Gilberto Pepe Vargas (PT) estará de volta à Assembleia Legislativa a partir de 2019. O petista obteve 38.795 votos na eleição do dia 7 de outubro. O Pioneiro já conversou com os outros três deputados eleitos pela região: Neri, o Carteiro (Solidariedade), de Caxias do Sul, Elton Weber (PSB), de Nova Petrópolis, e Fran Somensi (PRB), de Farroupilha. Em entrevista ao Pioneiro, Pepe falou sobre a decisão de concorrer à Assembleia, como será sua atuação e quais as estratégias do PT para o segundo turno da eleição presidencial.
Por que o senhor decidiu concorrer a deputado estadual e não a federal novamente?
Sou presidente estadual do PT desde maio do ano passado e consequentemente, nessa condição tive que girar as prioridades da minha agenda mais para as questões estaduais do que para as questões federais. Primeiro, a gente teve que construir uma chapa eleitoral, construir as alianças, construir um programa de governo, e ainda ficar na coordenação da campanha estadual. Então, devido a isso, a nossa decisão foi de concorrer a deputado estadual.
Caxias do Sul ficou sem representação na Câmara dos Deputados. Vai prejudicar as demandas da região?
Sem sombra de dúvidas prejudica. É bem melhor que tenha alguém da cidade ou da região que tenha um diálogo mais intenso com a comunidade local. Mas houve vários candidatos que poderiam ter sido eleitos, candidatos com capacidade para ter sido deputados federais, mas lamentavelmente nenhum deles logrou sucesso eleitoral.
Qual é o tamanho do prejuízo?
O prejuízo maior é que se tu tens alguém que é da região, tem um diálogo mais intenso dialogando com as necessidades que as pessoas têm. O que eu posso dizer para as pessoas da região e da nossa cidade é que os cinco deputados federais que o PT elegeu estarão à disposição das nossas demandas. Os trabalhadores e trabalhadoras podem ter certeza de que os nossos cinco deputados federais vão votar contra a toda e qualquer tentativa de retirada de direitos que se tente fazer. Elegemos a maior bancada, são 31 deputados federais no Rio Grande do Sul, o PT elegeu o maior número de deputados federais, elegeu cinco. Elegemos também a maior bancada na Assembleia Legislativa, o MDB elegeu oito, e nós elegemos oito também. Sob esse ponto de vista, nossa estratégia eleitoral foi correta. A gente procurou estimular o maior número possível de candidaturas.
Qual é o recado dos eleitores que não elegeram deputado estadual na eleição de 2014 e federal no pleito desse ano?
Essa eleição foi marcada por uma pregação muito forte dizendo que tinha que renovar 100%, que quem tinha mandato não podia mais ser eleito. Isso não foi só aqui, foi no Brasil inteiro. Foi muito difícil para quem tinha mandato. Houve uma criminalização da política que não é de agora e que leva uma parcela da população a não votar. Se pegares os votos de abstenção, brancos e nulos em Caxias, dá um percentual altíssimo. Quase metade das pessoas não vota para deputado.
Que bandeiras pretende ter na Assembleia Legislativa?
Vamos debater os grandes temas do Estado. Precisamos de um processo que repactue a federação brasileira. Sou contra qualquer forma de adesão a esse programa de recuperação fiscal que o Governo (Michel) Temer apresentou, é muito lesivo aos interesses do Rio Grande do Sul. Temos que fazer uma frente suprapartidária, de todos os setores da sociedade, com os outros Estados, as Assembleias e também com as bancadas federais para a gente repactuar a dívida dos Estados. E também tentar votar a regulamentação da Lei Kandir (que prevê isenção de ICMS para produtos para exportação). Temos que discutir o tema das finanças públicas, das perdas de receita que o Estado tem, da dívida que tem com a União e os direitos à saúde, educação, Previdência e os temas da nossa região, das nossas estradas, que estão péssimas.
O seu mandato será de discussões de temas ou de apresentação de projetos?
Eu vou apresentar projetos. Um dos que pretendo apresentar, seja por projeto de lei, pelas leis de diretrizes orçamentárias ou pelas leis orçamentárias anuais, precisamos constituir um fundo adicional para a educação. Tem que ter algum grau de redução de renúncias fiscais para jogar em um grande fundo para três governos (futuros) para melhorar a infraestrutura das escolas. Não é possível ter escolas com goteiras.
O PT será oposição ao governo, independente de quem seja eleito. Como será essa oposição?
Uma oposição com responsabilidade perante a população. A gente analisa o projeto e vota a favor se ele é bom e tenta aperfeiçoar, e se não for possível, a gente vota contra. A gente não apoia (José Ivo) Sartori e Eduardo Leite por que defendem o mesmo projeto. São variantes de uma concepção neoliberal de uma organização de Estado que na nossa opinião já demonstrou que não conduz ao desenvolvimento, conduz a baixo crescimento, à crise das finanças públicas, ao endividamento do setor público e ao aumento da pobreza. E em segundo lugar, ambos apoiam (Jair) Bolsonaro. Não tem a menor condição de nós apoiarmos qualquer um.
O PT pretende ficar neutro no segundo turno?
Não, nós não vamos ficar neutros. Orientamos os filiados do Partido dos Trabalhadores a não votar em nenhum dos dois candidatos. Essa posição é coerente. Se nós discordamos do programa do Leite e do Sartori, não tem por que a gente indicar voto. Isso não é uma posição de neutralidade. O cidadão vota em quem ele quer. Seria muita pretensão nossa querer dizer como o cidadão tem que votar. Cada um vai fazer seu juízo de valor.
Como o PT pretende reverter a vantagem de Bolsonaro?
As pesquisas de intenção de voto do primeiro turno mostraram-se equivocadas. Pesquisa pode errar, nós não nos pautamos por pesquisa. O Bolsonaro se apresenta como um candidato contra o sistema, mas é deputado federal há 28 anos. Vota sistematicamente contra os interesses da classe trabalhadora. Estamos tentando mostrar à população que ele não é novidade e tem práticas bastante equivocadas. Alguém acha que é correto um deputado federal que tem moradia própria em Brasília receber auxílio moradia? Esta é a nova política? Saiu a notícia de que o filho dele, Eduardo, usava as passagens da Câmara dos Deputados para fazer passeios turísticos, visitar a namorada aqui no Rio Grande do Sul e ir para Santa Catarina em exercício de tiro. Esta é a nova política? Os votos dele (Bolsonaro) contra a política de valorização do salário mínimo, contra os direitos das empregadas domésticas, a favor do congelamento dos recursos para saúde e educação. Ele já disse mais de uma vez que não acredita na democracia, que defende a ditadura, que defende a tortura. Ele é um candidato covarde porque sequer vai para um debate. E a Folha da São Paulo mostrou isso, valendo-se de uma campanha criminosa porque essa contratação via empresários com disseminação em massa de fake news pelo Whats App é crime eleitoral. Muita gente está percebendo isso.