Neste domingo em que se comemora o Dia do Médico, o Almanaque presta sua homenagem aos profissionais que dedicam a vida, muito mais do que as horas em que vestem o jaleco, ao cuidado das enfermidades e ao zelo com a saúde do outro.
A celebração nesta data coincide com o dia de São Lucas Evangelista, médico considerado o padroeiro da Medicina, que viveu pelo propósito da solidariedade e do amor. São estes, inclusive, dois sentimentos reforçados nos depoimentos de 13 médicos atuantes em hospitais e na rede pública de saúde de Caxias do Sul, que gentilmente atenderam ao nosso pedido e responderam: "quais lições a Medicina me ensinou e que levo para a vida?" Confira a seguir os depoimentos:
Dra. Marluce Limeira Fanton, anestesiologista e médica do Samu em Caxias
Ao longo dos 33 anos de formada, a Medicina tem me propiciado a oportunidade de me tornar um ser humano melhor. Auxiliar as pessoas em momentos de dor, aflição ou fragilidade nos estimula a praticar a empatia e o cuidado com o outro. Sabendo que nossas atitudes como médicos podem modificar ou minimizar desfechos difíceis, há um estímulo constante para aprender mais e mais, nos melhorando tecnicamente. E diante das situações que vivencio nos atendimentos com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) vejo que minhas dificuldades cotidianas são muito pequenas ou seja tenho sempre lições de ver a vida pelo espelho do otimismo.
Dra. Viviane Buffon, médica infectologista do Hospital Geral
A Medicina é uma profissão que nos proporciona acompanhar inúmeras histórias de vida em situações geralmente de fragilidade e dor. O médico com suas habilidades técnicas pode auxiliar melhorando a qualidade de vida dos pacientes por meio da cura de doenças ou impedindo a evolução para um estado de dependência física. Nesse aspecto a Medicina pode ser muito resolutiva. Mas, para além desses aspectos científicos, o maior aprendizado que imprimo em meu coração todos os dias é o quanto podemos fazer mais e melhor para tornar esse período da vida dos nossos pacientes mais leve. Ser empata, cuidar e olhar com atenção o ser humano é o grande lição que deveríamos exercitar a cada novo dia.
Dra. Lessandra Michelin, infectologista no Hospital da Unimed, em Caxias
A primeira é o poder do sorriso e da esperança. Diariamente aprendemos com nossos pacientes a renovar a fé e a esperança em dias melhores. O sorriso deles é nosso combustível para sempre aprimorarmos nossas técnicas e cuidados. Nessa época de pandemia em que o sorriso fica escondido, o poder do olhar foi realçado com outro significado. Hoje os olhos também conseguem sorrir!
A profissão me ensinou a compaixão e empatia, importantes em épocas difíceis como a que estamos vivendo. A Medicina nos traz todos os dias desafios novos e nos ensina a superá-los, e a superar nossos limites. A pandemia tem nos mostrado também a valorização da saúde como nosso bem maior, e isso é o princípio da arte de cuidar e tratar.
Dr. Alexandre Copat, angiologista e cirurgião vascular - Diretor Clínico do Hospital Virvi Ramos Após 40 anos de profissão, posso dizer, com certeza, que a melhor coisa que pude desfrutar nesse tempo todo foi o convívio com 'entidade' sensacional que é o ser humano. Participar da vida dos meus pacientes, quase sempre num momento de fragilidade (física e/ou emocional), e da de seus familiares e entes queridos, trouxe uma experiência fantástica, que ajudou muito a formar minha consciência pessoal e meu caráter. A nobreza da atividade que escolhi para a vida é ofuscada pela nobreza das pessoas com as quais pude conviver graças a ela. Exceções existem a todas as regras, mas nesse caso passam despercebidas diante do infindável carinho que recebi, e recebo, em troca das minhas atitudes (nem sempre acertando, mas sempre me esforçando para dar o melhor) na tentativa de minimizar o sofrimento alheio. Posso dizer que se alguém teve suas ansiedades e dores aliviadas por mim, em contrapartida, eu tive um alívio da alma muito maior por ter podido participar e ajudar nas suas vidas.
Dr. Vinícius Lain, cirurgião vascular e diretor-técnico do Complexo Hospitalar Unimed Caxias do Sul
A Medicina transformou minha vida de uma forma permanente. Hoje, não me lembro mais do Vinícius não médico... Desafios constantes forjam nosso comportamento e deslocam nosso foco não mais à minha pessoa, mas às pessoas que sofrem e necessitam que eu esteja lá, muitas vezes no pior momento daquelas famílias.
Olhar nos olhos dos meus pacientes e oferecer conforto é um sentimento que renova o médico em mim diariamente. Colocar-se no lugar na outra pessoa e enxergar por outro ângulo exige questionar verdades absolutas porque essas verdades vêm junto com valores morais e esses valores variam de pessoa para pessoa.
Tem uma frase de Carl Jung que significa muito para mim: "Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana". Ela resume muito da Medicina e do quanto precisamos nos doar a ela, porque todo preparo técnico torna-se básico e o que nos diferencia é nossa capacidade de compreendermos o ser humano em sua essência.
Dr. Sérgio Rodrigues, neurologista, diretor técnico do Hospital Virvi Ramos
Ser médico é lidar com o nascer e o morrer. A dor, o sofrimento, a tênue linha que separa vida e morte, nos faz ver o quanto a vida é fugaz e valiosa. Cada momento é único e precisa ser valorizado. Assim como cada ser humano é único e insubstituível. Isso aumenta o desafio para nós, seja como profissionais ou seres humanos.
Aprendemos que o conhecimento científico nunca se esgota, que novos desafios diagnósticos e de tratamento surgem frequentemente, como agora com a COVID-19. Aprendemos que a vida é isso, aprender uma nova lição a cada dia. É um desafio constante de aprimoramento científico e pessoal. E é isso que nos torna humanos.
Dra. Valéria Scur, pediatra da Atenção Básica de Saúde de Caxias do Sul Muitos foram os ensinamentos que a vivência da Medicina me proporcionou nestes 27 anos de profissão, sendo 25 de pediatria. Inicialmente, como estudante, precisava dispor de curiosidade, coragem, perseverança e crença no ideal de tornar-me um profissional da área da saúde. Quando médica, o entusiasmo de trabalhar sem tempo determinado, deixando a família e amigos em segundo plano, priorizando o atendimento ao paciente, o trabalho e as conquistas. Com o passar do tempo adquiri um sentimento de resiliência, adaptando-me às pressões do dia a dia com habilidade e tranquilidade; tendo a humildade em saber identificar e superar as deficiências (tanto as minhas como as dos sistemas de saúde), sem perder o controle, acreditando sempre e estudando e buscando a cura do paciente. Mas, a maior lição é a que estou vivenciando nestes últimos meses. A pandemia do novo coronavírus, tem mostrado, mais do que nunca, que precisamos nos humanizar. E, que após anos de tendência a procrastinação, aprendi que o futuro pertence ao futuro e, não existe o deixar para amanhã, apenas viver o dia de hoje.
Dr. Darcy Ribeiro Pinto Filho, médico cirurgião torácico do Hospital Geral e professor universitário
Na Medicina, as lições que aprendemos estão estribadas na empatia , disponibilidade pessoal, credibilidade, capacidade técnica, convívio respeitoso com seu semelhante, defesa de valores éticos e morais e uma inarredável contrariedade à injustiça. No exercício cotidiano destas premissas , o médico deve pautar sua vida.
Por outro lado, a data comemorativa impõe uma reflexão sobre o modelo de médico dos dias de hoje. Pressionado pelo mercado de trabalho e pela tecnologia substitutiva do afeto, enfrenta o maior desafio da medicina contemporânea: não permitir que os avanços tecnológicos ultrapassem o limite da melhor assistência e invadam a sagrada relação médico-paciente. O olho no olho, a paciência para ouvir , o calor da mão estendida e a cotidiana esperança de que podemos aliviar a dor são lições da vida e da Medicina, indissociáveis, sabido que não se concebe uma sem a outra.
Dra. Fernanda Grossi, ginecologista e coordenadora do Serviço de Obstetrícia do Hospital Geral
A Medicina me ensina o quanto a vida e a saúde são preciosos, e o quanto devemos aproveitá-los. Me mostra diariamente a importância da empatia, a ver que aquele que precisa de cuidado é o tudo de alguém.
Dr. Rodrigo Antoniazzi, médico intensivista no Hospital do Círculo Sem dúvidas, aprendo com a dor e o sofrimento dos doentes e familiares todos os dias e talvez, entre tantas lições, a que eu mais trouxe para a minha vida é o ato da compaixão por cada ser humano. A compaixão é algo que nos ajuda a sublimar o sofrimento humano, pois ela requer uma ação nossa ao fato de sentir e compreender as emoções do outro! Digo que precisamos viver cada momento da melhor forma possível, pois somos efêmeros! Um simples sopro pode alterar completamente nossas rotas, nosso olhar perante tudo o que julgamos intransponível e terminar com nossos sonhos e com nossas ambições! Foi na doença, vivenciada por mim durante os 30 dias que fiquei internado em uma UTI, há sete anos, na luta incansável pela minha vida, onde aprendi que a felicidade e o bem-estar podem estar na simplicidade da vida, nos pequenos atos e gestos. Tratar aos outros com respeito, ética e dignidade nos torna grandiosos ao nosso propósito! Enxergar o Ser humano na sua totalidade faz com que a vida valha a pena ser vivida a cada instante, mesmo com as adversidades que nos são impostas. Podemos ser o que quisermos, basta que para isso tenhamos um "porquê" que seja a nossa força maior.
Dra. Fernanda Canever, médica intensivista no Hospital do Círculo
A Medicina nos proporciona viver várias vidas e a história de cada paciente de certa forma passa a também nos pertencer. O primeiro aprendizado está no amor pela vida. Muitas pessoas demonstram uma vontade, uma coragem que contagia, nos levando frequentemente à reflexão sobre como conduzimos nossa própria vida.
Nada pode ser mais intenso do que compartilhar com alguém o processo de morrer, nos permitindo estar ao lado do ser humano na sua forma mais verdadeira, liberto das vestes sociais.
O protagonismo desses indivíduos nos desperta a consciência necessária para estarmos verdadeiramente presentes em suas vidas e igualmente nas nossas. Rever prioridades, compreender que a vida é hoje e não há tempo a perder criando expectativas sobre um futuro que talvez nunca acontecerá.
A gratidão dos que em meio a dor da perda retornam para agradecer o cuidado nos traz um conforto e simultaneamente uma força para continuar exercendo o cuidar no seu mais amplo conceito.
Dr. Thiago Luciano Passarin, diretor técnico do Hospital Pompéia
A Medicina e baseia em humildade e perseverança, definitivamente não sabemos tudo e a busca incessante por conhecimento torna nossa profissão desafiadora. Os pacientes não vão lembrar do que fizemos para viver, eles vão lembrar como você os tocou com gentileza e amor.
Dra. Cátia Gazzola Carissimi, médica residente em Medicina Intensiva no Hospital Pompéia
O mais lindo da Medicina é aprender com ela todos os dias. A lição mais importante é de que somos frágeis diante da vida, de que não temos controle nenhum da passagem do tempo e muito menos de certas situações. Mas temos, sim, a oportunidade de viver melhor a cada dia, valorizar as pessoas que amamos, de cuidar melhor da nossa saúde física, mental e espiritual. Porque além da saúde nos proporcionar qualidade de vida, também nos permite sermos independentes. O que de fato importa não são os anos que iremos viver, mas como iremos viver esses anos. Levo comigo essa lição: desfrutar da vida enquanto temos saúde e independência, para que no final não haja nenhuma vontade de voltar no tempo.
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