
Em um ano em que todos precisaram mudar sua rotina e se adaptar ao novo normal imposto pela pandemia de coronavírus, chegou a hora de definir os rumos para os municípios a partir de 1º de janeiro de 2021. A campanha eleitoral também precisou se adequar. As redes sociais, que já tinham papel de destaque, viraram o centro das manifestações, as lives foram bastante exploradas. Os contatos diretos com o eleitor precisaram de mais cuidados e devem continuar. Político que ignora normas voltadas à saúde em busca de benefício eleitoral não merece crédito.
Caxias do Sul tem 11 chapas disputando o voto de 333.696 eleitores. As promessas foram fartas neste período de campanha. É importante que o eleitor avalie, sem se iludir. As dificuldades financeiras serão maiores em função do reflexo da pandemia.
Assim que sair o resultado neste domingo (15), em caso de ter segundo turno – tendência diante do número de candidatos –, a engrenagem eleitoral segue girando para consolidar apoios. Vale destacar que os vereadores merecem atenção como representantes da sociedade e pelo papel que vão exercer. Darão sustentação ao governo ou serão oposição. Caxias já vivenciou uma gestão com fraca base de apoio. Com as coligações permitidas apenas para eleição de prefeito, a dificuldade é maior para a conquista das 23 vagas no Legislativo.
Não é novidade que o futuro prefeito terá como tarefa procurar unir a cidade. Caxias viveu momentos tensos e que desgastaram a imagem da cidade desde a posse de Daniel Guerra (Republicanos) e de Ricardo Fabris de Abreu, tendo o impeachment como desfecho. Resta esperar pelo mandato 2021/2024 e torcer para que nos reserve boas surpresas.
Relações políticas
Várias situações envolvem o pleito de 2020. A que mais chamou atenção e remete diretamente para o interesse em um segundo turno é a divisão do grupo que por 12 anos esteve junto no governo e que agora tem cinco candidaturas. Seja com cargo em governos ou mandato eletivo, Adiló Didomenico (PSDB), Antonio Feldmann (Podemos), Carlos Búrigo (MDB), Edson Néspolo (PDT) e Vinicius Ribeiro (DEM) tiveram participação nas definições políticas e administrativas.
O elo foi José Ivo Sartori (MDB). Primeiro porque foi quem congregou esses partidos e vários outros, levando à continuidade na eleição de Alceu Barbosa Velho (PDT), que foi seu vice-prefeito. Segundo porque essas figuras tiveram cargo em suas administrações (ele disse isso na propaganda eleitoral). Estão interligados.
Outro aspecto é o impeachment de Daniel Guerra. O episódio não ganhou repercussão além das manifestações e provocações do próprio prefeito cassado e de seus representantes na disputa, liderados por Júlio Freitas, e apoiadores, tanto no horário eleitoral quanto nas redes sociais. O ex-prefeito inclusive tomou conta do espaço dos candidatos na propaganda eleitoral gratuita mais de uma vez. A lei prevê que apoiadores utilizem 25% do tempo do programa ou inserção.
Os adversários evitaram dar visibilidade para Guerra e seus candidatos e levar a discussão eleitoral para o âmbito do impeachment, como pretendia a chapa do Republicanos. Agora resta aguardar qual será o efeito na urna. Há a expectativa em torno dos apoios de outros políticos populares para ver qual se sairá melhor.
Estratégias
A campanha mostrou uma direita dividida e um candidato de esquerda concorrendo sozinho (Pepe Vargas) na sua faixa do eleitorado. O alinhamento com o presidente Jair Bolsonaro foi disputado por alguns. Renato Toigo (PSL), Nelson D’Arrigo (Patriota), Renato Nunes (PL), Júlio Freitas (Republicanos). Mas Búrigo, Néspolo e Vinicius, por meio de seus apoiadores, tentaram mostrar linha direta com o governo federal.
Marcelo Slaviero (Novo) se colocou como antagonista dos políticos tradicionais, com críticas pelo uso do Fundo Eleitoral e a candidatos detentores de mandato que não se licenciaram. Toigo cobrou a relação dos candidatos com Caxias. D’Arrigo foi pelo caminho do não político e disparou torpedos no horário eleitoral e redes sociais contra adversários, os mesmos atacados por Slaviero. Renato Nunes (PL) classificou esses mesmos adversários de velha política e tentou emplacar como nova alternativa, apesar de ter feito parte do Governo Guerra, sendo líder na Câmara, e apoiador do Governo Sartori.
Feldmann, ex-MDB que foi vice de Alceu e candidato a vice de Néspolo em 2016; e Vinicius, ex-PDT, que coordenou a campanha passada de Néspolo, tentaram se descolar do antigo grupo. Já Pepe e Elói Frizzo (PSB), vice de Búrigo, foram os principais alvos. Ter adotado o nome Pepe de Lula Vargas em 2018 ressoou em tom crítico. Pepe foi à Justiça contra Slaviero, ganhou direito de resposta (nesta sexta-feira,13, teve outro). Frizzo esteve na mira principalmente pela participação no impeachment e pela eleição indireta a vice.