Os gaúchos mantiveram a tradição de não reeleger o governador de Estado. A derrota de José Ivo Sartori (MDB) põe fim a uma série de quatro eleições vitoriosas do emedebista: deputado federal (2002), prefeitura de Caxias do Sul (2004/2008) e governador (2012). A última perda de Sartori foi para Pepe Vargas na eleição à prefeitura de Caxias em 2000.
Com o fracasso, Sartori elegeu sua prioridade após o processo eleitoral: cuidar da saúde. No final de setembro, o candidato à reeleição foi forçado a interromper as atividades de campanha para tratar um quadro respiratório viral agudo. Nos últimos dias, Sartori apresentou uma rouquidão devido a uma sinusite aguda fúngica.
Aos 70 anos, o futuro político de Sartori ainda é incerto. Dificilmente estaria disposto a concorrer a prefeito novamente. Uma alternativa seria a eleição para o Senado, mas teria que aguardar o próximo pleito em 2022.
Lideranças políticas próximas de Sartori lamentaram a derrota nas urnas, mas ressaltam a condução à frente do Piratini. Eles garantem que Sartori pode ser candidato ao cargo que desejar.
Atrás nas pesquisas, a coordenação de campanha decidiu apostar na popularidade do candidato à Presidência, Jair Bolsonaro (PSL), do senador eleito, Luis Carlos Heinze (PP) e dos recordistas de votos, deputado federal eleito, Marcel Van Hatten (Novo) e deputado estadual eleito, tenente-coronel Luciano Zucco (PSL). Sartori diminuiu a vantagem de Eduardo Leite (PSDB), mas não foi o suficiente para vencer a eleição.
O ex-deputado federal Mauro Pereira (MDB) garante que Sartori ainda tem a contribuir com a política partidária, mas sem indicar o caminho.
– Com certeza ele tem futuro político. O futuro dele é andar de cabeça erguida e ciente do dever cumprido. Ele fez uma campanha sem promessas. Quem perdeu foi a sociedade rio-grandense de não ter um homem preparado, equilibrado e transparente para continuar como governador, mas temos que respeitar a opinião da população.
O presidente do MDB caxiense, vereador Paulo Périco, diz que Sartori pode dar um tempo para a política, mas não descarta que Bolsonaro o convide para ocupar um cargo no governo federal.
– Sinceramente, não sei se ele gostaria de disputar daqui a dois anos (nas eleições municipais). A não ser que o novo presidente Bolsonaro de repente convide ele para alguma coisa.
Segundo Périco, o compromisso de Sartori era de comandar o Estado por mais quatro anos para terminar seu projeto para o Rio Grande do Sul:
– Acho que ele vai se acalmar, jogar carta, ir para a colônia e tomar um vinho.
"Pode contar com a minha colaboração"
Após parabenizar, por telefone, o governador eleito, Sartori concedeu entrevista coletiva. Por 10 minutos, saudou a equipe de governo e de campanha. Sartori afirmou que o resultado mostrou que o Rio Grande está no rumo certo, usando o slogan de sua campanha.
– Quem ganhou foram as gaúchas e gaúchos. Ganhar ou perder na democracia deve ser sinal de conciliação, fraternidade e também de humildade. A eleição mostrou que o Rio Grande do Sul está no rumo certo e o retrocesso foi rejeitado.
Sartori disse ainda que os eleitores entenderam que a mudança precisa de renovação.
– Cabe ao Eduardo ter espírito público para dar continuidade aos bons projetos e imprimir seu estilo. Aceito a decisão da população.
Por fim, o candidato derrotado ressaltou a votação competitiva do segundo turno e colocou-se à disposição para contribuir com o novo governo.
– Estou honrado de chegar ao final desta eleição não só com uma votação competitiva, mas de poder olhas para os gaúchos e para a minha família de cabeça erguida e com paz de espírito.
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