O caxiense Luiz Carlos Cembrani, 64 anos, passou de médico para paciente nas últimas semanas. Acostumado a circular entre doentes testados positivos para covid-19 desde que o vírus atingiu em cheio Manaus (AM), onde reside há 30 anos, o médico cirurgião especialista em videolaparoscopia sentiu na pele os sintomas causados pelo coronavírus. Depois que também foi testado postivo, em abril, Cembrani passou pelo maior desafio que poderia imaginar. Evangélico, contou com a ajuda da esposa e dos irmãos de fé para lutar contra o vírus causador de mais de 13 mil mortes no Brasil.
— Cheguei ao ponto onde só faltou fechar o caixão. Mas Deus me manteve aqui. Covid dá pra curar, mas tem que tratar cedo — avalia.
Cembrani percebeu a diferença no seu organismo depois de um plantão de domingo em um pronto-socorro de Manaus. Começou a sentir febre, ter tosse e, dias depois, fortes dores de cabeça. Tentou ficar em isolamento domiciliar, mas os sintomas pioraram. Pediu, então, que um amigo fizesse uma tomografia dos seus pulmões. Foi quando constatou que 25% de ambos estavam tomados.
— Você não aceita isso. Quando comecei a sentir febre, achei besteira. Em casa de ferreiro, o espeto é de pau como diz o ditado — admite o médico, que tem mais de 30 anos dedicados à medicina.
No início de maio, Cembrani sentiu falta de ar e procurou ajuda. Menos de 15 minutos depois de chegar no Hospital da Unimed, foi entubado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), onde permaneceu por cinco dias. O tratamento ainda foi seguido por mais três dias no setor de UTI semi intensiva. Nesta semana, Cembrani foi para o quarto. Agora, ele encerra o ciclo de antibiótico e mal pode esperar até sábado (16), dia da previsão de alta hospitalar. Ele já é considerado recuperado do coronavírus.
— Hoje posso ir ao forró e até ao baile funk que não pego! — diz, brincando.
A esposa de Cembrani, a enfermeira Michele Castro, 28, conta que se desesperou quando viu os exames do companheiro:
— Estava em casa e ele me enviou as imagens. Desabei chorando. Disse a ele que tivesse força e iniciasse o tratamento. Somos da área (da saúde), mas também nos sentimos de mãos atadas.
Além de Michele, o caxiense contava com apoio do sobrinho, Alisson Cembrani, também médico em Manaus, e dos irmãos, mesmo que distantes cerca de 4 mil quilômetros. Logo que os cinco souberam da notícia em Caxias do Sul, pensaram o pior.
— Quando recebemos a ligação dele, passou o terror pela cabeça. A vontade era de estar perto mesmo em distanciamento. No início perguntei se ele teria como ser internado, se haveria respiradores suficientes e todas essas coisas, mas ele disse que não iria precisar ser internado. Quando soubemos que precisou, ficamos em reza — conta a irmã, Onelice, 51.
A partir de agora, a única certeza que tem o doutor Cembrani é de que continuará trabalhando duro.
— Ele ama a medicina e vai ajudar quem precisar! — garante Onelice, que espera a próxima visita do irmão assim que a pandemia passar.