Se depender da prefeitura de Caxias do Sul, o Hospital Pompéia deixará de servir de referência regional para atendimentos de traumato-ortopedia de alta complexidade. O secretário municipal interino da Saúde, Júlio César Freitas da Rosa, enviou ofício à 5ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) solicitando a revogação da resolução que pactua o serviço.
No documento, o secretário diz que o município não tem interesse em manter os atendimentos de urgência e eletivos no hospital para as regiões de Saúde 25, Vinhedos e Basalto, e 26, Uva e Vales, que correspondem a 34 municípios da Serra.
A justificaria seria a capacidade instalada do município, o recurso financeiro disponível para os atendimentos, a demanda reprimida atual e o tempo médio de espera para cirurgia.
Com a decisão, o recurso repassado pelo governo do estado para os procedimentos ficaria à disposição da 5ª CRS. A titular da Coordenadoria, Solange Sonda, diz ter recebido o ofício na manhã desta quinta-feira (11), justamente antes de uma reunião entre municípios que discutiria o aumento da disponibilidade de cirurgias de traumatologia e ortopedia na região.
— Nós tivemos uma reunião na CRS (no dia 1°), com o então secretario Geraldo (da Rocha Freitas Júnior), a administração do Hospital Pompéia e alguns secretários municipais de saúde, já pactuando a questão da traumato. Hoje, a gente só apresentaria aos demais secretários. Agora, vamos ter que analisar, porque foi uma decisão apenas do município de Caxias — aponta.
O Pompéia realiza atendimentos na traumatologia para 49 municípios. Como contrapartida, recebe repasse de cerca de R$ 168 mil mensais, conforme Solange, além de outros valores.
— No ofício ele (o secretário) coloca até que abre mão de valores. O hospital recebe R$ 300 mil por ser portas abertas (manter pronto-socorro onde a população é atendida imediatamente) e as próprias emendas parlamentares que o Pompeia recebeu foi por ser um hospital regional — reclama.
O Pioneiro entrou em contato com o superintendente do Pompéia, Francisco Ferrer. Ele afirmou não ter conhecimento da decisão da prefeitura de Caxias.
Segundo Solange Sonda, sem o Pompéia, as duas regiões da saúde perdem o acesso à atendimentos de alta complexidade na urgência e emergência. Ela acredita que uma média de 10 procedimentos por mês sejam realizados no local.
O Hospital Tacchini, de Bento Gonçalves, e São Carlos, de Farroupilha, realizam procedimentos de média complexidade na área. A titular da 5ª CRS considera a decisão unilateral e diz que vai acionar o Ministério Público com os outros municípios para buscar alternativas.
— A gente sempre está à disposição para conversar, mas infelizmente o gestor de Caxias do Sul não senta para discutir. Existem pactuações a serem respeitadas. A reação de todos os secretários foi de indignação, até porque eles batalham juntos por recursos do Hospital Pompéia.
Por meio de nota enviada às 14h52min desta quinta, a Secretaria da Saúde de Caxias informa que propõe uma "redistribuição de recursos para que outra cidade passe a ofertar atendimento" para parte dos municípios da região.
A pasta diz que o município recebe do governo federal R$ 273 mil por mês para atender mais de 1 milhão de habitantes, valor que não seria reajustado desde 2005.
Na nota, o secretário interino Júlio César Freitas da Rosa diz que a capacidade instalada do município está esgotada e que há uma demanda reprimida que gera fila de espera para cirurgia eletiva de até 14 meses. Por isso, quer que o Estado indique outro município para ser referência às microrregiões. Desta maneira, Caxias seguiria sendo referência para as regiões Caxias e Hortênsias e Campos de Cima da Serra, com 15 municípios.