Uma ferrovia ligando o sul ao norte do país é uma das principais necessidades do setor produtivo da Serra. O entendimento é de que os trens poderiam trazer o aço e outras matérias-primas e também escoar a produção da indústria com menos custo e sem enfrentar os percalços e os riscos das estradas defasadas.
Atualmente, a concessionária Rumo Logística opera uma linha férrea que corta Ipê, Vacaria e segue em direção a Lages (SC). Apesar da proximidade com o setor industrial e agrícola, os trens apenas passam pelos municípios, sem fazer paradas. Para que o modal ferroviário atenda Caxias do Sul, as sugestões vão desde a criação de um ramal ligando a cidade ao município de Colinas, no Vale do Taquari, até a construção de um terminal em Vacaria, para que a carga da Serra seja levada até lá de caminhão.
O novo ramal está, inclusive previsto no Plano Estadual de Logística e Transportes (Pelt), estudo encomendado pelo governo do Estado para projetar os investimentos em infraestrutura necessários até 2039. O principal obstáculo apontado para a ampliação da malha ferroviária na região, no entanto, é o convencimento do setor e, principalmente, da concessionária de que atender à Serra pode ser lucrativo. O entendimento atual é de que o contrato em vigor, que vence em 2020, não favorece a criação de novos ramais.
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– Não há interesse da concessionária. Eles preferem pegar o produto daqui e entregar já no destino. Parando em Vacaria, seria como uma baldeação e aumentaria o custo. Não foi uma concessão bem feita – diz o presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, Ivanir Gasparin.
Já Mônica Mattia, diretora-executiva do Conselho Regional de Desenvolvimento (Corede) da Serra, entende que há outras discordâncias que precisam ser superadas.
– Há uma visão de que o transporte ferroviário é útil somente para commodities de grande consumo nacional e até exportação. Existe também a visão de que transporte para curtas distâncias não seria conveniente. Mas existe outra que diz que é importante também para qualquer produto do centro do país para o Sul e até para o Mercosul e outra que considera que é importante também para curtas distâncias. Parece necessário encontrar um consenso entre essas correntes e definir uma ferrovia compatível com as da Europa, para transporte de carga e pessoas em alta velocidade. É preciso identificar se há demanda de passageiros, porque de matérias-primas e produtos acabados, parece não ter dúvida – argumenta.
A Rumo Logística não respondeu aos questionamentos do Pioneiro.
Aeroporto de Vila Oliva ainda espera
Quando se fala em transporte aéreo, Vacaria e Canela lideram, ao lado de Caxias do Sul, as mobilizações por investimentos em aeroportos. Na Região das Hortênsias, a principal demanda é do fluxo turístico, enquanto nos Campos de Cima da Serra o objetivo é equipar o aeródromo já existente para torná-lo viável. Mas é o terminal de Vila Oliva que mais tem conseguido avançar até agora nos trâmites necessários até que vire realidade.
Após a elaboração do anteprojeto da pista e do pátio por parte do governo federal, agora a área passa por Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima) para que as licenças possam ser emitidas. A expectativa é de terminar o levantamento até o fim do ano, enquanto técnicos da Secretaria de Aviação Civil (SAC) da Presidência da República elaboram o projeto básico.
Embora o processo burocrático não esteja parado, a desapropriação da área ainda é um impasse que pode impedir o andamento do projeto. Em 2014, o Estado assinou um termo se comprometendo a destinar os R$ 20 milhões necessários para adquirir o terreno de 443 hectares, que hoje reúne diversas propriedades rurais. Diante das dificuldades financeiras, o Estado nunca reservou os recursos e o município também diz não ter como arcar, apesar de já deter a outorga (autorização de administração) do futuro aeroporto.
Com extrema cautela, o secretário Humberto Canuso afirma que o Estado vai honrar o compromisso.
– O Estado está sempre ciente da responsabilidade dele. Tendo a sinalização da SAC, acho que podemos avançar na desapropriação. Temos que fazer dentro de um estudo global para ser viável e com o Estado participando com a parte que sempre disse que participaria. Não vai ser, eu garanto, por questões do Estado que o trabalho não vai avançar. Quando chegar o momento chave, o Rio Grande do Sul estará presente – afirma Canuso.
Conforme o secretário, é preciso aguardar a retomada do crescimento da economia para saber com mais clareza qual é a demanda pelo setor aéreo na região. Ele disse, no entanto, que o setor de carga aérea, por exemplo, tem sofrido incremento e a Serra também deve fazer parte deste processo.
Urgência de melhores rodovias está por toda a região
Enquanto os moradores da Serra não vislumbram a implantação de modais mais eficientes, as esperanças se depositam nas melhorias das estradas para dar conta do transporte de cargas, dos moradores e dos turistas. Não por acaso, o investimento rodoviário foi apontado como prioridade número um por todas as entidades ouvidas pelo Pioneiro e pelo poder público. E as demandas não são apenas para melhorias nas condições e na duplicação, casos da ERS-122 e da RSC-453, por exemplo (veja quadro nas páginas 12 e 13). Há situações em que ainda é necessário concluir estradas para dar acesso digno a moradores.
– As rodovias garantem o primeiro passo para que outros serviços se desenvolvam. Hoje, para ir da sede de São Francisco de Paula até o distrito de Cazuza Ferreira é praticamente o mesmo tempo que ir de São Francisco de Paula a Porto Alegre. Se alguém tiver problema de saúde, de segurança ou precisar dos bombeiros, torna-se inviável – observa Leonardo Beroltd, presidente do Corede Hortênsias.
A região também aguarda a conclusão da RS-020, entre Cambará do Sul e São José dos Ausentes, que poderia impulsionar o turismo na região dos cânions. Já o asfaltamento da ERS-476 e da ERS-110, esta última em 22 quilômetros, facilitará o deslocamento de Canela e São Francisco de Paula, respectivamente, para Bom Jesus.
Já para o Corede Campos de Cima da Serra, a prioridade está na conclusão da BR-285, entre Ausentes e a divisa com Santa Catarina. Faltam apenas oito quilômetro no lado gaúcho, que estão com obras paralisadas. No lado catarinense, as obras estão em andamento para que se crie uma ligação asfaltada com a BR-101, em Araranguá.
– A conclusão da BR-285 vai permitir prospectar todo o turismo e também escoar grãos e frutas. São os oito quilômetros do lado do Rio Grande do Sul que vão faltar para conectar o Oceano Atlântico ao Pacífico – lembra Alessandro Dalla Santa, presidente do Corede Campos de Cima da Serra.
Essa demanda deve começar a ser resolvida em breve. Já estão reservados R$ 1,204 milhão no orçamento da União, via emendas parlamentares. Os recursos são bem inferiores aos R$ 30 milhões obtidos inicialmente e ainda menos que os R$ 80 milhões que o Corede diz ser o orçamento previsto, mas já permitem licitar e começar a obra.
Embora ocorram alguns avanços pontuais, a avaliação das principais entidades da Serra é que os investimentos não ocorrem no ritmo necessário.
– Nossa representação política é pequena dada a importância da Serra. Tem que ter representatividade. Só a força econômica até agora não resolveu nossos problemas, tem que ter força política também – defende o presidente da Amesne, Waldemar De Carli (MDB).