Caxias do Sul conhecerá na noite deste sábado a rainha e as duas princesas da 32ª Festa da Uva, em evento que reunirá cerca de 5,5 mil pessoas nos Pavilhões. Será um público reduzido quando comparado às últimas edições – principalmente em razão de limitações de segurança –, mas que revela que a mobilização da comunidade ainda persiste passados 85 anos da eleição da primeira soberana, Adélia Eberle.
Desta vez, 11 jurados serão responsáveis por escolher as três principais representantes do evento, que terão papel de divulgação e representatividade. Na manhã de sexta-feira, os integrantes do júri se concentraram em um hotel e adiantaram um pouco do que esperam da nova rainha.
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De acordo com eles, a substituta de Rafaelle Galiotto Furlan deve saber a história da cidade e lembrar das raízes imigrantes e trabalhadoras de Caxias. E mais do que isso. Deve saber se posicionar e mostrar sua personalidade. Por isso, a próxima rainha da Festa da Uva precisa entender o momento de representatividade feminina que o país vive e deseja. Há, inclusive, um exemplo importante já nesta edição de liderança feminina: é a primeira vez que uma mulher – Sandra Randon – presidente o evento.
– Eu acredito que hoje, além de escolher uma mulher que represente a tradição da Festa da Uva, busco uma mulher moderna, que consiga expressar a essência da Festa, além de ter personalidade. Ela também não deve ter medo de falar sobre assuntos mais polêmicos – opina a jurada Marthina Brandt, Miss Brasil 2015.
Só uma será rainha
Dezessete candidatas disputam a coroa de rainha e as duas tiaras de princesa. Portanto, apenas três meninas sairão plenamente satisfeitas da coroação, com a sensação de vitória. As outras 14 seguirão na próxima semana no papel de embaixatrizes, título criado para valorizar e integrar as candidatas que passam meses se preparando para o concurso mas não integram a corte.
Desta maneira, todas vivem e são incluídas na Festa da Uva, ainda que a sensação de frustração diante da perda seja considerada normal, garante a coordenadora do Instituto Luspe, psicóloga Ana Paula Reis da Costa, que aborda luto, separação e perdas.
– É um processo evolutivo que resulta, também, na frustração quando não vem de acordo com o investido. Há sintomas relacionados ao luto, desde sensações de interrogação, de "será que fiz o suficiente" ou "o que mais poderia ter feito?"– avalia Ana Paula.
Além disso, o questionamento se o concurso teve resultado justo também costuma aparecer entre as garotas. Em 2011, as candidatas chegaram a acionar a justiça para questionar notas e reivindicar mudanças na escolha. Por isso, a transparência da equipe do concurso e o reforço da família neste momento podem facilitar esse processo.
– A comissão precisa dar o máximo de respostas para as meninas compreenderem quando a coroa não chegar até elas. É tão parte do processo de um concurso perder que, se fôssemos a fundo, veríamos que o questionamento, a culpa e as dúvidas são normais – explica.
Eu não perdi a Festa da Uva, só não ganhei o título
"Na Festa da Uva ninguém perde, todos ganham". A frase é repetida por profissionais que atuam na organização do evento, bem como pelo atual trio, Rafaelle Galiotto Furlan, Laura Denardi Fritz e Patrícia Piccoli Zanrosso. As gurias concorreram com outras 17 candidatas e foram eleitas na noite de 5 de setembro.
– A gente sabe que o trabalho das embaixatrizes é tão importante quanto do trio, e a gente sabe que algumas delas se esforçaram para nos ajudar, e continuar a missão de divulgar a festa – lembra Rafaelle.
Os ganhos que a Festa da Uva traz são maiores que o título de rainha ou princesas, afirma a jornalista e analista de marketing Joice Zulian. Ela concorreu, ao lado de 30 meninas, em 2006. Com um número tão expressivo de candidatas, a saída menos dolorosa foi reduzir expectativas, mas é sabido que diante de um momento de tanta emoção, essa é uma estratégia difícil de aplicar. Mas se engana quem pensa que Joice aproveitou menos a Festa da Uva daquele ano por não estar na corte.
Ela visitou os Pavilhões diariamente, posou para fotos, recebeu abraços da comunidade e chegou a ser chamada de rainha por turistas que se encantavam com a espontaneidade e amor da jovem pela Festa da Uva. Com o concurso, Joice conta que conseguiu a superar a timidez e também a formar uma importante rede de contatos, úteis até os dias de hoje.
– O domingo é triste, mas passa. Durante a Festa da Uva, tu acaba representando tanto quanto rainhas e princesas. Teve, é claro, meninas que não aceitaram o resultado, mas o júri é soberano e sabe o que faz. Eu costumo dizer que não perdi a Festa da Uva, só não ganhei o título – defende Joice.
Candidata em 1986, Marta Michelon não se arrepende um único instante de ter concorrido a rainha. Desfilou em traje de gala no Recreio da Juventude, e tem registrado estes momentos até hoje em um álbum. Os conhecimentos sobre a cidade, sobre etiqueta social, o fato de interagir
com autoridades e até mesmo de poder desfilar no corso alegórico só lhe trouxeram boas memórias.
– Me chamavam de rainha nos Pavilhões, tanto eu quanto as outras gurias. Nós divertimos muito porque fui valorizada, prestigiada, querida pela comunidade. O ganho pessoal que adquirimos ao concorrer é impagável – descreve Marta, que ainda se encontra em jantares com as embaixatrizes da época que concorreu.