram nada. Imagina, com todos aqueles tiros... Talvez seja melhor não falar muito. Esperamos pela polícia. Praticamente fui um dos que começou o bairro e sabemos que há problemas com drogas. Mas é mais para o outro lado. Onde moro só tem gente aposentada. Damos até a volta na quadra (para evitar usuários de drogas), ninguém quer se envolver com esta turma, né? Melhor evitar qualquer mal entendido.