Apesar da confissão do investigado, preso no começo da tarde desta quarta-feira, em Caxias do Sul, o delegado que conduz o inquérito sobre o desaparecimento de Naiara Soares Gomes, sete anos, mantém a cautela em relação ao que se sabe até o momento sobre os fatos que transcorreram após o rapto da menina. O delegado Caio Márcio Fernandes aguarda a chegada do laudo da necropsia, por parte do Departamento Médico-Legal (DML) para determinar a causa da morte e o abuso sexual. Já a comprovação de que o homem deu bebida alcoólica para a menina pode ser dificultada em função das condições em que o corpo se encontrava quando localizado, 13 dias depois da morte.
– Em um caso de abuso sexual em que não pudesse ser feita perícia, a palavra da vítima vale. Não é o caso. Não temos a palavra da vítima. Teria a palavra de uma testemunha. Não temos testemunha. Resta-nos a prova técnica porque a confissão, por si só, não é elemento probatório suficiente – explana.
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Segundo o delegado, foram apreendidos diversos objetos dentro da casa do autor confesso do crime que podem corroborar com o que narrou a vítima anterior a Naiara, a menina estuprada em outubro do ano passado. Entre eles, um, em específico, estabeleceu a ligação do homem com a vítima. À época, a garota que tinha oito anos foi levada, conforme relato do investigado à polícia, para a mesma casa. Na noite da última terça-feira, ao reconhecer na imagem mostrada pela polícia o seu algoz, a menina deu detalhes sobre o quarto em que foi estuprada. Mesmo local onde Naiara também sofreu abuso e foi morta.
_ Quando a família tomou ciência do desaparecimento dela, ela já havia falecido _ disse o delegado Caio Márcio Fernandes, referindo que a menina morreu durante o estupro.
No dia seguinte ao reconhecimento, ao entrar no quarto, o delegado deparou com um dos objetos descrito com detalhes pela vítima – um quadro com características bem específicas.
As coisas recolhidas na casa passarão por análise. Em princípio, conforme o delegado, não pertenciam a Naiara nem tão pouco à vítima anterior. A investigação ainda vai apurar se eram os objetos utilizados para atrair as crianças. O Palio já foi periciado, mas passará por nova análise nos próximos dias.
Sobre o comportamento do investigado durante as mais de três horas de depoimento, colhido ainda na noite de quarta-feira, o delegado o caracterizou como "um cara bastante fechado e frio, uma pessoa que não se emociona muito" e que, em princípio, não demonstrou arrependimento.
Nome não divulgado
Os inúmeros boatos e informações falsas que rodearam o Caso Naiara levaram a Polícia Civil a blindar a investigação. O acordo de não repassar qualquer informação sobre a investigação era evidente na fisionomia dos policiais envolvidos e ficou ainda mais forte na quarta-feira, dia da prisão. Assim, o nome do preso temporariamente, em nenhum momento, foi divulgado oficialmente pela Polícia Civil.
A justificativa da Polícia Civil é que a prisão é temporária e há temor de que a comoção popular resulte em outro crime. Mesmo que não existam dúvidas sobre a autoria do crime, juridicamente esta ainda é considerada uma fase preliminar das investigações.