A segurança pública na Serra exigirá do próximo governo do Estado não apenas mais policiais e vagas em presídios, demandas jamais resolvidas na plenitude. O clamor da sociedade é por uma gestão com fôlego e inteligência suficientes para bater de frente com a nova criminalidade, que evoluiu mais rapidamente do que a capacidade de reaparelhamento das linhas de frente da Brigada Militar (BM) e da Polícia Civil.
Leia mais
Saiba por que a metodologia da Escola São Rafael, de Flores da Cunha, deveria ser regra na Serra
Fim da "ambulancioterapia" na Serra precisa ser prioridade da próxima gestão do Estado
O passivo na região é histórico e complexo. Como os anseios da população nunca foram compatíveis com a velocidade de resposta, tudo que vier a partir de agora é paliativo para conter problemas acumulados. O Estado recém está atendendo reivindicações antigas, caso da construção do presídio de Bento Gonçalves. Caberá ao Palácio Piratini correr contra o tempo para fazer as mudanças que já eram necessárias há 15 ou 20 anos e planilhar ações diferenciadas para debelar o domínio das facções criminosas fora e dentro dos presídios, atualmente o grande flagelo da segurança pública na região, no Rio Grande do Sul e no resto do país.
Os grupos, cada vez mais estruturados nos moldes das máfias da Itália e do México, podem minar a reação governamental e a fragilizar a estrutura social da Serra num futuro próximo, a exemplo do que já ocorre de maneira triste no Rio de Janeiro e com reflexos em Porto Alegre.
— O crime mudou de perfil. Os homicídios estão diminuindo, os latrocínios também. Mas aumentaram os roubos a banco, a explosão de caixas eletrônicos. Se rouba é mais justamente para financiar a compra de armas, para fundar empresas de fachada. Se o Estado não enxergar que o crime organizado permeou as estruturas da administração, se não houver esse gerenciamento de expurgo das penetrações na máquina pública, o crime assumirá a política estatal, como na Itália, no México — alerta o professor de Tecnologia em Segurança Pública e Gestão Pública da Feevale, Charles Kieling.
Diante do cenário pessimista, a sociedade da Serra, representada por entidades, empresários e servidores ligados à segurança, é unânime em sugerir ao governo que priorize a tecnologia, aproxime-se dos municípios para parcerias em investimentos de pessoal e estruturais e se espelhe em Estados que vêm obtendo êxito contra o crime.
— Hoje, as facções estão cometendo crimes restritos ao meio deles, mas logo vão acabar afetando a população, como já ocorre em outras cidades. O governo tem que ouvir o clamor das ruas — pede o presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias, Ivanir Gasparin.
Num primeiro momento, o Palácio do Piratini precisa se esforçar para recompor a força policial, esfacelada ao longo do tempo. Num cenário ideal, seriam necessários mais 1,2 mil policiais militares para reforçar a segurança em 66 cidades que integram o Comando Regional de Policiamento Ostensivo (CRPO/Serra). Como essa quantidade de servidores exige um dinheiro que o RS não tem, as lideranças locais se contentariam com ao menos 20% a mais do efetivo atual, cerca de 260 PMs, uma proposta bem mais realista e aplicável. É reforço fundamental para apagar focos da insegurança, mas não para barrar a violência como um todo. Aí é que entra a inteligência, a gestão, a investigação amparada pela tecnologia e, sobretudo, a valorização do policial.
O processo também impõe a participação maior das comunidades contra a influência de criminosos, papel que precisa ser facilitado pelo próximo governante. O modelo de policiamento comunitário, aquele que consiste em ter PM residente no bairro, está debilitado. Se alguns núcleos se mantêm em Caxias do Sul, muito é em razão da insistência dos moradores e dos próprios PMs. A vigilância moderna, num Estado com crise financeira, agora preconiza o olhar preventivo da vizinhança, por meio de câmeras particulares e públicas e da troca organizada de informações, com a participação do PM comunitário em momentos críticos. Com mais moradores participativos nesse processo, menos tráfico e menos assaltos.
— Para isso, o governo deve ser um facilitador — pondera Élvio Luís Gianni, presidente da Associação de Moradores do bairro Colina Sorriso, uma das poucas comunidades de Caxias do Sul que aposta no envolvimento de empresas e moradores na segurança pública.
O Estado está diante de uma tarefa complexa na Serra, reconhece a sociedade serrana, mas os caminhos estão apontados.
NÚMEROS DE 2018
Já foram registrados 199 assassinatos em 19 cidades da Serra em 2018, sendo que 90 casos aconteceram em Caxias do Sul. A maioria está relacionada ao tráfico de drogas e há execuções ordenadas por facções de dentro dos presídios.
Juntas, 64 cidades da Serra somam um total de 2.012 roubos a pedestre e ao comércio, entre outros, 7.831 furtos em geral e 1.676 roubos e furtos de veículos.
Neste ano, já são 17 ataques a banco, entre assaltos e explosões de caixas eletrônicos).
Atualmente, 2.840 pessoas cumprem pena no regime fechado em oito presídios com espaços que comportariam 1.204 apenados.
A Serra precisa:
QUER SABER MAIS SOBRE AS DEMANDA DA SERRA?
:: Confira aqui as sugestões para a alavancar a educação estadual
:: Confira aqui as sugestões para alavancar a saúde pública na Serra