Ao chegar ao sexto dia de investigação, o delegado que conduz o caso do desaparecimento de Naiara Soares Gomes, 7 anos, falou sobre as possibilidades que estão sendo apuradas. Caio Márcio Fernandes, titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), evita falar em números, mas diz que mais de 20 pessoas já foram ouvidas, entre entrevistas feitas durante as diligências e depoimentos oficiais. Além disso, a equipe fez uma varredura em todas as casas e estabelecimentos comerciais que ficam na Rua Júlio Calegari, no trecho entre a Rua José Bernardi e a Pixinguinha em buscas de câmeras de monitoramento. Todos os locais que tem os equipamentos cederam imagens que já foram analisadas.
O último local conhecido em que ela aparece nas filmagens é em frente a uma empresa 70 metros adiante do ponto, onde, até ontem, se sabia, ela havia cruzado no outro lado da via. A menina atravessa a rua em frente a empresa, às 7h10min, e segue caminhando tranquilamente pela calçada até sair do enquadramento, às 7h11min. Pelo menos mais uma casa, adiante, no mesmo lado da via, e um estabelecimento, no outro lado da rua, têm câmeras. Mas a polícia pediu sigilo aos moradores sobre as imagens. Conforme a polícia, nesse trecho, a menina desapareceu.
Na segunda-feira, o delegado confirmou ao Pioneiro que imagens mostram um carro branco fazendo uma manobra suspeita na esquina da Júlio Calegari com a Mozart Perpétuo Monteiro no mesmo horário em que a garota passava por ali, e que essa é a principal linha de investigação. Ontem, o delegado explicou que não há imagem conclusiva sobre o fato, ou seja, que mostre a criança entrando em um veículo. Ele também levanta a possibilidade de existirem outros veículos investigados. Mas, diz que não há imagens conclusivas sobre eles.
Na tarde de ontem, conversando com empresários das redondezas, o Pioneiro descobriu que o perímetro investigado está menor do que em dias anteriores. Do ponto mais avançado onde ela foi filmada, em frente a empresa, até a Rua Pixinguinha, onde ela já não aparece nas filmagens e deveria ter entrado para ir à Escola Municipal Renato João Cesa, são 300 metros.
– Temos um período entre duas câmeras e ela some entre esse trajeto (da Rua Marcelino Ramos até Rua Pixinguinha) – diz o delegado.
As diligências até o momento consistiram em buscas de câmeras e análise de imagens, entrevistas, coleta de depoimentos, reformulação de trajetos feitos, possibilidade de outros trajetos, eventuais rotas a partir do último ponto em que ela foi vista e diligências em outras cidades para verificar informações que chegam.
DÚVIDAS SOBRE O CASO E O QUE SE SABE ATÉ AGORA
1) A menina foi levada por algum familiar?
No sábado, buscas foram realizadas em Vacaria, onde mora a mãe de Naiara _ a criança vive com uma tia no bairro Monte Carmelo, em Caxias. Investigadores não identificaram nenhum indício contra ela, descartando a suspeita.
2) A menina fugiu de casa?
A hipótese está descartada. A menina não possuía histórico neste sentido e as imagens de câmeras de monitoramento mostram que ela realmente estava a caminho da escola.
3) O primo está envolvido com o sumiço?
O adolescente de 15 anos era o responsável por levar a menina para a escola, mas deixou-a a uma quadra de casa para esperar a namorada no dia do sumiço. Acompanhou a adolescente até a escola que ela frequenta e foi para a aula. Não há qualquer indício contra o adolescente.
4) A menina foi raptada?
Essa é a possibilidade mais forte. A trama comum, nesses casos, é que alguém teria convencido a criança a entrar em um carro oferecendo doces ou carona. Se a garota embarcou de boa vontade, é possível que ninguém tenha notado a movimentação. Se houve um rapto, o que autor pretendia fazer com a menina ainda é um mistério.
5) Se houve um rapto, onde ocorreu?
Uma das hipóteses é que a abordagem tenha ocorrido na Rua Júlio Calegari entre a Rua Marcelino Ramos e a Rua Pixinguinha. Essa última seria o caminho normal de Naiara para a Escola Municipal Renato João Cesa, no bairro São Caetano, mas ela não aparece nas imagens de câmeras desta rua.
6) Quem raptou a menina?
Este é o grande mistério da investigação. A Polícia Civil não encontrou nenhum motivo ou suspeito do rapto. A equipe de investigação monitora criminosos com perfil de abusar de crianças, mas nenhum deles teve relação estabelecida com o caso de Nayara até agora. Em 2014, um homem foi preso após cometer crimes semelhantes na região do Esplanada. Ele visualizava crianças sozinhas, as convidava para entrar no carro e, então, abusava delas. Esse homem continua recolhido no sistema penitenciário.
7) A menina foi levada por um carro branco?
A tese é a principal linha de investigação da polícia. Os investigadores localizaram imagens de um veículo com estas características manobrando de forma suspeita. Apesar da menina não aparecer nas imagens, o horário e o endereço da filmagem coincidem com o trajeto que Nayara fazia para ir até a escola, na sexta-feira. A suspeita sobre o carro branco surgiu no relato de duas testemunhas, que apontaram ter visto a menina próximo a um veículo com estas características na Rua Júlio Calegari. As imagens conseguidas pela Polícia Civil são próximas da esquina da Julio Calegari com a Mozart Perpétuo Monteiro. Inclusive, esta rua é considerada como a rota de fuga no possível rapto.
8) É possível que ela esteja em um cativeiro?
É possível, apesar de ser difícil manter um cativeiro por tantos dias em um caso de repercussão como este sem despertar desconfiança de moradores do entorno.
9) A menina pode ter sido levada para outra cidade?
Sim. A polícia investiga informações que chegam de outros municípios da região.