— A população corre risco de vida. Queremos dar esse alerta — afirmou a pediatra Heloísa Lopes de Souza na tarde de quinta-feira (11), na Câmara de Vereadores de Caxias. Ela e outros médicos e enfermeiros que trabalham no Pronto-Atendimento 24 Horas (Postão) se reuniram para demonstrar a preocupação dos servidores com o fechamento da unidade, marcado para a próxima terça-feira (16).
A manifestação ocorre um dia após o prefeito de Caxias do Sul, Daniel Guerra (PRB), conceder entrevista coletiva sobre as obras que visam transformar o Postão em Unidade de Pronto Atendimento (UPA) nível III e sobre os planos do município para que a população não fique sem atendimento durante o período previsto da reforma.
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As entrevistas separadas de gestor e servidores evidenciam a distância entre a administração do Postão e quem trabalha no local. Conforme Tiago Perinetto, médico e ex-diretor técnico da unidade, não há indicativos de que a cidade esteja preparada para passar seis meses sem o serviço. Em um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado com o Ministério Público (MP), a prefeitura se comprometeu a assegurar o atendimento aos cerca de 400 pacientes por dia do Postão por meio de 24 cláusulas. Os servidores, porém, criticam o acordo.
— O TAC tem explicações muito rasas sobre o que vai acontecer. São planos vagos. Não temos orientações sobre o que acontecerá em cinco dias — aponta Perinetto.
Segundo o médico, o Postão soma 45 poltronas e leitos para pacientes internados ou que aguardam transferência para um hospital, 12 para crianças. A UPA Zona Norte, outra opção de atendimento, teria apenas quatro leitos infantis.
— O Postão não é só atendimento, é quase um hospital de pequeno porte, o único local para quem espera vaga em hospitais. A prefeitura não está vendo isso — reclama.
O atendimento psiquiátrico de urgência também é concentrado na unidade do Centro. O TAC prevê atendimento da modalidade na UPA Zona Norte, mas ainda não há aditivo de contrato que preveja isso.
— A equipe da UPA nunca trabalhou com psiquiatria, nós recebemos capacitação para isso — contesta a enfermeira Magda Telles.
A pediatra Heloísa de Souza diz que os servidores apoiam a reforma, mas critica a falta de diálogo da administração. Conforme o médico Gustavo Londero, ex-diretor do Postão, as unidades básicas de saúde (UBS) não estão preparadas para atendimentos de emergência e não há indicativo de que algo seja feito até a próxima semana.
— Às vezes, o paciente está classificado como menos grave, mas o médico avalia que tem que fazer um exame de urgência. E nas UBSs não tem uma radiografia, um eletrocardiograma.
— Lendo o TAC, a impressão é que não houve planejamento. Para nós, pessoas vão morrer — reforça Leone Pereira, ex-coordenador de enfermagem do Postão.
De acordo com o enfermeiro Gilberto Freitas, que é membro do Conselho Municipal de Saúde, a prefeitura não tem participado das reuniões do órgão deliberativo, o que aumenta a incerteza sobre como se darão os atendimentos a partir da próxima semana.
No compromisso firmado com o MP, a prefeitura de Caxias diz que atendimentos de baixa complexidade seguirão sendo feitos nas UBSs, que serão reforçadas com os profissionais do Postão. Já servidores da unidade acreditam que alguns médicos se exonerarão ao ser transferidos porque não conseguiriam cumprir os novos horários.
O TAC também prevê que a prefeitura pode contratar serviço privado para ampliar a oferta de atendimentos, caso seja necessário.
Durante 15 dias após o fechamento para reformas, um profissional estará no Postão para orientar a comunidade sobre os locais de atendimento, com acionamento do Samu quando necessário. Também estão disponíveis para informações dois telefones a partir do dia 17: o da Ouvidoria da Secretaria da Saúde, (54) 3290-4446, das 8h às 16h30min; e um número especial para esclarecimento 24 horas, (54) 98447-5580.